Morreu, nesta quinta-feira (5), em São Paulo, o dramaturgo
José Celso Martinez Corrêa. Um dos maiores nomes da cena cultural brasileira, coube
a ele a criação do Teatro Oficina. Também foi o tradutor do tropicalismo para
os palcos.
O artista tinha 86 anos e estava internado na Unidade de Terapia
Intensiva (UTI) do Hospital das Clínicas. Ele teve 53% de seu corpo queimado, em um
incêndio que consumiu seu apartamento, situado no bairro Paraíso, na zona Sul
paulistana, durante a madrugada da última terça-feira (4). O acidente foi
causado por um aquecedor elétrico.
Conforme o jornal Folha de S.Paulo, nos anos 1960, Zé Celso
escolheu a anarquia oswaldiana para desafiar a repressão da ditadura militar. O
artista participou do grupo fundador do Teatro Oficina, que se tornaria
símbolo do teatro brasileiro, ao lado de Renato Borghi, Fauzi Arap, Etty Fraser, Amir Haddad e
Ronaldo Daniel.
Dez anos depois, a companhia montou O Rei da Vela, clássico inspirado no livro homônimo escrito, em
1933, por Oswald de Andrade. A obra satirizava a política e o comportamento
subserviente do país em relação ao mundo desenvolvido.
Sob a direção de Zé Celso, Othon Bastos, Etty Fraser e Dina
Staf ironizaram os filmes da Atlântida, as comédias de costume e o tom empolado
das óperas. Em O Rei da Vela, por
exemplo, o agiota Abelardo enriquece endividando os outros, mas acaba
trapaceado por um sujeito ainda mais sem caráter.
Ao consolidar os alicerces do grupo teatral, o artista foi ao
centro da linguagem dramatúrgica. Mais que um escritor, Zé Celso era um pensador
do teatro. Ele resgatava o conceito da antropofagia modernista, que deglutia a
cultura estrangeira para servir ao público brasileiro uma espécie de banquete
tropicalista.
Sobre a perda do dramaturgo, a companhia Teatro Oficina escreveu,
na rede social Instagram: "Tudo é tempo e contra-tempo! E o tempo é
eterno. Eu sou uma forma vitoriosa do tempo. Nossa fênix acaba de partir pra
morada do sol. Amor de muito. Amor sempre".