No final da tarde de sábado (4), fazia um calor sufocante. O sol preparava-se para mergulhar no horizonte. TÃpica tarde de verão. Quem olhava na direção da Lagoa do Prato Raso, ali na Queimadinha, no entanto, ficava com a sensação de que a vegetação estava coberta por uma névoa, dessas que se vêem no começo das manhãs de inverno.
A ilusão, porém, desfazia-se rápido, porque a suposta névoa
mudava de forma rapidamente, revelando-se com uma espiral de fumaça.
Nesta época do ano, é comum se ver espirais de fumaça pela
cidade. É fruto do calor, que costuma alcançar os 40 graus de sensação térmica.
Aquela fumaça, porém, não é eventual. Há quase dois meses, ela desprende-se do
solo e encobre o casario da Queimadinha.
À noite, trafegando pela Avenida José Falcão – que fica do
lado oposto ao foco de incêndio, junto à lagoa –, é possÃvel sentir um forte
cheiro de queimado. São fios, plásticos ou outro composto quÃmico qualquer? É
provável.
O certo é que o cheiro denso provoca mal-estar em quem
trafega de carro, mesmo com os vidros fechados. Imagine quem mora no entorno e
é forçado a respirar aquela fumaça, o tempo todo.
Vendo a cena dias a fio, lembrei de Prometeu – o da mitologia
grega – e do fogo eterno. Não se vêem as chamas na Queimadinha, mas, por lá,
desprende-se uma espécie de fumaça eterna. Começou em novembro, atravessou todo
o mês de dezembro e segue no novo ano, firme e forte.
O problema é prático, mas algumas indagações sempre surgem.
Como é que, numa cidade do porte da Feira de Santana, não se consegue apagar um
fogo que atormenta parte da população? Se fosse em área nobre, o foco já teria
sido controlado? A quem os moradores devem recorrer, para resolver o problema?
Confesso que não encontrei respostas.
Não é de hoje que a população feirense pena com a inação na área ambiental. O desprezo pela natureza, aqui, sempre foi ostensivo. Mas, pelo jeito, está piorando. É comum a população celebrar, ironicamente, aniversário de buraco. Talvez, lá adiante, a fumaça no Prato Raso passe a figura no rol dessas anticelebrações.