O ex-diretor de Promoção dos Direitos da População em
Situação de Rua, setor ligado ao Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania
(MDH), relatou ter sofrido assédio moral e ameaça por parte do ex-ministro de
Estado Silvio Almeida. Leonardo Pinho revelou ao colunista Guilherme
Amado, do Metrópoles, que chorou e teve problemas de saúde. A entrevista foi
publicada nesta quinta-feira (12).
Na entrevista, Pinho disse que o caso ocorreu em outubro de
2023, após ele ter negado o pedido de Almeida para gravar reuniões com sua
equipe e com integrantes do Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento
da Política Nacional para a População em Situação de Rua (Ciamp).
De acordo com o ex-diretor, a reação do ex-ministro, que foi
destituído do cargo após uma avalanche de denúncias de assedio sexual e moral,
inclusive por parte da ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, foi se
levantar, xingar, dar soco na mesa e fazer ameaças ao então subordinado.
Leonardo Pinho destacou que, na ocasião, também sugeriu que Silvio
Almeida melhorasse a relação de sua pasta com o ministério comandado por
Anielle. E que a menção à ministra enfureceu seu superior hierárquico. “Transtornado”,
Almeida teria chamado Pinho de “merda”.
Assustado, o ex-diretor disse ter ficado com medo de ser
agredido e afirmou ter chorado depois da reunião, vindo, também, a desenvolver
problemas de saúde. “Por volta de outubro, ele me chamou ao gabinete dele e me
pediu para gravar reuniões com a minha equipe, que tinha se recusado a assinar
documentos fora do fluxo do ministério. Também pediu para eu gravar integrantes
do Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento da Política Nacional
para a População em Situação de Rua (Ciamp), que haviam criticado o plano do
ministério, por falta de transparência. Eu falei ‘não’. Foi a mesma cena: ele
se levantou da mesa, xingou e deu socos na mesa. Me disse que os meus dias
estavam contados”, revelou Pinho, durante a entrevista a Guilherme Amado.
Leonardo Pinho contou, ainda, que foi informado da má relação
de Almeida com Anielle e que, por isso, observou ao ex-ministro a necessidade
de um melhor trato com os ministérios, em especial com o da Igualdade Racial. “Eu
havia recebido relatos de dificuldade na relação do Silvio com a Anielle.
Imaginei que era assédio moral, por causa da subordinação orçamentária da
Igualdade Racial aos Direitos Humanos. A Anielle dependia do Silvio, em termos
de orçamento, para tudo, até para passagens aéreas”, destacou.
Em seguida, o ex-diretor disse que viu o então ministro dos
Direitos Humanos perder o controle. “Ficou descontrolado, transtornado, quando
mencionei a Anielle. Me falou: ‘Você está insinuando o quê? Sou ministro de
Estado, você é um merda’. Fiquei sem entender e tive medo de ele me agredir.
Ele também disse, em relação ao meu trabalho no ministério: ‘Eu vou acabar com
a sua vida, você não vai mais existir’. Saí da reunião, liguei para minha
esposa e chorei. Tive problemas de saúde por causa dessa situação, pressão
alta, diabetes, ganhei peso. Eu já estava decepcionado com ele, mas, ali,
fiquei com medo. Era uma pessoa de envergadura, que foi sócio de escritórios
importantes de advocacia”, frisou Leonardo Pinho.