São interessantes os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE, sobre a forma como os brasileiros se deslocam para o trabalho. Além de informações agregadas em níveis nacional e estadual, há a desagregação por município. Os números sobre a Feira de Santana são excelentes para entender como funciona a dinâmica do transporte na cidade e oferecem pistas sobre o que pode ser melhorado.
Com relação aos números, não deixa de ser surpreendente que 16,27% dos feirenses vão a pé e 8,96% de bicicleta para o trabalho. Ou seja: quase um quarto da força de trabalho não recorre a meios de transporte motorizados. Também não é pequeno o número dos que vão de motocicleta: 17,51%.
A forma imbatível, no entanto, é o automóvel: nada menos que 29,75% dos feirenses se deslocam de automóvel para o trabalho. É muito mais que os ônibus que circulam pela cidade, que conduzem 18,45% da população. Os demais modais podem ser considerados irrelevantes estatisticamente. É o caso de vans, peruas e assemelhados (3,56%), do mototáxi (1,45%), táxi ou assemelhados (1,23%).
À primeira vista, os números trazem muito mais perguntas que respostas. O que explica tanta gente se deslocando a pé ou de bicicleta? Será falta de dinheiro para pegar condução? Proximidade do local de trabalho? Trabalho remoto, feito em casa? As respostas dependem de investigação mais profunda.
A malha urbana feirense mudou muito, com intensa migração para fora do Anel de Contorno nas últimas décadas. Diversas oportunidades de trabalho surgiram nestas localidades, mas mesmo assim muitos postos de trabalho se concentram no centro da cidade, espaço mais dinâmico da economia feirense. Entender o que está se passando é central para aprimorar políticas de transporte público.
Os números mostram que o transporte público não ocupa a centralidade na locomoção dos feirenses. Muitos recorrem aos automóveis e às motos, sobra gente a pé ou até de bicicleta. O que explica que menos de 20% da população utilize o transporte público? Talvez o valor da tarifa, o estado precário de conservação dos ônibus e a escassez de veículos.
De qualquer maneira, as informações oferecem oportunidades de aprimorar os serviços, orientar a ocupação do espaço urbano e contribuir para tornar a Feira de Santana mais competitiva. Sim, competitiva. Sem qualidade nos transportes - trânsito engarrafado causa prejuízos econômicos e perda de tempo - os custos se elevam e a competitividade, por consequência, cai. Empresas preferem se implantar em cidades que lhes ofereçam condições de competir.
Discutir o tema e buscar soluções é positivo para a Feira de Santana que caminha, célere, para o seu bicentenário…
Antigamente, acompanhar o noticiário sobre o futebol era mais prazeroso. As informações eram mais precisas, as análises tinham mais qualidade e os veículos de comunicação costumavam oferecer uma visão abrangente do cenário esportivo. Jornais impressos, programas de tevês e rádio disponibilizavam um noticiário amplo, ninguém precisava ziguezaguear pelos labirintos digitais em busca de informações incertas e, muitas vezes, incorretas.
Sem os canais fechados, a transmissão de jogos pela tevê restringia-se a poucas partidas. Mas havia o rádio, que aproximava o torcedor dos seus times de futebol. À época, a Bahia era reconhecida pela qualidade dos seus cronistas esportivos. Narradores, repórteres e comentaristas traduziam o clima do jogo para quem acompanhava à distância, ouvido colado no aparelho de rádio.
Lembro da elegância e da sobriedade de Armando Oliveira, o melhor comentarista esportivo da Bahia. Ouvi-lo despertava a imaginação, sua voz transportava o ouvinte para as arquibancadas. Na Feira de Santana ouvi muito também Valdomiro Silva e Zadir Marques Porto, dois dos excelentes profissionais do rádio esportivo feirense.
“Mas por quê essas recordações?”, indagará alguém. É que, para quem viveu outras épocas, é sofrido acompanhar a cobertura esportiva hoje. Nem tanto pelo que os times apresentam em campo, mas mais pela abordagem de parte da imprensa. Estatísticas, estatísticas e mais estatísticas atordoam o desarvorado torcedor. Para quê tanto número? Talvez para induzir às apostas.
Com a bola rolando no futebol, chovem clichês. Como relatar - com detalhes - como os técnicos estão se comportando à beira do campo. Estão agitados, apáticos, indiferentes, nervosos, esbravejando, xingando? Repórteres observam isso, mas ignoram o que dizem, como orientam seus times, o que se passa em campo…
É desanimador. Sei que, na selva digital, é necessário permanecer à tona, amealhando curtidas e visualizações. Como tudo se molda, hoje, ao senso comum, ignora-se o conteúdo e mergulha-se - termo novo! - na “lacração”. É o que viabiliza muitos canais nas plataformas e que vem sendo absorvido pelos veículos tradicionais de comunicação, sem muita reflexão.
