Foi
no domingo de manhã. Depois de longos meses de silêncio, ouvi o trinado de um
sabiá. O sol era caricioso e o céu, muito azul, já tinha um quê de primavera,
até de verão. Ouvi-lo, então, tornou o momento na manhã muito mais especial.
Atento, notei também o canto mais constante da casaca-de-couro e percebi que os
bem-te-vis estavam mais álacres.
Tudo
indica – pensei – que a partir daqui, virá o verão, dias de estio e muito
calor. O inverno foi pobre de chuva e de frio. Alguns dias foram escaldantes,
ao meio-dia o sol estonteava. Apenas a noite, com uma suave queda de
temperatura, mantinha a lembrança de que ainda é inverno.
Pois,
subitamente, as garoas do inverno reapareceram ao longo da semana, baixando a
temperatura, resgatando os agasalhos dos armários e restabelecendo o caos no
trânsito feirense. Simples deslocamentos pelo centro comercial da Feira de
Santana tornaram-se verdadeiras provas de paciência.
A
previsão do tempo indica que, mais à frente, as chuvas continuarão, com os
efeitos do fenômeno La Niña. Quem vive no campo e planta feijão e milho se
decepcionou. As chuvas que pareciam promissoras em março e abril escassearam. A
plantação brotou, feneceu e morreu. Ironicamente, agora as chuvas voltam, numa
espécie de inverno tardio.
“O
clima anda louco!”, comenta-se, numa alusão às mudanças climáticas. É verdade.
Chuvas e estios desafiam até a ancestral sabedoria de quem labuta com a terra,
no campo. Talvez zombe até do sabiá que, imprudente, precipitou-se, antecipando
seu canto que é exclusivo das estações ensolaradas.
Sei
que, nos últimos dias, o sabiá desapareceu. Talvez tenha reconhecido que se
precipitou. Entre uma chuva e outra, os bem-te-vis insistem e a casaca-de-couro
sustenta seu canto em par. Há também os pios dos pardais. Mas os pardais piam o
ano inteiro, não faz diferença.
Arrematando
o texto, lembro das andorinhas, as que fazem o verão, conforme a canção famosa.
Dias atrás cheguei a vê-las, rasgando os céus com o seu voo azulado, muito
alegres. Mas desapareceram também, as nuvens pesadas, acinzentadas,
tangeram-nas.
Amanhã começa setembro. Mas
uns dias e chega o calor e o tempo das trovoadas típicas do final de ano. Virão
este ano? Os metereologistas dizem que, no Nordeste, sim. Tomara que venham.
Nem que seja para reorientar o nosso sabiá que, desde o domingo, desapareceu
novamente...