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César Oliveira

Carta-convocação pela cultura em Feira

César Oliveira - 09 de Dezembro de 2024 | 08h 04
Carta-convocação pela cultura em Feira
Escultura da Tapera. Juraci Dórea. Projeto Terra, 1982 (Foto: Reprodução)

Nascida Santana dos olhos D’água – nome que jamais deveria ter sido trocado – Feira se constituiu na poeira dos tropeiros, boiadas, fartura de lagoas e comércio. A força de Feira como cidade mercado, por ser entroncamento rodoviário, é demonstrada pelo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 2 bilhões, em 2000, para R$ 17,5 bilhões, em 2024.

Cidade carente de mais autonomia na arquitetura pública, descuidosa, Feira mostra dificuldade para criar pertencimento, o que só é dado pela beleza – Dostoiévski dizia que a beleza salvaria o mundo – e memória, esta, atualmente, mais sob insípidos estacionamentos do que em pé.

Esse vazio é ocupado, hoje, pela marca da violência (justa, afinal, “tudo que passa, passa por Feira”, como diz Tom Zé) e do mercantilismo (imerecido). E para mudar esta imagem, Feira deve dar prioridade à cultura, como jamais fez.

Para tanto, a Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e Lazer (Secel) precisa deixar de ser um “puxadinho” de acordos políticos, gestora de eventos outros, como Micareta e São João, para se tornar um elemento transformador da realidade.

É preciso verbas para a implantação de um projeto cultural consistente e continuado, e não apenas sobras ínfimas de festas, o que limita as ações da pasta. É dever lembrar que cultura gera emprego e renda, tendo movimentado 5% do PIB brasileiro, em 2024.

Uma cidade que tem um Juraci Dórea – criador de nossa identidade cultural – mais reconhecido no Sul do país do que em sua cidade, onde ainda reside (vide matéria de página inteira da Folha de São Paulo, em novembro); e um Antonio Brasileiro – possivelmente, um dos maiores poetas vivos de Língua Portuguesa – mais estudado na França do que em nossas escolas não pode dizer que incentiva e respeita seus atores culturais. O Grupo Hera de Poesia, liderado por eles e pelo poeta Roberval Pereyr, deveria bastar para definir Feira como cidade poética.

Precisamos de uma política de museus efetiva, não desrespeitosa e integrada à Educação. Carecemos, ainda, de ocupação permanente dos diversos equipamentos culturais; de criação de um Fundo Municipal de Produção Audiovisual; de implantação de uma Escola de Teatro; de ampliação das Escolas de Música; de um programa de ajuda a Corais e Filarmônicas; de instalação de Oficinas de Criação Literária e de Artes Visuais; de apoio aos núcleos culturais de produção artesanal, tradicionais e alternativos; de festivais de artes; e de tantas outras ações que exigem interlocução e arrojo como responsabilidade de governo.

Promover a inclusão do ensino das artes, da cultura, do patrimônio histórico e da preservação da memória, nas escolas, é fundamental. Também é preciso capacitar agentes culturais, para a formatação de projetos. E uma política de apoio a publicações e prêmios literários seria muito bem-vinda!

Devemos aproveitar a excelente inauguração do Centro de Convenções para vencermos o paradigma da rasura e da mesmice que nos tem sido legado. É necessário que agentes culturais e entidades da sociedade civil estejam juntos, a fim de vencermos essa imagem de terra sem lei.

É imprescindível construir uma cidade que cative por suas lagoas preservadas. É urgente consolidar uma cultura que alimente o humano, porque só ela pode nos defender desse mal-estar do século, povoado de desagregação, violência emocional e sofrimento.

Para enfrentar esse caos em que nos encontramos, Feira precisa de uma revolução cultural. Isto já não pode mais ser adiado! Tomo a ousadia de convocá-los para essa luta coletiva. Nós podemos ter mais!



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