Um dia após Mark Zuckerberg, dono do grupo Meta, que controla o WhatsApp, o Instagram e o Facebook, anunciar que a checagem de conteúdo será abolida, tornando mais permissiva a moderação de postagens, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), declarou que a Corte “não vai permitir que as big techs, as redes sociais, continuem sendo instrumentalizadas, dolosa ou culposamente, ou ainda somente visando lucro, instrumentalizadas para ampliar discursos de ódio, nazismo, fascismo, misoginia, homofobia e discursos antidemocráticos”.
Para o magistrado, o respeito à legislação do país é
prerrogativa para a continuidade. “A nossa Justiça Eleitoral e o nosso Supremo
Tribunal Federal já demonstraram que, aqui, é uma terra que tem lei. As redes
sociais não são terras sem lei. No Brasil, só continuarão a operar se
respeitarem a legislação brasileira, independentemente de bravatas de
dirigentes irresponsáveis das big techs”, afirmou.
Em sua fala, Moraes refere-se ao fato de a rede social X,
pertencente ao magnata Elon Musk, ter ficado dois meses fora do ar, no Brasil,
por ter descumprido a ordem do STF de bloquear contas que apresentaram condutas
antidemocráticas, portanto, ilícitas. Para voltar a funcionar no país, o X foi
obrigado a pagar, em outubro de 2024, R$ 28,6 milhões de multa.
No ano passado, durante a corrida eleitoral nos Estados
Unidos, Musk se aproximou do, agora, presidente eleito Donald Trump. Com o
anúncio do relaxamento das ferramentas de controle e moderação de suas
plataformas, Zuckerberg sinaliza o mesmo interesse.
O dono da Meta declarou que trabalhará com Trump “para
pressionar os governos, ao redor do mundo, que estão perseguindo empresas
americanas e pressionando para censurar mais.”
Mark Zuckerberg insinuou, também, que países
latino-americanos têm “tribunais secretos que podem ordenar que empresas
retirem coisas discretamente”, em clara referência à Suprema Corte brasileira.
No entendimento de Alexandre de Moraes, relator dos
inquéritos sobre notícias falsas, milícias digitais e golpe de Estado no STF, o
país tem como desafio “não permitir que esses gigantes conglomerados, que são
as big techs, com seus dirigentes irresponsáveis, por achar que,
por terem dinheiro, podem mandar no mundo”, salientando a necessidade de “regulamentar,
responsabilizar”.
8 de janeiro – Para o ministro, a “grande causa” de
atos violentos e antidemocráticos, como o ocorrido no Brasil em 8 de janeiro de
2023, na Praça dos Três Poderes, em Brasília, é a disseminação de mentiras e a
mobilização de massa promovida pelas redes sociais.
Moraes enfatiza que “tudo isso surgiu a partir do momento que,
no mundo, não só no Brasil, extremistas e, principalmente extremistas de
direita, radicais de direita, se apoderaram das redes sociais para, nelas ou
com elas, instrumentalizarem as pessoas, no sentido de corroer a democracia por
dentro”.
O ministro declarou, ainda, que “o que esse novo populismo
extremista digital faz é corroer a democracia por dentro”. A declarações de
Alexandre de Moraes foram feitas durante a “roda de conversa” realizada no STF,
com o intuito de tratar da importância da democracia. O evento aconteceu no
início da tarde desta quarta-feira (8).
Na ocasião, o ministro Gilmar Mendes enfatizou que, “naquele
8 de janeiro, o extremismo e a intolerância atingiram seu ápice, quando uma
turba insana invadiu as sedes dos Três Poderes, em Brasília, incitada por ampla
mobilização nas redes sociais”.
Mendes defendeu o que chamou de “constitucionalismo digital”,
ou seja, o princípio legal que “consagra a proteção dos direitos fundamentais
na esfera digital e impõe às redes sociais um dever de cuidado quanto à disseminação
de conteúdos ilícitos.”
O magistrado observou, ainda, que “essa trajetória normativa
jamais poderá ser confundida com censura”, porque “não é censura”.
Gilmar Mendes acredita que o constitucionalismo digital
“representa não apenas uma evolução jurídica, mas constitui a pedra angular
sobre a qual se erige uma esfera digital democrática e pluralista, capaz de
harmonizar a liberdade de expressão com a responsabilidade social no ambiente
virtual”.
*Com informações da Agência Brasil.