Com
cinquenta reais no bolso não dá para comprar muita coisa no Centro de
Abastecimento. No galpão de cereais, o feijão preto ou a prosaica farinha de
mandioca – alimentos corriqueiros e baratos no passado – saem por quase 10
reais. A rede de cebola, tomate ou pimentão custa pelo menos cinco reais
naquelas bancas de verduras e legumes. No galpão de carnes, então, os 50 reais
encolhem ainda mais. Difícil levar dois quilos de carne com a cédula.
A
imprensa vem martelando – incessantemente – que o grande desafio na reta final
do governo Lula 3 está no preço dos alimentos. É verdade. O governo
restabeleceu benefícios sociais e elevou seus valores, o salário-mínimo vem
aumentando como não ocorria há mais de uma década, a oferta de postos de
trabalho está em expansão, mas estes avanços são insuficientes para acompanhar
os saltos nos preços dos alimentos.
O
repertório de causas está razoavelmente identificado. Maior demanda
internacional – o que eleva os preços internos –, desarranjos nas cadeias
produtivas, decorrentes da pandemia, mudanças climáticas e oscilações na
cotação do dólar –, além de guerras pipocando aqui, ali e alhures – ajudam a
explicar.
Especialistas,
porém, apontam uma razão à qual não se dá tanto destaque. É o apoio limitado
ofertado pelo governo à agricultura familiar. Sem impulsionar o segmento, a
comida vai seguir custando caro. Afinal, é o pequeno produtor que garante o
feijão, a farinha, a hortaliça e o legume que alimentam os brasileiros. O
agronegócio – tão festejado nos últimos anos – produz para exportar e preocupa-se
nada com a alimentação dos brasileiros.
As
soluções para impulsionar a agricultura familiar são conhecidas há muito tempo.
Crédito, assistência técnica, infraestrutura para escoamento da produção,
capacitação e formação de estoques reguladores compõem o cardápio de opções. O
que falta, então? Possivelmente força política para promover esse impulso, o
agronegócio encarnado no “centrão” e na extrema-direita dão as cartas em
Brasília.
Para
justificar a inércia, alguns recorrem ao argumento de que, antes, no governo do
“mito”, era pior. É verdade. Mas nem sempre o eleitor racionaliza e recorre a
essas comparações intertemporais. Fosse assim, os resultados das eleições
seriam ciência exata, altamente previsíveis. Não é o caso, como se sabe.
O fato é que Lula 3 precisa correr bastante para garantir mais comida na mesa da população e reverter o mau humor do eleitorado...