O Ministério da Justiça anunciou mais de R$ 170 milhões em recursos para o Programa Município Mais Seguro, criado para fortalecer a segurança pública nos municípios por meio da valorização de suas guardas municipais enquanto parte integrante do Sistema Único de Segurança Pública (Susp). O programa foi detalhado nesta quarta-feira (22), em Brasília, pelo ministro Ricardo Lewandowski, da Justiça.
Estão previstos mais de R$ 170 milhões em recursos
relacionados ao programa apenas na primeira etapa. A maior parte deles (R$ 100
milhões) terá como destino o Projeto Nacional de Qualificação do Uso da Força,
para a disponibilização de “instrumentos de menor potencial ofensivo” como
espingardas e armas de incapacitação neuromuscular (que dão choque em seus
alvos), espargidores (líquidos como spray de pimenta) e coletes à prova
de bala.
Cerca de 65 milhões irão para o
Projeto Nacional de Polícia Comunitária. Os recursos serão voltados ao
aprimoramento da gestão da segurança pública municipal e ao fortalecimento das
guardas municipais ou metropolitanas. Para a capacitação dessas guardas serão
investidos cerca de R$ 5,7 milhões.
Atuação global – Durante a cerimônia de lançamento do
programa, no Ministério da Justiça, Lewandowski disse que as organizações
criminosas estão atuando de forma global, e que isso torna necessário, às
forças de segurança, uma atuação “holística, estruturante e inteligente” de
abrangência local, nacional e internacional.
Ao mesmo tempo, a atuação dessas forças tem de ir além da
força bruta, disse o ministro. “A tarefa de atacar o crime é complexa e fica
ainda mais complicada quando executada simplesmente mediante a força bruta e
mediante ações policiais, ainda que estas sejam claramente necessárias”,
esclareceu.
“É preciso aplicar a inteligência a esse combate. É preciso
fugir das soluções simples e pontuais, muitas vezes de caráter legislativo,
como aumento de penas e endurecimento de regimes prisionais”, acrescentou.
Ao reiterar que a criminalidade hoje não é mais local nem
nacional, e sim global, o ministro da Justiça disse que este é um fenômeno
pernicioso que, de certa maneira, se equipara ao terrorismo; às crises
econômicas; ao aquecimento climático; às guerras regionais e à corrida
armamentista.
Em sua avaliação, o programa vem em boa hora, após o Supremo
Tribunal Federal (STF) ter dado uma nova função para as guardas municipais,
deixando de ser uma guarda meramente patrimonial, passando a exercer o
policiamento urbano e comunitário. “Com esse programa, vamos avançar bastante a
sensação de segurança para os cidadãos”, enfatizou.
Capacitação
Para capacitar os profissionais das
guardas estão previstos cursos de formação integrados visando a prevenção da
violência e o uso qualificado e diferenciado da força.
Um deles é o de operador de polícia comunitária aplicada,
voltado especialmente à atuação preventiva e comunitária em territórios
vulneráveis. Um outro curso será o de atuação nas Patrulhas Maria da Penha,
voltado a um atendimento mais “capacitado, humanizado e articulado” a mulheres
em situação de violência.
Está também previsto um curso
nacional para uso diferenciado da força, visando a padronização de práticas
operacionais, “conforme diretrizes éticas e legais nacionais e internacionais”.
Macro e micro – Os desafios são muitos e só poderão
ser enfrentados por meio da integração de esforços, tanto em um contexto micro
como macro, observou Lewandowski ao se referir a parcerias que vão desde
estados e municípios até países e entidades internacionais como Europol e
Interpol.
Do ponto de vista nacional, Lewandowski disse não ser mais
possível que cada estado membro da federação faça o seu combate isoladamente.
“Por isso, enviamos ao Congresso Nacional uma peça
legislativa que certamente será melhorada pelos representantes da cidadania,
integrando as forças federais, estaduais e municipais para um combate
inteligente e integrado ao crime”, completou.
Municípios são estratégicos – Segundo o
Ministério da Justiça, os municípios são estratégicos para as ações preventivas
contra a violência e a criminalidade, em especial no caso de territórios mais
vulneráveis.
Nesse sentido, o Programa Município Mais Seguro consolida a
atuação local como “eixo essencial de uma política de segurança pública cidadã,
integrada e baseada em evidências”.
O Ministério da Justiça apresentou
uma lista de resultados esperados a partir da implementação do programa. Um
deles relaciona-se à qualificação e aperfeiçoamento de protocolos sobre uso da
força.
Valorização de profissionais – Estão também previstas medidas de
valorização dos guardas municipais, “com atenção especial à saúde
biopsicossocial dos profissionais”; e o fortalecimento dos municípios, no
planejamento e na gestão de uma segurança pública local com o Sistema Único de
Segurança Pública com apoio a ações locais, tanto preventivas como de
enfrentamento à violência e à criminalidade.
Ações integradas e de cooperação entre instituições de segurança
pública federal serão implementadas nos âmbitos estadual, distrital e
municipal.
Municipalismo – Presente no evento em que o programa
foi anunciado, o Ministro das Cidades, Jader Filho, disse que esta é mais uma
prova de que “não existe e não existiu um governo tão municipalista quanto o
governo do presidente Lula”.
“Esse programa é a prova disso. Ele [o município] é uma parte
fundamental, se nós queremos, de fato, enfrentar o problema da segurança
pública no Brasil, dando suporte a prefeitos e governadores na atuação daquilo
que vai chegar mais perto das pessoas”, argumentou.
“Agora, com infraestrutura, treinamento e equipamentos. Tenho
certeza de que vocês vão poder cuidar melhor dos cidadãos deste país”,
acrescentou, dirigindo-se aos prefeitos e secretários de segurança que
participaram do evento.
Secretário Nacional de Segurança Pública, Mário Sarrubbo
explicou que o Programa Município Mais Seguro foi lastreado a partir de
pesquisas, tanto com municípios como suas guardas. “Olhamos também para a saúde
mental dos integrantes das guardas municipais”, disse, ao destacar, também, que
será colocada em prática uma doutrina visando a qualificação de profissionais
para o adequado uso da força.
“Ao doarmos instrumentos e armas não letais estamos levando
às forças municipais um conceito de segurança pública republicana que é
eficiente e respeita os direitos humanos”, assegurou.
Editais – Uma chamada pública será feita pelo
Ministério da Justiça visando a seleção de projetos municipais. Para tanto,
estão previstos dois editais: um para apoiar a estruturação da gestão da
segurança pública municipal (R$ 15 milhões); e outro para o fortalecimento das
guardas municipais (R$ 50 milhões). Os recursos são do Fundo Nacional de
Segurança Pública.
“Os investimentos contemplam
projetos nas áreas de gestão, governança, equipamentos, tecnologia, capacitação
e valorização profissional”, informou a Secretaria Nacional de Segurança
Pública (Senasp).
Por fim, está prevista a divulgação de uma pesquisa nacional
que servirá de diagnóstico das guardas municipais – uma parceria entre Senasp,
Universidade Federal de Viçosa e Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD), com base em mais de 1,2 mil guardas civis.
“Os resultados subsidiarão a formulação de políticas públicas
e o fortalecimento da governança e da gestão municipal em segurança pública,
fomentando a cooperação entre União, estados e municípios”, informou o
Ministério da Justiça.
*Fonte: Agência Brasil.