A Polícia Federal (PF) aponta que o ex-presidente Jair
Bolsonaro (PL) solicitou mudanças na minuta do decreto através do qual
pretendia dar um golpe de Estado no Brasil. A informação aparece na decisão do
ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), por meio da
qual o magistrado expediu mandados de busca e apreensão e de prisão dos investigados.
De acordo com a Agência Brasil, a corporação detalhou que a minuta
inicial previa as prisões dos ministros do STF, Alexandre de Moraes e Gilmar
Mendes, e do presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
Após receber o texto, apresentado pelo ex-assessor especial
da Presidência para Assuntos Internacionais, Filipe Martins, Bolsonaro
solicitou modificações no documento. Martins foi preso nesta quinta-feira (8),
no âmbito da Operação Tempus Veritatis.
A Polícia Federal descobriu que, na nova versão da minuta do
golpe, o pedido de prisão de Alexandre de Moraes e a convocação de novas
eleições foram mantidos, após passar pelo crivo do ex-presidente.
Acusado de participar da conspiração, o advogado Amauri Saad
também foi alvo da ação policial de ontem. “Conforme descrito, os
elementos informativos colhidos revelaram que Jair Bolsonaro recebeu uma minuta
de decreto apresentado por Filipe Martins e Amauri Feres Saad para executar um
golpe de Estado, detalhando supostas interferências do Poder Judiciário no
Poder Executivo e, ao final, decretava a prisão de diversas autoridades, entre
as quais os ministros do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes e Gilmar
Mendes, além do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco e, por fim, determinava a
realização de novas eleições”, enumerou a PF.
encontro com comandantes – A PF destacou, também, que, após ter concordado com o
novo texto, Bolsonaro convocou uma reunião com os comandantes das Forças
Armadas. No encontro, o ex-presidente teria apresentado a minuta do golpe ao almirante
Almir Garnier Santos (Marinha), ao general Marco Antonio Freire Gomes
(Exército) e ao brigadeiro Carlos de Almeida Batista Júnior (Aeronáutica).
Com isto, enfatiza a PF, Bolsonaro tentou pressionar os
chefes militares “a aderirem ao golpe de estado”. A reunião aconteceu no dia 7
de dezembro de 2022, no Palácio da Alvorada, em Brasília.
Monitoramento de Ministro – Ainda conforme a Agência Brasil, os
agentes federais também identificaram que o grupo criminoso monitorou Alexandre
de Moraes, a fim de “executar a pretendida ordem de prisão, em caso de
consumação do golpe de estado”.
Os deslocamentos do magistrado, entre Brasília e São Paulo,
nos dias 15, 21, 24 e 31 de dezembro de 2022, estavam sendo monitorados pelos
suspeitos. A PF detalhou que mensagens trocadas entre o tenente-coronel Mauro César
Barbosa Cid, então ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, e o coronel Marcelo
Camara, assessor especial da Presidência da República à época, revelaram que Moraes
era chamado, na ação de espionagem, de “professora”.
A corporação checou e confirmou que os trajetos feitos pelo
ministro coincidiam com as informações trocadas entre os acusados. “A
investigação constatou que os deslocamentos entre Brasília e São Paulo do
ministro Alexandre de Moraes são coincidentes com os da pessoa que estava sendo
monitorada e acompanhada pelo grupo. Assim, o termo ‘professora’, utilizado por
Mauro Cid e Marcelo Camara, seria um codinome para a ação que tinha o Ministro
Alexandre de Moraes, membros do Supremo Tribunal Federal e presidente do Tribunal
Superior Eleitoral (TSE), como alvo”, concluiu a Polícia Federal.
Para os investigadores, o monitoramento deixa claro que havia
um intento de tomada de poder. “Demonstra que o grupo criminoso tinha intenções
reais de consumar a subversão do regime democrático, procedendo a eventual
captura e detenção do Chefe do Poder Judiciário Eleitoral”.