Trabalhei por muitos anos em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), inclusive na primeira do Hospital Geral Clériston Andrade (HGCA), com o Major Domingues, do Exército. Quando a UTI foi inaugurada, apenas nós dois éramos plantonistas. Metade do tempo com remuneração e outra metade sem. Parte dos dias, ela funcionava como uma semi-intensiva e dividíamos a prescrição dos pacientes, até que conseguimos uma equipe completa, pois eram raros os profissionais, naquela época.
Com o tempo, a UTI do Clériston cresceu, mas a demanda era maior do que a disponibilidade. E muitas, muitas, muitas vezes tive que escolher, na escassez daqueles tempos, entre 2 a 3 solicitações, quem iria ocupar a vaga disponível. Era dilacerante ser senhor da vida ou morte. É algo de onde não saímos bem. Ainda trabalhei em unidades privadas, por alguns anos. Depois, deixei as UTIs. Era exaustivo demais. Hoje, as UTIs estão em outro patamar.
Digo isso porque nada do que vivi chega perto do que as equipes de saúde de Manaus devem estar passando. Arrebentadas, dilaceradas, destruídas, oscilando entre a raiva e a impotência, com a frustração de ver um paciente após o outro ter seu oxigênio reduzido; de ver a saturação cair; de ver a hipóxia ir se instalando; de ver a luta insana e desesperada para respirar. E morrerem.
Ninguém de fora consegue imaginar a exata dimensão do impacto que isso tem. Não se segue adiante sem carregar sequelas. Eu não gostaria de estar na pele deles, porque acho que teria um surto de insanidade.
Que Deus, sob qualquer de suas formas, os proteja!
“Estamos esgrimando com loucos!” – William Bonner
Os loucos:
“Não é hora de sermos tão cientistas como estamos sendo agora” – Jean Gorinchteyn, Secretário de Saúde do Estado de São Paulo
#AglomeraBrasil – juíza Ludmila Lins Grilo
1. O Ministério militar da Saúde falhou, miseravelmente, ao negociar, de forma antecipada, a compra de vacinas e seringas. Agora, corre atrás, em condições adversas. Não há mais o que discutir sobre isso.
2. Bolsonaro já deixou claro que é a favor da “imunidade de rebanho”, afinal, “todos temos de morrer, um dia”. Suas ações contra qualquer prevenção, vacinação, distanciamento e sua falta de empatia com os 200 mil mortos e sequelados decorrem dessa premissa inicial. Tudo mais é consequência.
3. O Governo Federal só está tentando comprar insumos da Índia, de forma improvisada, para não ficar atrás do governador de São Paulo, João Doria, na corrida pela vacina.
4. Doria, que faz parte do pior que elegemos na última eleição, está tentando empurrar a vacina chinesa no grito, criando um fato político para tornar a aprovação um fato consumado, ao arrepio da técnica. Afinal, como diz o inescrupuloso secretário de Saúde de São Paulo, “não precisamos ser tão cientistas”.
5. As principais vacinas publicaram seus dados em revistas médicas conceituadas, como a New England (duas delas) e a Lancet. A CoronaVac não publicou nada, em lugar nenhum.
6. Na apresentação, essa semana, foram mostrados dados SECUNDÁRIOS, e não PRIMÁRIOS, pois os secundários serviam melhor ao marketing.
7. Doria disse que a eficácia da vacina foi de 78%. No entanto, o diretor do Butantan, Dimas Covas, disse que foram 160 casos no grupo placebo e 60 no grupo vacinado. Quando usamos a fórmula para calcular a eficácia, encontramos apenas 63%, ou seja, erraram na apresentação dos dados. Para confirmar a prevenção de casos graves, é preciso que seja relatada a taxa de eventos, a fim de sabermos se é mesmo aquele 100% e se a incidência de eventos permite essa inferência estatística. E isso ainda não foi feito. A Indonésia acaba de relatar seus dados e a eficácia ficou em 65%
8. Isso significa que a CoronaVac é ruim e não deve ser tomada? Não. Ela deve ser tomada, sim. É feita com a técnica de vírus vivo inativado (o método mais seguro e que já usamos em muitas vacinas) e tem eficácia similar à da vacina da gripe. A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera que toda vacina acima de 50% é válida. O que teremos é uma MENOR chance de ela funcionar em relação às demais, que têm 95% de eficácia. Apenas isso. Nas condições atuais, de pandemia, toda vacina que tivermos é útil.
9. Com essa absurda disputa política entre Doria e Bolsonaro, quem sofre é o Brasil, que vai perdendo vidas. Doria tenta INFLAR a eficácia, para tornar a aprovação uma imposição; a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), por sua vez, vai cozinhando a aprovação com os rigores da... lei!
10. Vacinas para todos. É a única chance de criarmos uma imunidade de rebanho, salvarmos vidas e restaurarmos a economia. Até lá, mantenha o distanciamento social POSSÍVEL, use máscara, lave as mãos e use álcool-gel.
Após bastante espera, o prefeito Colbert Martins escolheu o cardiologista e diretor da Santa Casa de Misericórdia, Edval Gomes, como novo secretário Municipal de Saúde.
Além da atividade no Hospital Dom Pedro de Alcântara (HDPA), Edval é professor de Cardiologia da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs) e médico do Hospital Geral Clériston Andrade (HGCA). Tem experiência como coordenador da Regional da Sociedade Bahiana de Cardiologia e bastante respeito entre os colegas, pelo bom trânsito e sólida formação científica.
Por convivência no curso de Medicina da Uefs, sei que tem potencial de articulação e resolução de problemas, sendo bastante pró-ativo.
Foi uma boa escolha para a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), gerando expectativas bastante positivas de melhoria dos vários aspectos da assistência à Saúde.