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Política

Exonerado após chamar chef de cozinha de vagabunda, Fabio Vilas-Boas diz que honrou missão no cargo

04 de Agosto de 2021 | 12h 01
Exonerado após chamar chef de cozinha de vagabunda, Fabio Vilas-Boas diz que honrou missão no cargo
Foto: Reprodução

O ex-secretário de Saúde do Estado da Bahia, Fábio Vilas-Boas, exonerado a pedido, nesta terça-feira (3), após agredir a chef de cozinha Angeluci Figueiredo, chamando-a de "vagabunda", por mensagem de texto encaminhada via WhatsApp, gravou um vídeo despedindo-se do cargo. Na gravação, publicada, nesta quarta-feira (4), nas redes sociais, ele diz que "honrou missão" e que aprendeu muito com os servidores.

O ex-titular da Sesab não voltou a comentar a agressão, ocorrida no último domingo (1º), após encontrar o famoso restaurante Preta, comandado pela profissional, na Ilha dos Frades, fechado por recomendação da Capitania dos Portos, em função do mau tempo. Vilas-Boas, que apenas pediu desculpas, via Twitter, "pelos comentários inadequados" na segunda-feira (2), limitou-se, no vídeo, a falar sobre os investimentos na saúde pública e sobre o legado que deixa para a próxima gestão.

Ontem, o Governo do Estado anunciou que o cargo será ocupado, interinamente, pela subsecretária Tereza Paim e que o novo titular será apresentado nos próximos dias. "Considero que chegamos aqui, nesses seis anos e meio de governo, tendo avançado bastante na construção do sistema público de Saúde. Não só na assistência básica, mas também na assistência de média complexidade e na assistência hospitalar. Fizemos uma revolução na saúde pública, investimos bilhões de reais na construção de mais de 20 policlínicas regionais de saúde, 10 hospitais e mais de 36 unidades sendo reformadas, ampliadas e sendo modernizadas", enumerou o ex-gestor da Saúde.

O médico cardiologista, que comandava a pasta desde 1º de janeiro de 2015, destacou, ainda, que deixou diversos projetos em curso e uma secretaria ordenada. "Deixo para o meu sucessor uma secretaria organizada, unida, com projetos em andamento para serem lançados para os próximos quatro a seis anos", declarou, ao tempo em que agradeceu ao governador Rui Costa pelo convite para assumir a Sesab.

Ele também fez um agradecimento às pessoas que trabalharam na sua gestão. "Quero agradecer a todos os servidores da Secretaria Estadual de Saúde, que estiveram ao meu lado. São dezenas de pessoas que trabalharam diretamente comigo, foi um grande aprendizado e quero agradecer a cada uma dessas pessoas pelo que me ensinaram. Aprendi bastante, aqui na secretaria, e vou levar essa bagagem comigo. Deixo a eles todo o meu abraço, a minha estima e o meu respeito", frisou.

Sobre o exercício da função, Vilas-Boas disse que honrou a missão que lhe foi confiada. "Tenho a convicção de que, ao longo dos próximos anos da minha vida, nos encontraremos de novo, em outras oportunidades. Eu tenho a certeza de que soube honrar a missão que me foi confiada, soube honrar o nome da minha família e soube honrar à minha família e aos meus amigos. Considero, aqui, a minha missão cumprida", aferiu.

POSICIONAMENTO DO Governo - Ao G1, na manhã de ontem, o governo da Bahia disse que não se manifestaria sobre o ocorrido, mas voltou atrás e, por volta de meio-dia, emitiu uma nota, lamentando o episódio de violência verbal protagonizado pelo agente público. "Por meio da Secretaria de Comunicação, o governo do estado afirma lamentar o episódio, considera inadmissível qualquer tipo de agressão e manifesta total solidariedade à empresária Angeluci Figueiredo e a todas as mulheres", diz o documento.

Ameaça - Além do xingamento e de outras ofensas, o então secretário de Saúde ameaçou a chef de difamá-la na imprensa e no meio empresarial. "(...) Esqueça de me ver de novo aqui. E ainda paguei R$ 350 para desembarcar. (...) Amigo o caralho! Vagabunda", escreveu Vilas-Boas.

Após receber as mensagens, Ageluci escreveu uma longa mensagem, questionando a postura agressiva do ex-gestor. "Pergunto-lhe: o que autoriza uma autoridade, no exercício de uma função pública das mais relevantes do estado - a de secretário de Saúde do Estado da Bahia, e durante uma pandemia, o que torna a sua função sinhá (sic) mais responsável - chamar uma mulher de VAGABUNDA? O senhor admite algum senso de possibilidade de razoabilidade no seu gesto, no uso dessas palavras? E como se fosse insuficiente essa ofensa, o senhor me ameaça, de queixar-se a empresários e de me expor nos meios de comunicação, secretário", disse a empresária.

A chef defendeu-se das acusações feitas por Vilas-Boas e reiterou o motivo de força maior que levou ao fechamento do restaurante no domingo. "Os tempos mudaram, secretário: inexistem contextos que justifiquem essa relação de senhor e vassalo. Eu não sou vagabunda. Sou uma mulher digna, honrada, profissional, empresária, geradora de empregos e com uma árdua rotina de trabalho, física, inclusive, para realizar um sonho e um projeto de oferecer aos meus clientes um serviço de qualidade. Mas não de qualquer jeito: só quando as circunstâncias me permitem", reiterou, referindo-se à determinação da Capitania dos Portos, que, no mesmo dia, também recomendou a suspensão da travessia Salvador-Mar Grande.

MISOGINIA - Além disso, ela também identificou o posicionamento do médico como misógino, isto é, como fruto de ódio ou aversão às mulheres. "O senhor sabe o que é ser misógino, secretário? Sabemos que sim, o senhor sabe. Mas sabemos que nesse país ninguém é racista, ninguém é misógino. Aqui não há nunca vítimas, só vitimismo e mimimi, afinal devemos garantir que autoridades se sintam à vontade para sacar o telefone e chamar uma mulher de vagabunda, simplesmente porque pode, porque um desejo foi frustrado pelo tempo", argumentou.

A partir daí, Angeluci Figueiredo, mulher negra, passa a questionar se seu agressor faria o mesmo com um homem branco. "Vou reiterar a misoginia: o senhor chamaria de vagabundo um homem branco, dono de um restaurante, pelo fato de esse homem ter sido impedido de lhe atender num domingo de chuvas e ventos fortes? Fiquemos por aqui. O senhor sabe que não sou vagabunda, não sou irresponsável, não vivo de mesada de quem quer que seja e que, diferentemente do que o senhor me escreveu, eu preciso trabalhar. Felizmente, preciso e gosto muito do que faço. Não nasci ancorada por sobrenome tradicional e nunca exerci cargo público, esferas onde pessoas com esse perfil que me atribui volta e meia circulam na imprensa", retrucou.

A chef finalizou pedindo a Vilas-Boas que repensasse sua postura. "Reflita, secretário e serei generosa e didática: se for me expor na imprensa, envie às redações o print do monólogo ofensivo que direcionou a mim. Talvez esteja enganada, mas me parece que, caso me exponha, isso diz muito mais sobre o senhor do que sobre o meu caráter e sobre minha moralidade", ponderou.



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