Encerrando, é necessário mencionar a histeria que, hoje, perpassa todas as dimensões da vida. Começou pela política, misturou-se à religião, à economia, enfim, a toda a vida em sociedade. Obviamente, chegou também ao esporte, com comentaristas iracundos e seus textos definitivos nas mídias sociais. Mas é melhor parar por aqui, antes que o texto comece a parecer demais com um destes comentários…
Conforme mencionado em texto anterior, hoje a Feira de Santana completa 192 anos de emancipação. Data de muitos rapapés e solenidades. Data, também, de muitos renovarem as cobranças por uma universidade federal para a Princesa do Sertão. Talvez fique maçante, mas é bom resgatar uma informação do texto anterior: por aqui já existe uma universidade pública – a Uefs -, um campus avançado da UFRB e diversas faculdades particulares. Até pode não ser o ideal, mas o município indiscutivelmente constitui um dinâmico polo de educação superior na Bahia.
O que deveria preocupar a Feira de Santana é a educação básica. Não é preciso ser pedagogo ou professor para saber que a educação básica é o alicerce da sociedade, o suporte para todo progresso civilizatório. Anteriormente, apresentamos informações sobre o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, o Ideb, para as séries iniciais. Como se viu, o cenário não é bom.
Para os anos finais o cenário também não é dos mais empolgantes. Nesta etapa, a oferta se divide entre as esferas municipal e estadual. No âmbito da oferta estadual, a nota em 2023 foi 4, o que coloca o município na 15ª posição em nível estadual e numa modestíssima 3228ª no Brasil. Há 20 anos, em 2005, a nota era 2,7 e as posições nos níveis estadual e nacional, por sua vez, eram 122ª e 3576ª, respectivamente.
A oferta das séries finais da educação básica na rede municipal tem avaliação pior no Ideb em termos absolutos no ano de 2023: 3,5, meio ponto a menos que na rede estadual. Isso se reflete nas distantes posições em nível de Bahia (286ª) e de Brasil (2863ª). Em 2005 a nota da rede municipal não era tão mais baixa no Ideb: 2,8, o que mostra que não houve muita evolução. Nos rankings local e nacional, respectivamente, a Feira de Santana ocupava a 75ª e 1371ª colocações.
A comparação dos cenários mostra uma curiosidade: o serviço oferecido pela rede estadual é melhor que o do município em termos absolutos e relativos na Bahia, mas inferior na comparação com outros estados. E o município, embora tenha nota inferior, está relativamente melhor posicionado na comparação com os demais municípios brasileiros. É bom reiterar, porém, que a situação não é nada confortável.
Planejar implica em estabelecer prioridades. Talvez o momento seja o de fortalecer a educação básica, garantindo uma formação de qualidade às crianças e adolescentes na rede pública feirense. Caso qualificada, a juventude local estará devidamente capacitada para ascender à educação superior. Também estará em condições melhores para ingressar no mercado de trabalho, contribuindo para a geração de riqueza na Princesa do Sertão.
Mas cada segmento da população – político e empresarial, entre eles – tem lá suas prioridades. Estas não necessariamente coincidem com as reais necessidades da população. Como as decisões não são baseadas em critérios técnicos, mas políticos, as prioridades se invertem. Enfim, é melhor parar por aqui, o texto está ficando comprido, virando discurso.
Melhor parar e correr para participar das festivas solenidades pelos 192 anos de emancipação da Feira de Santana...
Amanhã a Feira de Santana completa 192 anos. Quase bicentenária, – chegará na data redonda no começo da próxima década – a cidade contará com uma ampla programação para marcar a data. Missa, sessão solene do Legislativo, entrega de comenda, visita a casarão histórico e ponto facultativo para o funcionalismo. As celebrações, aliás, começaram com festiva sessão especial em Brasília, na Câmara dos Deputados.
Os potentados políticos e empresariais locais estão em Brasília. Há uma pauta abrangente, ambiciosa, a ser apresentada aos mandatários do Planalto Central. Entre os itens estão a ampliação e o funcionamento do aeroporto, a requalificação do centro da cidade e a implantação de uma Ceasa fora do perímetro urbano. Há – refulgente! - outra requisição: a implantação da tão sonhada Universidade Federal de Feira de Santana.
Todas estas pretensões são meritórias, elogiáveis. Sem dúvida, ornam com a cidade que flerta com o seu bicentenário. Mas o rol de necessidades da Princesa do Sertão não se esgota aí. Há uma série de carências que afetam mais diretamente a vida da população, sobretudo na saúde e na educação. Deveriam ser priorizadas.
