O suspeito pode perder o registro profissional
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) informou, nesta quarta-feira (16), que abriu uma investigação para apurar a conduta do criminalista baiano João Neto. O também influenciador digital aparece em uma série de vídeos, gravados por câmeras de segurança, agredindo a própria companheira. O incidente aconteceu no apartamento onde ele e a vítima moravam, em Maceió, capital do estado de Alagoas. O caso ganhou repercussão nacional, após a divulgação das imagens.
Preso em flagrante, na noite da última segunda-feira (14), o advogado, de 47 anos, teve a prisão preventiva decretada durante a audiência de custódia, na terça-feira (15). Ele nega as acusações. A Polícia Civil da Bahia (PCBA), no entanto, declarou que as provas ajuntadas, até aqui, não deixam dúvidas do fato.
Por meio de nota, a seção baiana da OAB disse que se juntou à
de Alagoas, no processo de apuração da conduta do advogado. "A OAB Bahia e seu Tribunal de Ética e
Disciplina (TED) informam que, muito embora não comentem procedimentos
disciplinares em curso, em razão do sigilo que legalmente recai sobre tais
processos, à luz dos fatos de amplo conhecimento público ocorridos na última
segunda-feira, estabeleceram contato com a OAB Alagoas e seu Tribunal de Ética
e Disciplina, com o objetivo de obter informações formais sobre o ocorrido”,
destacou a entidade.
Além disso, salientou que, “a
partir desse diálogo institucional, o TED da OAB-BA buscará estabelecer uma
conduta coordenada com o TED da OAB-AL, visando à apuração rigorosa dos fatos,
com absoluto respeito ao devido processo legal, à ampla defesa e ao
contraditório, conforme garantido pela Constituição Federal”.
No documento, a OAB também manifestou "o mais veemente
repúdio" a toda e qualquer forma de violência praticada contra mulheres e afirmou
que João Neto pode perder o registro profissional, caso as denúncias sejam confirmadas.
“A OAB Bahia e seu Tribunal de Ética
reiteram o mais veemente repúdio a toda e qualquer forma de violência praticada
contra mulheres. Ademais, quando tais condutas são atribuídas a advogados ou
advogadas, podem ensejar a apuração de inidoneidade moral e, se confirmadas, a
exclusão dos quadros da Ordem, nos termos da Súmula 09/2019/COP do Conselho
Federal da OAB”, advertiu.
Para a OAB, a ética deve balizar a
conduta dos seus associados. “Ao reforçar seu compromisso com a ética, a
dignidade da advocacia e os direitos fundamentais da pessoa humana, a OAB-BA e
seu TED reafirmam o princípio de que a ética valoriza a advocacia e é
instrumento essencial para a proteção da sociedade e do prestígio da
classe", ressaltou.
Vídeos – De acordo
com a Polícia Civil, João
Neto aparece agredindo a
companheira não apenas nos dois vídeos que vieram a público, mas também em
outras imagens gravadas pelas câmeras de segurança do edifício onde o casal
reside.
O mais recente foi divulgado pela própria defesa do acusado, nesta quarta-feira (16),
com o intuito de sustentar a versão de que não houve agressão e que o corte no rosto
da vítima foi acidental.
A delegada Ana Luiza Nogueira, que investiga o caso, porém,
disse que as imagens comprovam o relato que a vítima deu, em depoimento. "Já tivemos acesso a todos os vídeos e
eles só corroboram o que foi dito pela vítima. Na verdade, são vários vídeos e,
juntando todos, mostra que, realmente, houve violência doméstica", apontou.
Conforme a autoridade policial, a gravação divulgada pela
defesa deixa claro que a mulher do advogado se agarra às paredes, no intuito de
não ser posta para fora de casa. Também que os empurrões continuam até a vítima
ser jogada no chão. A jovem, de 25 anos, não teve o nome divulgado.
No momento da agressão, um funcionário do condomínio passa
pelo corredor e vê a cena, mas não interfere. Outro vídeo mostra o episódio a
partir de um ângulo diferente. Neste, a vítima aparece na porta do apartamento.
Também dá para ver muito sangue no chão do corredor, Na sequência, o influenciador
tenta tapar o rosto da mulher com um lenço, aparentemente, de forma agressiva.
Após a agressão, a vítima foi socorrida para um hospital
particular de Maceió e precisou levar três pontos no queixo. À polícia, ela
contou que se mudou de Arapiraca, no interior de Alagoas, para a capital do
estado, a fim de morar no apartamento do advogado.
A mulher disse, ainda, que os dois
mantêm um relacionamento afetivo há cerca de dois anos e que já havia sido agredida
pelo companheiro, em ocasião anterior. Ela afirmou que, em outubro de 2024, foi ferida na cabeça e
também precisou ser levada a um hospital.
O ACUSADO – O advogado João Neto costumava se apresentar, nas redes sociais, como mestre em Ciências Criminais e ex-policial militar, segundo ele, com atuação na Bahia.
Sobre a sua ligação com a corporação responsável pela Segurança Pública do estado, a Polícia Militar da Bahia (PMBA) destacou que o suspeito foi desligado há 15 anos, enquanto ainda realizava o curso de formação de soldados.
A PMBA também salientou que, como foi desligado antes de
concluir a etapa de formação, João Neto sequer chegou a trabalhar nas ruas,
como policial militar.
Em suas postagens nas redes sociais, o advogado usa o bordão
"no coco e no relógio", expressão que, segundo o blog Qual
é a gíria?, significa realizar
disparos de arma de fogo em um indivíduo, acertando a cabeça (coco) e o coração
(relógio). A frase se popularizou como criação do jurista.