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Saúde

Brasil tem mais de 30 internações ao dia por tentativa de suicídio, diz Abramede

11 de Setembro de 2024 | 13h 46
Brasil tem mais de 30 internações ao dia por tentativa de suicídio, diz Abramede
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O Sistema Único de Saúde (SUS) registrou, ao longo de 2023, 11.502 internações relacionadas a lesões com intenção deliberada de infligir dano a si mesmo, o que equivale a uma média diária de 31 casos. O total representa um aumento de mais de 25% em relação aos 9.173 casos registrados nove anos antes, em 2014.

Divulgados nesta quarta-feira (11), pela Associação Brasileira de Medicina de Emergência (Abramede), os dados mostram que, nesse tipo de circunstância, médicos de emergência são, geralmente, os primeiros a prestar atendimento ao paciente.

Para a entidade, o aumento de internações por tentativas de suicídio e autolesões reforça a importância de capacitar profissionais que atuam nesse setor para atender esses pacientes não apenas com rapidez e eficiência, mas também com o acolhimento adequado, já que se trata de situações de grande fragilidade emocional.

A Abramede destaca, ainda, que o quantitativo de vítimas, que já é alto, podem ser ainda maior, em função de possíveis subnotificações, registros inconsistentes e limitações no acesso ao atendimento em algumas regiões do país.

Os dados mostram que, em 2016, houve uma oscilação nas notificações de internação por tentativas de suicídio, com leve queda em relação aos dois anos anteriores. O índice voltou a subir em 2018, com um total de 9.438 casos, e alcançou o pico em 2023.

Estados e regiõesA análise regional das internações por lesões autoprovocadas revela variações entre as unidades federativas brasileiras. Conforme a Abramede, em alguns, foi registrado “um crescimento alarmante”, como é o caso de  Alagoas, que teve o maior aumento percentual de 2022 para 2023. O salto foi de 89% de internações. Em números absolutos, os casos passaram de 18 para 34, no referido período.

A Paraíba e o Rio de Janeiro também apresentaram índices alarmantes, uma vez que o aumento do número de ocorrências foi de 71% e 43%, respectivamente.

Estados como São Paulo e Minas Gerais, apesar de registrarem números absolutos elevados (3.872 e 1.702 internações, respectivamente, em 2023), registraram aumentos percentuais menores, de 5% e 2%, respectivamente.

Alguns entes federados, contudo, apresentaram reduções expressivas no quantitativo de internações por tentativas de suicídio e autolesões, em 2023. É o caso do Amapá, com uma queda de 48%; do Tocantins, que apresentou redução de 27%; e do Acre, que registrou uma diminuição de 26%.

Ainda de acordo com a Abramede, a Região Sul apresenta uma “tendência preocupante” de aumento desse tipo de internação. Em Santa Catarina, houve crescimento de 22%, de 2022 para 2023. Já no Paraná, foi identificado um aumento de 16%. O Rio Grande do Sul aparece no topo da lista, com um aumento de 33%.

Perfil A associação destaca, ainda, que o perfil de pacientes internados por lesões autoprovocadas revela uma diferença significativa entre os sexos. Entre 2014 e 2023, o número de internações de mulheres aumentou, passando de 3.390 para 5.854. Já entre os homens, o total de internações caiu, passando de 5.783, em 2014, para 5.648, em 2023.

Em relação à faixa etária, o grupo de 20 a 29 anos foi o mais afetado em 2023, com 2.954 internações, seguido pelo grupo de 15 a 19 anos, que registrou 1.310 casos. “Os números ressaltam a vulnerabilidade dos jovens adultos e adolescentes, que, juntos, representam uma parcela significativa das tentativas de suicídio”, avalia a Abramede.

Já as internações por lesões autoprovocadas entre pessoas com 60 anos ou mais somaram 963 casos, em 2023. Outro dado relevante é o aumento das internações entre crianças e adolescentes de 10 a 14 anos. No ano passado, foram 601 registros, quase o dobro do observado em 2011, quando 315 internações foram registradas.

 A entidade entende que, embora o atendimento inicial desses casos necessite de “foco técnico”, é salutar que a abordagem inclua a identificação de sinais de vulnerabilidade emocional, com o intuito de oferecer suporte integrado.

Para a associação, uma resposta rápida e humanizada pode fazer a diferença no prognóstico desses pacientes, além de ajudar na prevenção de novos episódios.

Setembro Amarelo – No Brasil, o Setembro Amarelo é uma das principais campanhas de combate ao estigma na temática da saúde mental. Este ano, o lema é: “Se Precisar, Peça Ajuda!”.

Definido por autoridades sanitárias como um problema de saúde pública, o suicídio responde por cerca de 14 mil registros, todos os anos, no país. Isto significa que, a cada dia, em média, 38 pessoas tiram a própria vida.

Héder Bello, psicólogo e especialista em trauma e urgências subjetivas, acredita que transtornos mentais representam fatores de vulnerabilidade em meio à temática do suicídio, não sendo os únicos.

O especialista cita, ainda, outras condições, como: ser uma pessoa LGBT; estar em situação de precariedade financeira ou social; ser refugiado político ou enfrentar ameaças; abuso ou violência. “Esses e outros fatores contribuem para processos de ideação ou até de tentativa de suicídio”, observa.

Para ele, é preciso que “políticas públicas que possam, de alguma maneira, falar sobre esse assunto, sem tabu” sejam implementadas. Instrumentos nas áreas de educação e saúde também podem ser amplamente divulgados. Isto, diz ele, justamente para mostrar que “existem possibilidades e recursos amplos para lidar com determinadas situações que são realmente muito estressantes e de muita vulnerabilidade”.

Cenário globalDados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que, todos os anos, mais de 700 mil pessoas, em todo o mundo, tiram a própria vida. A entidade alerta para a necessidade de reduzir o estigma e encorajar o diálogo aberto sobre o tema.

A proposta da entidade é romper com a cultura do silêncio, dando lugar à abertura ao diálogo, à compreensão e ao apoio.

Dados divulgados pela OMS mostram que o suicídio figura, atualmente, como a quarta principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos. O organismo internacional cita, ainda, as consequências sociais, emocionais e econômicas de longo alcance provocadas pelo suicídio e que afetam, profundamente, indivíduos e comunidades como um todo.

Uma das metas dos chamados Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, definidos pela Organização das Nações Unidas (ONU), é reduzir a taxa global de suicídio em pelo menos um terço, até 2030. “Os desafios que levam uma pessoa a tirar a própria vida são complexos e associam-se a fatores sociais, econômicos, culturais e psicológicos, incluindo a negação de direitos humanos básicos e acesso a recursos”, destaca a OMS.

 


 

Com informações da Agência Brasil.



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