Será bonito ver a Feira de Santana brilhando com duas universidades públicas, a Uefs e uma nova instituição federal. Isso sem mencionar as faculdades privadas que alargam o mercado aqui na Princesa do Sertão. Mas é necessário também – essencial – olhar para a base, para as séries iniciais da educação, sobretudo no sistema público.
Hoje a Feira de Santana não tem muito do que se orgulhar. Basta conferir os números recentes do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, o Ideb. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) disponibiliza essas informações para os anos recentes.
No anos iniciais do Ensino Fundamental, na rede municipal, o desempenho não anima. A nota em 2023 foi 4,4, bem longe de Licínio de Almeida (7,8) e de Itatim (7,7), as mais bem posicionadas. Entre os 417 municípios baianos a Princesa do Sertão ocupa uma modesta 316ª colocação. No cenário nacional o vexame é bem maior: apenas a 4795ª colocação. Pires Ferreira, no Ceará, é o município nota 10 no Ideb.
O IBGE disponibiliza também a nota do IDEB de 2005. Na época, a Feira de Santana ostentava nota inferior (2,8), mas posição relativa melhor: 127ª na Bahia e 3071ª no Brasil. Ou seja: a nota subiu, indiscutivelmente, neste longo intervalo. Mas centenas de municípios na Bahia e quase dois mil no Brasil obtiveram notas melhores.
O problema também é que o momento da Feira de Santana no exame não é bom. Em 2019 – pouco antes da pandemia – alcançou o melhor desempenho do histórico: 4,8, superando os 4,4 de dois anos antes, 2017. Só que, ao longo da pandemia e depois dela, a nota caiu e não retornou ao patamar anterior. Ou seja: a Princesa do Sertão regrediu em termos absolutos.
Já disse que é muito bonita a luta por uma universidade federal aqui na Feira de Santana. Bonita e evidente, implantar universidade costuma garantir grande visibilidade. É o oposto da educação nos anos iniciais da rede pública, que acontece em bairros pobres e periféricos, quase anonimamente. A questão é que os alicerces de qualquer sociedade próspera e moderna devem ser construídos exatamente nestes ambientes. De que adiantam pomposas universidades se das escolas públicas não sai gente em condição de cursá-las?
Infelizmente a discussão sobre a Feira de Santana em seu período natalício se resume às grandes obras. Não se fala dos mais pobres, nem de uma cidade mais inclusiva ou menos desigual, nem mais competitiva, com mão de obra qualificada. Os problemas não se esgotam nos anos iniciais, no entanto. Mas isso é assunto para um próximo texto...
Enquanto prossegue o pugilato midiático sobre a anistia aos golpistas do 8 de janeiro, o “Centrão” tenta tocar adiante sua famigerada reforma administrativa. De vez em quando, pipoca na imprensa uma proposta qualquer anunciada pelo relator: limitação dos supersalários, redução de férias do Poder Judiciário, avaliação de desempenho de servidores e por aí vai. Estão vindo à tona aquelas medidas pouco polêmicas, normalmente já muito repisadas.
O conteúdo integral da reforma, porém, ainda não apareceu lá na Câmara dos Deputados. Estabelecem-se prazos, que vão sendo prorrogados, sem muita clareza sobre o que se pretende. Tudo indica que desejam aprová-la no afogadilho, sem muito tempo para discussões ou contestações. Não é a primeira vez que manobra do gênero é tentada.
Há, contudo, empecilhos à frente. Um deles é a própria discussão da anistia de Jair Bolsonaro, o “mito”, e de seus acólitos. O assunto interditou o Congresso Nacional, que canaliza suas energias em busca de uma solução que favoreça a claque golpista. O segundo é que, aos poucos, o ano caminha para o final e, em 2026, acontecem eleições. Impopular, uma reforma administrativa tem menos chances de ser aprovada às vésperas das eleições.
Embora o conjunto da obra não tenha vindo à tona, não é difícil deduzir que Ongs financiadas por banqueiros e grandes empresários estão inspirando as propostas que são anunciadas a conta-gotas. Caso a reforma prospere, o Estado terá um funcionalismo com perfil de empregados de empresas privadas, por um lado; pelo outro, lembrarão trabalhadores do onguismo patronal. Engrossando o caldo, os cabos-eleitorais vinculados aos políticos.
Tudo é justificado, todavia, com as melhores intenções. É necessário garantir agilidade e eficiência ao serviço público; o foco deve ser nos resultados; os custos com o funcionalismo cairão; haverá uma métrica para avaliar desempenho e – suprema bondade! - estão previstos bônus por desempenho.
Enfim, o cardápio das sugestões é inspirado pelas Ongs do bilionário empresariado. É claro que, no Congresso Nacional, haverá um tempero adicional para favorecer indicações dos felizardos amigos dos políticos. Neste jogo de ganha-ganha entre empresários e políticos, perde o serviço público. E o povo brasileiro.