A
banca de jornais ficava bem na bifurcação entre as ruas Arivaldo de Carvalho e
Landulfo Alves, no começo do Sobradinho. Era final dos anos 1980 e, ali, também
funcionava o antigo bar Ferry Boat.
Hoje existe apenas um posto de combustÃveis. Pois bem: saà da banca com o
exemplar de A Tarde exalando o cheiro de tinta caracterÃstico dos jornais.
Tinha 13 anos e pretendia ler o jornal, imitando alguns parentes.
Era
mês das OlimpÃadas de Seul, na Coréia do Sul. Na capa, atletas da Seleção
Brasileira de futebol fazendo alongamento, o uniforme azul. No noticiário
internacional a deterioração da saúde de Hirohito, o imperador japonês. Nunca
ouvira falar da figura, mas deduzi que era gente importante, porque a matéria
era longa.
Li
atento o noticiário policial. Como sempre, noticiava-se uma troca de tiros, destacava-se
a foto de um jovem negro, morto, sobre uma maca no Hospital Roberto Santos. A
versão oficial era de confronto com a polÃcia. Havia, como sempre, notas sobre
algumas desgraças ocorridas pelo interior, mas não recordo delas.
Desde
então, de vez em quando, mas, sobretudo aos domingos, embrenhava-me na leitura
de A Tarde. Lia também o Feira Hoje. Sequer imaginava que, anos depois,
começaria a vida profissional na redação deste extinto diário feirense.
As
fotografias do esporte, os textos precisos do noticiário internacional – a
identificação das agências de notÃcias vinha em negrito –, o noticiário local,
eletrizantes matérias policiais, tudo isso foi me fisgando nos anos seguintes.
Anos
depois, o jornalismo digital começou a substituir o impresso. Alguns ainda
subsistem, resistindo enquanto existe quem prefere a leitura no papel, palpável.
Mas, pelo visto, quem demanda impresso é uma minoria habituada àquele formato,
mais velha e que, aos poucos, vai desaparecendo. Obviamente, figuro neste
contingente.
Trocar
o impresso pelo digital nem foi tão difÃcil. Problema é o que se produz hoje,
sobretudo nos grandes veÃculos. Em boa parte do conteúdo, o interesse público
foi substituÃdo pelo interesse do público. E do público mediano, sem brilho, vulgar.
Daà a profusão de tretas de famosos, de orientações sobre o que comer, o que
vestir, como se comportar, etc. Descontando isso, sobra quase nada para ler.
Até
o noticiário mais sisudo – como o polÃtico e o internacional – renderam-se. Na
polÃtica, quase tudo é treta de polÃtico, polêmica inútil; no internacional,
tornou-se comum ver animais fofos fazendo uma estripulia qualquer nalgum remoto
lugar do planeta. Em suma, foi-se o jornalismo impresso e ficou o jornalismo
artificial.
Enfim, o papo começou a se
alongar e o final de semana vai se aproximando. Melhor abandonar essas idéias e
ver o noticiário sobre o clima, checar se é possÃvel pegar alguma praia neste
começo de outono, combinar um desses eventos que preenchem a agenda no fim de semana.