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Saúde

Bebê vai completar 3 meses à espera de cirurgia pelo SUS

JULIANA VITAL - 06 de Março de 2015 | 18h 17

Criança ficou na UTI do Hospital da Mulher desde o nascimento

Bebê vai completar 3 meses à espera de cirurgia pelo SUS
Uma decisão judicial não foi suficiente para resolver a questão de Paulo Vítor. Até os remédios que o mantém vivo já abalam sua frágil saúde (foto Juliana Vital)

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A esperança da lavradora Sandra Nascimento Oliveira de 39 anos de levar seu pequeno Paulo Vítor para casa só não é maior que a luta dele para sobreviver. Ela que reside na fazenda Jacaré na zona rural de Ipecaetá, a cerca de 50 quilômetros de Feira de Santana, vem até o Hospital da Mulher pelo menos duas vezes na semana para visitá-lo.  Paulo Vítor está internado na UTI neonatal do hospital desde que nasceu. Há 80 dias espera por uma cirurgia de correção da transposição das grandes artérias do coração. Uma doença cardíaca grave que causa a falta de oxigenação no organismo podendo levar à morte.

De acordo com os médicos que acompanham o bebê no Hospital da Mulher, o estado de saúde dele é estável, porém grave. O que piora ainda mais a situação é que o tempo ideal para a realização desta cirurgia seria nos 30 primeiros dias de vida.

Para sobreviver, ele recebe uma medicação 24h por dia para garantir o funcionamento adequado do coração. Após quase três meses, várias veias do bebê foram perdidas por obstrução. "As veias cansam e causam obstrução. Quando isso acontece precisamos puncionar outra. Já perdemos as contas de quantas veias foram obstruídas e perdidas e não servirão mais. Segunda-feira ele perdeu uma veia na cabeça e agora está com o acesso em um dos pés. Se perdermos este, não sabemos o que faremos, pois estamos preservando as veias jugulares direita e esquerda para serem usadas na cirurgia", comenta uma das enfermeiras, que preferiu não se identificar.

Além disso, o uso prolongado do remédio é outro desafio. As sequelas do medicamento no organismo são irreversíveis. Vão desde lesões hepáticas, lesões e obstruções intestinais a efeitos colaterais como febre e até mesmo a possibilidade de convulsões.

O Hospital da Mulher já enviou cerca de 65 relatórios médicos para a central de regulação do estado solicitando a transferência urgente do bebê que a cada dia corre risco de morrer por não realizar o procedimento cirúrgico.  Também providenciou exames, inclusive que não são custeados pelo SUS, segundo Gilbert Lucas, diretora da Fundação Hospitalar, que administra o hospital municipal. Os exames complementaram os relatórios médicos, comprovando o diagnóstico e a necessidade urgente da cirurgia.

O Ministério Público Estadual entrou com uma ação contra o estado da Bahia, solicitando a transferência de Paulo Vítor para uma unidade da rede estadual ou mesmo nacional. A justiça concedeu uma liminar, impondo uma multa diária de 3 mil reais caso a determinação não fosse cumprida. "Fomos informados de que o estado recorreu do processo alegando que não tem vaga, ou seja não há leitos disponíveis até o momento. Disseram que "não podem tirar um para colocar outro", afirma Gilbert, que alerta para o risco do bebê morrer.

Enquanto isso, a mãe vive entre Feira e Ipecaetá. Como gasta em cada viagem cerca de R$ 50, tem semanas em que não consegue vir duas vezes como gostaria. "Os irmãos e a avó dele sofrem muito também e pedem que ele venha logo pra casa. Eu oro a Deus que ele me conceda esta bênção e que meu filho seja curado", sonha. Sandra é mãe de outras três crianças, com 14, 13 e 10 anos.

 

Problema causa deficiência de oxigênio no sangue

Transposição das grandes artérias é um raro e grave defeito cardíaco presente no nascimento (congênita), em que as duas principais artérias que saem do coração são invertidas. Isto muda a maneira como o sangue circula através do corpo, deixando uma carência de oxigênio no sangue que flui a partir do coração para o resto do corpo, o que provoca problemas graves e a morte, se não for logo tratado.

A cirurgia corretiva logo após o nascimento é o tratamento usual para a transposição das grandes artérias. A doença causa falta de ar, falta de apetite, ganho de peso e faz a pele ficar azulada (efeito conhecido como cianose).



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