Escrevi, há bastante tempo, que a politização das Forças
Armadas, estimulada por Bolsonaro, era um ovo de serpente e que ainda nos
custaria caro. Não há, nisso, nenhuma sabedoria, apenas a constatação de
repetições da história.
O discurso beligerante do ex-presidente contra as
instituições – ainda que o STF tenha se tornado um agente político – e a
legitimidade das eleições, de resto, nunca provadas, ajudaram a criar a
instabilidade política atual.
As hediondas revelações de que extremistas militares
planejaram um golpe – há mensagens, gravações, documentos –, inclusive com a
sugestão de execução de algumas autoridades, mostra o quanto parte das Forças
Armadas foram contaminadas.
O impedimento dessa execução se deu porque o Alto Comando não
endossou a barbárie. Segundo uma das gravações, a posição era: “cinco
(generais) não querem, três querem muito e os outros (sete), zona de conforto.
É isso. Infelizmente”.
Se for judicialmente provado, a punição deve ser implacável.
Como já foi revelado, em outra oportunidade, diante da minuta de golpe, o
comandante do Exército chegou a dizer, ao então chefe do Executivo, que “teria
de dar voz de prisão ao presidente”, se fosse levado adiante.
Então, há uma divisão perigosa nas Forças Armadas e é preciso
que seu lado legalista continue prevalecendo, expurgando qualquer extremismo de
suas fileiras.
Também é claro que as revelações e o processo devem seguir as
normas jurídicas, em nada se justificando os atropelamentos que já se tornaram
norma no inventivo direito do STF. Alexandre de Moraes não pode ser vítima,
promotor, juiz, ao mesmo tempo.
O general Mario Fernandes, já preso, precisa revelar o que
sabe. Ele estava na reserva do Exército e na ativa como palaciano. Era o
secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência.
Também é preciso descobrir quem deu a ordem para a missão e
quem deu a ordem para que ela fosse interrompida. Todos devem ser investigados
claramente, de forma transparente, para que os verdadeiros culpados sejam
severamente punidos, pois os fatos mostram que estivemos muito perto da
ruptura.
O último elemento é a apuração para definir se Bolsonaro
sabia do golpe, mas ela não pode ser submetida ao viés político. E se esses
mesmos militares pretendiam dar um golpe dentro do golpe, afastando Bolsonaro e
nomeando interventores militares.
Não é possível se contrapor aos fatos já mostrados, nem usar
a anedótica situação de um capitão que não encontrou um táxi para ir cumprir
sua missão, na tentativa de desmerecer o horror do que foi planejado, mas é
preciso que o Direito seja respeitado. É isso que diferencia uma democracia de
uma ditadura.