O ano de 2024 foi marcado por tragédias aéreas que fizeram dele o mais letal da aviação brasileira em uma década, conforme dados divulgados pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) nesta sexta-feira (10). Entre os incidentes, destaca-se a queda de um avião da Voepass em Vinhedo (SP), em agosto, que deixou 62 mortos.
Segundo informações do Cenipa, 163 pessoas perderam a vida em acidentes envolvendo aviões, helicópteros e outras aeronaves em 2024. O número supera as 104 mortes registradas em 2016, até então o ano mais letal. No total, foram contabilizados 175 acidentes, sendo 44 deles com vítimas fatais.
O recorde foi atingido nos últimos dias de dezembro, quando a queda de um turbo-hélice em Gramado (RS) resultou em dez mortes. A aeronave havia decolado sob chuva do aeroporto de Canela (RS) com destino a Jundiaí (SP), mas caiu poucos minutos após o embarque.
O acidente em Vinhedo foi o mais grave desde 2007, quando o voo 3054 da TAM, em Congonhas (SP), deixou 199 mortos. A aeronave ATR 72-500 da Voepass caiu sobre o condomínio Recanto Florido, no bairro Capela, após decolar de Cascavel (PR) rumo a Guarulhos (SP).
De acordo com o Cenipa, falhas ou mau funcionamento de aeronaves figuram entre as principais causas de acidentes, representando 457 relatos na última década. Em 299 casos, houve perda de controle em voo. O estado de São Paulo lidera o ranking de ocorrências, com 287 acidentes, embora os dados não especifiquem o número de fatalidades.
Acidentes envolvendo helicópteros também contribuíram para o alto índice de mortes em 2024, com 20 ocorrências — sete delas fatais —, resultando em 15 vítimas. Em outubro, seis pessoas morreram durante um resgate em Ouro Preto (MG), incluindo bombeiros e profissionais de saúde.
Especialistas apontam que o aumento das operações aéreas no Brasil contribui para o crescimento das ocorrências. Em novembro de 2024, 8 milhões de passageiros foram transportados em voos comerciais, um aumento de 8% em relação ao mesmo mês de 2015.
“Os aviões estão voando mais, tanto que há aeroportos, como o de Congonhas, quase saturados”, afirma Roberto Peterka, piloto aposentado da Força Aérea Brasileira e perito em investigação de acidentes.
Apesar da alta nos acidentes, especialistas garantem que a aviação brasileira mantém altos padrões de segurança. Henrique Hacklaender, presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA), ressalta que a segurança também depende de fatores humanos, como a gestão do risco de fadiga.
“A aviação ainda é um ambiente seguro, mas é claro que se voa cada vez mais perto dos limites”, alerta Hacklaender. Em resposta, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) discute mudanças nas regras de gerenciamento de fadiga, enquanto especialistas estimam que até 80% dos acidentes aéreos sejam causados por erro humano.