Os escritores Antonio Brasileiro, Juraci Dórea e Luís
Pimentel, que integram o Grupo Hera, uma das confrarias poéticas mais longevas
da História da Literatura Brasileira, lançam seus novos livros na próxima
sexta-feira (30), pela Editora Mondrongo.
O evento acontece no Museu de Arte Contemporânea (MAC) Raimundo
de Oliveira, em Feira de Santana, a partir das 19 horas. O evento é aberto ao
público e contará com a presença de diversos escritores e artistas feirenses ou
aqui radicados, bem como de seus leitores e membros da imprensa.
BRASILEIRO – Uma das maiores vozes da poesia brasileira
atual, Brasileiro estará presente, desta vez, com uma obra de ficção. Caronte é o título do livro, que está em
sua segunda edição e cuja criação é inspirada em uma das personagens mais conhecidas
da mitologia grega. “Chamava-se Caronte.
Tinha um ofício árduo e sem descanso. O convívio com a morte lhe roubara
qualquer resquício de amor ou compaixão. Cumpria, porém, o seu ofício com toda
a dignidade. A si não competia o destino de ninguém e, ademais, um destino é
algo inarredável. Fadado a sopesar, também, o que pelos olímpicos lhe fora
determinado, fazia-o de maneira quase irrepreensível, digna: eterna”, diz um
trecho.
Um dos textos de apresentação sentencia: “trata-se de uma
obra em que a estética do duplo vai se adensando enquanto a narrativa avança,
causando no leitor certo estranhamento, pois ele nunca estará seguro daquilo
que o narrador conta, se tudo aquilo não passa da descrição de um sonho,
lembranças ou se tudo não passa de um devaneio ou delírio, uma narrativa
identificada esteticamente com o fantástico, na qual não cabe questionar a
veracidade do que está posto, já que tudo se manifesta numa realidade da que
conhecemos por imediato”.
Pela Mondrongo, o escritor baiano também publicou: Poesia Completa (em dois volumes)
e Carta (poesia, 2023).
Antonio Brasileiro é imortal pela Academia de Letras da Bahia (ALB). Está
radicado em Feira de Santana desde a década de 1970, tendo atuado, até
aposentar-se, como professor de Teoria da Literatura da Universidade Estadual
de Feira de Santana (Uefs).
DÓREA – Feirense de nascimento, o arquiteto Juraci
Dórea é mais conhecido como artista plástico, sendo especialmente renomado
neste campo, nacional e internacionalmente. Participou de inúmeras exposições
individuais e coletivas, bem como de importantes eventos de arte, como a Bienal
de Veneza e a Bienal de São Paulo, sempre explorando a rica, misteriosa e emblemática
imagética da cultura sertaneja, tanto em telas quanto em instalações, como é o
caso da série de esculturas de couro que compõe o Projeto Terra.
No entanto, o artista também tem uma vasta obra dedicada à
poesia, ao ensaio, à crônica, à fotografia e ao audiovisual, tendo, inclusive,
produzido cinema, em Feira de Santana, na década de 1960, no formato Super 8.
Como escritor, Juraci tem trabalhos publicados em suplementos
e revistas literárias, tendo participado de diversas antologias poéticas, sobretudo
a Revista Hera, editada, desde os anos 70, pelo grupo homônimo. Durante o
evento desta sexta-feira, pela Mondrongo, ele lançará A segunda valsa, um livro de crônicas.
Para o também poeta e professor de Literatura (Uefs) Rubens
Alves Pereira, a poesia de Juraci Dórea “é marcada pela plasticidade dos
conceitos e pela contenção formal, por uma sintaxe límpida, investida de uma
consciência plácida da quase-trágica ou quase-lúdica, quase-farsa ou
quase-cômica perambulação humana”.
Já Roberval Pereyr, uma das vozes líricas baianas de maior
projeção no país, também membro do Grupo Hera e professor aposentado de Literatura
Brasileira pela Uefs, Dórea é um poeta lírico por excelência. “Seus poemas,
quase sempre situados na difícil fronteira em que o indizível torna-se visível
(ou seja, em que a dimensão utilitária da linguagem cede lugar ao nascedouro
das imagens), instauram ‘climas’ e ambientes afetivos singulares”, descreve.
