Sempre passo, ali, em frente ao prédio da antiga Biblioteca Municipal. Envidraçaram-na, poliram-na, embelezaram-na, mas nada da obra ser entregue. Lá se vão muitos anos, desde que tapumes de madeirite a cercaram. Foi antes da pandemia da Covid-19.
O sol, as chuvas, dias e noites foram deteriorando os tapumes
e nada da obra andar. Pelo contrário, a pandemia também provocou a suspensão da
reforma. Sob o fantasma do coronavírus, as manhãs e tardes, por ali, eram
melancólicas. Ruído, só o do vento sacudindo as copas das palmeiras.
Assim, as novas gerações de estudantes não conhecem a
Biblioteca Municipal. Jamais tiveram a oportunidade de avançar por seus espaços
amplos e, lá dentro, manter contato com os livros. Mesmo que apenas com os
didáticos, para aquelas pesquisas de praxe. Quase toda relação mais profunda
com a leitura começa, a propósito, por meio desta iniciação.
Há quem alegue que, com todos os avanços tecnológicos,
manusear livro de papel, escrever à mão, desenvolver a caligrafia são coisas do
passado. A onda, hoje, é tudo digital.
Não sou teórico ou profissional da educação, mas tomo a
liberdade de discordar. Aliás, até defendo que os excessos tecnológicos
emburrecem e empobrecem. O ódio que viceja nas chamadas mídias digitais
demonstra.
Enfim, o parágrafo anterior foi desperdiçado com uma
digressão dispensável. Retomo: a Feira de Santana precisa de sua Biblioteca
Municipal reaberta, recebendo gente, acolhendo as diversas manifestações artísticas
da Princesa do Sertão.
Mais do que um amontoado de prateleiras que abrigam livros
que acumulam poeira, a Biblioteca Municipal precisa se tornar um espaço
atrativo para a cultura feirense, com pequenas exposições e intervenções
artísticas.
Aliás, pouca gente percebe, mas aquele trecho inicial da Rua
Geminiano Costa poderia se tornar um ativo polo cultural para a Feira de
Santana. Quase ao lado da Biblioteca Municipal, há o Museu de Arte
Contemporânea.
Há pouco tempo, foi instalada, bem perto, a Secretaria
Municipal de Educação, no antigo Feira Tênis Clube, que pode dar suporte e
ajudar a alavancar a cultura local. Nem tão longe está a esquecida e abandonada
Praça do Fórum. É outro logradouro que pode abrigar apresentações artísticas.
Não faltará quem diga que é devaneio, delírio, pensar nessas
coisas na Cidade Comercial de Feira de Santana. Cultura, por aqui, é coisa de
utópicos e sonhadores, adverte a gente sisuda. Até aqui, isso não deixa de ser
verdade. Mas foram esses utópicos e sonhadores que lançaram as sementes de uma
Princesa do Sertão artística, culta, letrada. Muitos frutos, vistosos, são
visíveis.
Mas nada impede que mais gente – e mais iniciativas –
somem-se, contribuindo para a construção de uma Feira de Santana culturalmente
vibrante. Nesse processo, o papel dos órgãos públicos é fundamental. Muito já
existe aí, germinando. Basta dialogar, acolher as melhores ideias e construir
um futuro diferente do passado.
Reabrir a Biblioteca Municipal é um primeiro e importante passo!