É
comum, nos discursos sobre a Feira de Santana, se falar da pujança econômica, da
vocação do município para o desenvolvimento. Particularmente, sempre se
enaltece o espírito mercantil do feirense, que faz da Princesa do Sertão um afamado
entreposto comercial em torno do qual gravitam dezenas de municípios. Nada
disso é novidade. O que não chega a ser novidade, mas recebe pouca atenção, é a
realidade do mercado de trabalho local.
Por
aqui, o trabalhador formal ganha pouco. Na média, 1,9 salários-mínimos. Entre os
33 municípios do entorno, o valor corresponde à 11ª posição. Em nível estadual,
o desempenho é mais decepcionante: 154ª colocação. Vexatória, mesmo, é a comparação
em relação aos mais de 5,5 mil municípios brasileiros: a Feira de Santana
figura só na 2804ª posição.
Os
números são de 2022 e estão disponíveis no site do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística, o IBGE. Lá é possível constatar que havia 165.438
pessoas ocupadas na Feira de Santana naquele ano. Isso corresponde à primeira
colocação no entorno, à segunda na Bahia e à 50ª no Brasil. Note-se que são
números absolutos.
Percentualmente,
esses 165 mil feirenses ocupados correspondem a 26,84% da população local.
Quando se compara esse percentual aos dos demais municípios brasileiros,
percebe-se que a Princesa do Sertão é apenas o segundo no entorno, o 18º na
Bahia e o 1304º no Brasil. Em suma, há muita gente trabalhando por aqui, mas
percentualmente menos em relação à população de boa parte das cidades
brasileiras.
Há
um bom tempo o salário médio mensal do feirense que dispõe de posto formal de
trabalho corresponde a 1,9 salários-mínimos. Legado dos longos anos de crises
econômicas, pandemia e governos desastrosos. Mas também do baixo dinamismo do
mercado de trabalho local, concentrado no comércio e nos serviços.
É
bom frisar que essa turma é até privilegiada em relação a quem moureja por conta
própria, na informalidade ou, simplesmente, padece sob o desemprego. Sobre
estes, o site do IBGE não disponibiliza informações. Mas não devem ser mais bem
remunerados, nem dispor de melhores condições de trabalho que o trabalhador formal,
conforme se vê Brasil afora.
Nos
últimos anos, o Brasil vive a coqueluche do empreendedorismo. É o tema único, o
objetivo de todos, a mola propulsora da nação. Essa febre, em parte, explica a
negligência em relação a questões relacionadas ao trabalho e ao trabalhador,
que permanecem encobertas e são pouco discutidas.