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André Pomponet

Caminhada pelo centro, na Semana Santa

André Pomponet - 16 de Abril de 2025 | 13h 55
Caminhada pelo centro, na Semana Santa
Foto: Reprodução/Blog Por Simas

Quem desce dos ônibus, no Lambe-Lambe, sente logo a luz estonteante, refletida sobre as ca­lçadas. Em volta, o colorido das bancas de frutas e verduras; o alarido de quem passa desafiando o calor. Mais à frente, só a falsa seringueira – imponente, mesmo maltratada – projeta sombra e um fio, quase imaginário, de frescor do outono.

Ninguém comenta, mas já há, ali, aquela lufa-lufa que precede a Semana Santa e todo o ritual que envolve a peixada da Sexta-Feira Santa. No beco, batem palmas, chamando a clientela para as lojas; entregam panfletos; anunciam empréstimos imperdíveis para o pedestre endividado.

Um pedinte casual estende a mão, expondo a miséria que lhe corrói o corpo. Mas a atenção já é toda da nesga de horizonte que se insinua pela Rua Recife, resgatando a “bem-nascida entre verdes colinas”.

À sombra da fachada da Euterpe Feirense, mais um fio de frescor, reafirmando o outono. Súbito, recordações juvenis emergem: o ponto apinhado, na esquina; os ônibus dobrando da Conselheiro Franco – Autounida, Transul, Oliveira Lacerda, Aymoré, Safira – e estacionando, com estrépito, para embarcar passageiros, na calçada estreita.

Então, na descida da ladeira, antigas emoções em ebulição: as barracas de metal e lonas, ônibus descendo desembestados, fazendo uma curva acentuada, no último instante, raspando as barracas. “Um dia acontece uma desgraça por aqui”, comentava-se. Mas a desgraça nunca veio e – um dia – o roteiro mudou, sobrevivendo, hoje, só em antigas recordações.

Quando as lembranças se dispersam, não se vê mais o casario da Rua Nova, nem as verdes colinas mais próximas; Só a fachada cinzenta da Cidade das Compras, as ondas de calor que fazem a Praça do Tropeiro tremular. É terça-feira, o samba da véspera não ressoa mais, por ali. O que ressoa é o sertanejo, o brega, o forró, o arrocha, nas barracas acanhadas.

O cheiro do peixe cozido com azeite de dendê, no Centro de Abastecimento, reforça a sensação olfativa: é Semana Santa, o povo já antecipa as celebrações com o prato-feito da terça-feira! Muitos se espantam com os preços do bacalhau, do camarão – mais de 100 reais, o quilo! –, que subiram assustadoramente. “É a Semana Santa”, resmungam alguns, resignados.

Subitamente, o alto-falante anuncia que, Sexta-feira Santa e segunda-feira, o Centro de Abastecimento permanecerá fechado. Então, o olho de alguém brilha, recordando o feriado, prolongado, de Tiradentes, em 21 de Abril...



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