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André Pomponet

Feira também tem suas crises gêmeas

04 de Agosto de 2015 | 09h 41
Feira também tem suas crises gêmeas
Pelo andar da carruagem, 2015 vai figurar na História do Brasil como o ano das crises gêmeas: por um lado, uma crise econômica, de graves efeitos sobre a vida dos brasileiros – sobretudo os mais pobres – e uma imprevisível crise política, que vem despertando inclusive humores autoritários, dignos de alarmar os democratas mais otimistas. É o que reverbera, todos os dias, no noticiário. Essas crises, a propósito, começaram em meados de 2014 e, pelo que se vê, se alimentam mutuamente e prometem se estender ao longo dos próximos meses – a crise econômica, particularmente, será ainda mais extensa – com resultados ainda imprevisíveis.
 
O fato é que a palavra “crise” incorporou-se ao vocabulário do brasileiro médio, que andava desacostumado da expressão, depois de um intervalo relativamente longo de crescimento econômico e de estabilidade institucional.O que virá pela frente habita o insondável, até mesmo para os mais intrépidos adivinhos de plantão.
 
Essas crises que monopolizam o noticiário, todavia, não enredam apenas Dilma Rousseff ou o Partido dos Trabalhadores. A palavra “crise” aplica-se também às desventuras fiscais dos estados, cujos governadores, eleitos no final do ano passado, choram dificuldades, facilmente presumíveis desde que o garrote orçamentário estreitou-se, ainda por volta de 2013.
 
Nos municípios a crise é mais longa: reporta-se também a 2013, mas desde ao início do ano já, quando novos prefeitos assumiram e outros tantos herdaram a própria “herança maldita”. Essas dificuldades de caixa, a propósito, justificam as promessas de campanha que se dissolveram nos primeiros dias de janeiro, sob o sol ardente do verão.
 
 
Crises feirenses
 
Feira de Santana não passou ao largo das crises que assolam o Brasil. Ao contrário: por aqui, muita gente perdeu o emprego desde janeiro e outros tantos viram suas expectativas frustradas a partir do alardeado ajuste fiscal. Foram os casos, por exemplo, dos potenciais beneficiários das novas unidades habitacionais que não serão erguidas, pelo menos por enquanto. Ou daqueles que viram minguarem as oportunidades em cursos profissionalizantes, como o Pronatec.
 
A emergência das crises, porém, gerou conteúdo próprio, local, genuinamente feirense e não necessariamente atrelado às crises gêmeas de Brasília. É o caso da crise na saúde, cujo principal ator é um singelo mosquito: o aedesaegipty. Sozinho, ele ampliou o leque de epidemias que afligem o feirense: além da tradicional dengue, surgiram a chikungunya e, mais recentemente, a zika. Como subproduto dessas epidemias, surgiu a síndrome de GuillainBarré.
 
Enquanto perscruta em volta para driblar o mosquito, o feirense gagueja para pronunciar essas novidades semânticas, portadoras de enfermidades atrozes. E o que se vê são hospitais e ambulatórios, públicos e privados, lotados, enquanto os números oficiais alardeiam avanços que o aedesaegipty, implacável, desmente.
 
 
Transporte Público
 
A outra crise – que inclusive encaixa-se num pitoresco exemplo de sucessivas “heranças malditas” – é a do transporte coletivo. O grande avanço do ano é que até na prefeitura se reconhece que a situação não é das melhores. Na prática, o que se vê é um quadro de descalabro, quase colapso, de um sistema que não funciona há muito tempo. E não funciona porque apresenta incontornáveis falhas de concepção.
 
O que se brandia como solução – o polêmico BRT na Getúlio Vargas – ensejou mais uma crise que se arrasta, morosa. A ausência de diálogo com os usuários na fase de elaboração do projeto, a polêmica derrubada de inúmeras de árvores na mais arborizada avenida feirense e o controverso roteiro geraram uma acirrada contestação que parece distante de se esgotar.
 
As epidemias de dengue, Chikungunya, Zika, o surgimento daGuillainBarré e as intermináveis trapalhadas no transporte coletivo mostram que a Feira de Santana também tem suas crises particulares no ano das crises gêmeas de 2015. Talvez nem tão dramáticas quanto as que rondam o Planalto Central, mas que mesmo assim enervam e irritam o feirense, desolado com a apatia com que são tratadas.  


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