Neste domingo (23), a Venezuela realiza a 2ª Consulta Popular
Nacional de 2024, nas 4,5 mil comunas do país. Isto apesar da contestada
reeleição do presidente Nicolás Maduro.
Comunas são novas formas de organização social e estão baseadas
na autogestão realizada pelos conselhos comunais, algo semelhante a uma assembleia
popular permanente, onde se reúnem moradores de um bairro ou de uma zona rural.
O presidente oficialmente reeleito, mas não reconhecido por
parte da nação venezuelana e por diversos países, dentre eles, os Estados
Unidos, argumenta que esse de pleito representa o modelo de democracia direta e
participativa que a Venezuela deseja construir.
Conforme Maduro, a Venezuela tem o seu próprio modelo de
democracia. Em entrevista a uma TV estatal, ele afirmou que o país não se
dobrará a interferências externas. “Estamos construindo-o. Não aceitamos imposições,
intervencionismos, nem ninguém que coloque as mãos sujas no nosso querido e
lindo país. A Venezuela tem Poder Popular”, declarou.
Na última semana, o governante demais lideranças de sua
gestão visitaram comunas em diversos estados, a fim de divulgar a eleição. Esta
é a segunda vez que votações dessa natureza são realizadas na Venezuela. A primeira
aconteceu em abril. A expectativa do presidente é que consultas desse tipo ocorram
a cada três meses.
Há diversos modelos de comunas, como, por exemplo, o de produção
agroindustrial, o de serviços e o de bancos populares. Estas foram criadas em 2010,
por meio de uma lei estabelecida pelo então presidente Hugo Chávez. Na ocasião,
o político afirmou: “as comunas devem ser o espaço onde vamos parir o socialismo
do século XXI”.
A título de comparação, a eleição que ocorre amanhã na
Venezuela se assemelha ao Orçamento Participativo no Brasil, quando a população
de cada comunidade elege os projetos que devem receber investimentos. Estes podem
ser relativos a uma quadra esportiva, a um centro comunitário ou até mesmo a uma
estação de bombeamento de água.
Carla Ferreira, professora de Serviço Social da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), destaca que a consulta popular, na Venezuela,
faz parte de um processo de participação direita, construído ao longo dos
últimos 20 anos.
A docente, que defendeu tese de doutorado sobre o processo
bolivariano no referido país, explica que “há um processo de radicalização da
democracia, com diversos mecanismos de participação popular direta em decisões
importantes, inclusive orçamentárias, que é o horror da elite venezuelana
acostumada, historicamente, a se locupletar com os royalties do petróleo”.
Já o professor Rodolfo Magallanes, do Instituto de Estudos
Políticos da Universidade Central de Venezuela (UCV), afirma que as comunas
buscam reconstituir as estruturas de base que apóiam o projeto da “Revolução
Bolivariana”. “Entendo que isso tem a ver com a reconstituição da estrutura, digamos,
de bases que sustentam o governo. Não espero que haja muita mobilização
popular, mas entendo que esta pode ser uma forma de reconstituir as suas bases
partidárias, as suas estruturas de base mais próximas das comunidades”, avalia.
União Comuneira – Cada comuna aprovou, por meio das assembleias comunais,
entre seis e sete projetos para serem votados. Um deles será escolhido e
financiado pelo governo.
O Ministério do Poder Popular para as Comunas salienta que as
eleições ocorrem em 4,5 mil comunas, agrupando 49 mil conselhos comunais com a
participação de, aproximadamente, 1,5 milhão de pessoas.
A União Comuneira, organização que reúne as comunas da
Venezuela, comemorou a 2ª Consulta Popular das organizações. “Liberdade é ter o
poder de decidir como e quando trazer melhorias à sua comunidade e isso só se
consegue através do poder popular e do governo revolucionário de Nicolás
Maduro, legado do Comandante Chávez”, considera a entidade.
Democracia – A consulta popular voltada a projetos nas comunas venezuelanas
acontece em meio às contestações da oposição e de países americanos e da União
Europeia. Estes cobram transparência do governo venezuelano e entendem que a reeleição
de Nicolas Maduro, apesar de proclamada pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE)
e ratificada pelo Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), não é válida, uma vez que
não foram apresentados os dados por mesa de votação.
A oposição acusa Maduro de fraude eleitoral e assegura que
seu candidato, Edmundo González Urrutia, venceu o pleito realizado no último
dia 28 de julho, com mais de 70% dos votos. Segundo os rivais do presidente
venezuelano, as atas que dão a vitória ao opositor do governante foram publicadas
por eles, na internet. A acusação desencadeou uma onda de protestos violentos
no país, que culminou em enfrentamentos entre manifestantes e forças de
segurança, mortes e centenas de prisões.
Frente ao impasse, o Ministério Público da Venezuela abriu
investigação contra os responsáveis por publicar na internet as supostas atas
da oposição, acusando-os de falsificação de documento, usurpação de
competências do Poder Eleitoral e “conspiração”.
*Com informações da Agência
Brasil.