O artista feirense, que segue residindo em sua cidade natal, tem
livros publicados por diversas editoras, a exemplo de Umquasepoema para
Edwirges (poesia, 1976); Eurico Alves, poeta baiano (ensaio, 1978); O
cavalo sépia (poesia, 1979); Nuanças (poesia, 2004); Barcos de
papel (poesia, 2011); Cartas de Eurico Alves: fragmentos da cena
modernista (ensaio, 2012); Poema de Feira de Santana (poesia, 2012);
O livro das phantasias (poesia, 2014); Outubro (poesia, 2017);
e Feira de Santana: memória e remanescentes da arquitetura eclética (ensaio,
2018).
PIMENTEL – O jornalista e escritor Luís Pimentel
é natural de Feira de Santana, cidade onde cresceu e adquiriu formação básica. Aqui,
participou ativamente dos primeiros encontros do Grupo Hera e das edições da revista
da confraria. Posteriormente, mudou-se para o Rio de Janeiro para estudar
teatro, vindo, ali, a dedicar-se inteiramente ao jornalismo e à literatura.
No campo jornalístico, Pimentel trabalhou em diversos
periódicos, como O Pasquim
(1976-1977), Mad do Brasil, Última Hora e O Dia. Como escritor, é autor de dezenas de obras, em vários estilos,
dedicadas aos públicos infantil e adulto. Também é autor de biografias, como a
do músico Luiz Gonzaga, tendo atuado, ainda, como roteirista de programas humorísticos
para a televisão, como é o caso da Escolinha
do Professor Raimundo, da Rede Globo.
Pimentel tem um trabalho reconhecido, também, no campo da
história e da crítica musicais. Foi editor de diversas publicações voltadas ao
tema, como, por exemplo, a revista Música Brasileira, ainda hoje disponível na
internet.
Ganhou inúmeros prêmios literários. Coordenou a publicação de
Paixão e Ficção - Contos e Causos de
Futebol, no qual escreveu um texto, ao lado de figuras como Zico, Armando
Nogueira, Aldir Blanc e outras grandes personalidades brasileiras.
Sobre sua obra literária, a escritora feirense Alana Freitas El Fahl escreveu: “a
crônica, o gênero mais brasileiro e mais camaradeiro de todos, achou sombra sob
a árvore frondosa da escrita de Luís Pimentel, cronista da mesma fonte de
Braga, Millôr, Stanislaw, Sabino e do Maria, dentre outros que souberam dosar
suas tintas entre as dores e delicias da vida”.
Na próxima sexta, no MAC, Pimentel lança mais um livro de
crônicas: O carioca de Feira de Santana.
No novo volume do autor, Alana, que também é professora de Literatura da Uefs,
disse ter-se encontrado com as memórias de um menino que migrou, mas que nunca
abandonou sua cidade. “Autor de tantas outras prosas fiadas, afiadas e
premiadas, agora nos oferece essa coletânea que nos chega como uma bela galeria
de memórias, homenagens e outras tantas histórias para quem tem olhos de ver. A
matéria-prima dessas páginas brota de diversas situações vividas, ouvidas e
reinventadas. De suas lembranças de menino em Feira de Santana, aluno do Colégio
Municipal que se frustrou no desfile de 7 de Setembro e ficou sabendo, desde
cedo, onde o calo aperta, apesar da beleza do sapato, do jovem aspirante a ator
que foi discípulo do ‘Careca da Mercearia’, do migrante que chega ao Rio para
tentar a sorte e a encontra no abrigo dos amigos com quem dividiu macarrão com
salsicha e nas muitas aventuras e desventuras, sem esquecer do faro atento de
um jornalista que sabe bem a diferença entre um períneo e um perônio e quase
cobriu um golpe”, relata.
SOBRE A EDITORA – Presente em dez edições do Festival
Literário e Cultural de Feira de Santana (Flifs), evento que começou nesta
terça-feira (27) e vai até o dia 1º de setembro, a Editora Mondrongo resolveu
comemorar sua participação com a publicação destes três grandes expoentes da literatura
feirense.
Baiana, a Mondrongo tem como propósito publicar, sempre, literatura brasileira de excelência. Fundada em 2011, pelo escritor Gustavo Felicíssimo, já publicou cerca de 400 escritores e de 700 títulos, tendo obras finalistas ou vencedoras de importantes prêmios literários, como o Jabuti, o Oceanos, o Prêmio Rio de Literatura e o Prêmio da Biblioteca Nacional.