A cantora Rita Lee Jones de Carvalho, considerada a rainha do
rock brasileiro, morreu, nesta terça-feira (9), em São Paulo, aos 75 anos. A
artista tratava um câncer de pulmão desde 2021. Ela foi internada, em um hospital da capital paulista, no mês passado, com um
quadro considerado “extremamente delicado”.
O anúncio foi feito, através das redes sociais, pela
família da cantora. "Comunicamos o falecimento de Rita Lee, em sua
residência, em São Paulo, capital, no final da noite de ontem, cercada de todo
o amor de sua família, como sempre desejou”, diz o texto, enfatizando, ainda, que o velório será aberto ao público, no Planetário do Parque Ibirapuera, na
quarta-feira (10), das 10h às 17h, e que o corpo da artista será cremado, de
acordo com sua vontade, em cerimônia particular.
Rita Lee foi diagnosticada, em 2021, com um câncer no pulmão
esquerdo. Após passar por longo tratamento, em abril de 2022, exames indicaram o
desaparecimento do tumor. Mas Rita Lee continuou realizando controle, para que evitar
uma recidiva.
Na ocasião, diz o jornal Estado de Minas, a equipe médica da
cantora havia informado que ela estava "bem assistida” e que seria
submetida a tratamentos de imunoterapia e radioterapia combinados. Em resposta
aos fãs, Rita declarou: "a parada é dura, tem que ter coragem".
Nos meses seguintes, o quadro clínico da artista foi piorando.
Em fevereiro deste ano, a cantora passou por complicações. Contudo, em
abril, a família divulgou que ela estava curada e que o câncer apresentava remissão.
O marido de Rita Lee, o também músico Roberto de Carvalho,
chegou a postar uma foto da cantora nas redes sociais, na qual ela aparece com
cabelos bem curtos, comemorando a notícia. Mas Rita preferiu ser cautelosa e não
festejar a recuperação. Ela preferiu manter a rotina junto à natureza, no sítio
onde vivia com o marido, no interior de São Paulo. E se dedicar à pintura e,
esporadicamente, interagir com os fãs, por meio das redes sociais, além de
conceder entrevistas via e-mail.
Rita Lee, que completou 75 anos em dezembro de 2022, deixa três
filhos, dentre eles, o DJ e produtor musical João Lee, que homenageou a mãe,
via redes sociais, na manhã de hoje. “O mundo perdeu uma das pessoas mais
únicas e incríveis que já existiu. Eu perdi a minha mãe. Mas você é eterna. Seu
legado, sua história e sua arte viverão para sempre. Essa é a minha missão para
a vida toda. Enquanto eu estiver vivo e cheio de graça você vai continuar fazendo
um monte de gente feliz”, escreveu.
Trajetória
– Descendente de
norte-americanos que migraram, do Sul dos Estados Unidos para o interior
paulista, no século XIX, após a Guerra de Secessão, Rita Lee, que também tinha
ascendência italiana, nasceu em São Paulo, em 31 de dezembro de 1947.
Começou a fazer sucesso na carreira musical em 1966, quando convidada
a integrar a banda de rock psicodélico Os Mutantes. Além de cantar, ela também
tocava flauta, percussão e banjo, no grupo. Não demorou até começarem a
aparecer na televisão, em participações no programa Jovem Guarda, comandado por
Roberto Carlos.
De acordo com o jornalista Lula Bonfim, do Bahia Notícias, em
1967, o vigor musical da banda chamou a atenção da Tropicália, movimento cultural
recém-surgido no cenário nacional. “Pensando em chamar jovens rockeiros para
acompanhá-lo na aventura de chocar o público no III Festival de Música Popular
Brasileira, da TV Record, Gilberto Gil viu nos paulistanos o grupo perfeito
para sacudir o marasmo do cancioneiro popular”, lembra a publicação.
A primeira apresentação de “Domingo no Parque”, feita por Gil
durante o Festival, junto com Os Mutantes, causou uma má reação do público, composto,
em sua maioria, por uma esquerda nacionalista que via as guitarras elétricas
como instrumentos de uma invasão cultural norte-americana no Brasil.
A segunda apresentação, com uma canção baseada no som de um
berimbau, foi melhor aceita e empolgou o público. A vitalidade dos jovens roqueiros
já havia conquistado a massa. Na oportunidade, lembra Lula Bonfim, Os Mutantes,
Gil e Domingo no Parque ficaram com o segundo lugar no festival.
Em 1968, Rita Lee e Os Mutantes gravaram, com Gil, Caetano
Veloso, Tom Zé, Nara Leão e Gal Costa, o histórico álbum “Tropicália ou Panis
et Circencis”, do qual a banda paulistana participou de faixas marcantes, a
exemplo da própria canção “Panis et Circencis” e do “Hino ao Senhor do Bonfim”.
Após romper seu relacionamento com Arnaldo Baptista, Rita Lee
deixou Os Mutantes, em 1972, criando, a banda Tutti-Frutti, junto com a amiga Lúcia
Turnbull. O êxito foi imediato. São dessa época as imortais canções “Agora só
Falta Você”, “Esse tal de Roque Enrow”, “Ovelha Negra” e “Jardins da
Babilônia”.
Com o fim da Tutti-Frutti, em 1978, Rita começou uma nova
trajetória ao lado do multi-instrumentista Roberto de Carvalho. Com ele, lançou,
dentre outros grandes sucessos, “Mania de Você”, “Lança Perfume”, “Saúde”,
“Desculpa o Auê”, “Erva Venenosa” e “Amor e Sexo”.
Rita Lee decidiu encerrar sua carreira musical em janeiro de
2012, após um incidente com a polícia, durante um show em Aracaju, Segipe. Ela
teria reclamado da atuação dos agentes de segurança e acabou parando na
delegacia, por desacato à autoridade.
A cantora chegou a fazer shows isolados, após anunciar o
término da carreira. Em 2016, publicou sua autobiografia, tendo recebido alguns
prêmios literários pela obra. Nos seus últimos anos de vida, lançou diversas
canções de sucesso, como “Reza” (2012),
uma das mais ouvida do país, e “Change” (2021).