Realizada pela Câmara de Vereadores de Feira de Santana, na
tarde desta quinta (23), a sessão solene em comemoração ao Dia Municipal da
Beleza Negra e do Sacerdote e Sacerdotisa de Religião de Matriz Africana, abriu
espaço a vozes representativas, que pediram mais visibilidade, valorização e
reconhecimento do valor histórico do povo negro e de sua cultura, para combater
a intolerância e a inversão de conceitos.
Promovida pelo Núcleo Cultural Educacional e Social
Quilombola Odungê, que tem Lourdes Santana como presidente, o ato, aprovado
pela Casa da Cidadania, derivou do Requerimento de autoria do vereador Petrônio
Lima (Republicanos).
Apontando diversas atitudes e discursos de intolerância por
parte de representantes eleitos pelo povo, tanto em Feira de Santana quanto em
outras cidades do paÃs, Silvio Humberto, professor de Economia da Universidade
Estadual de Feira de Santana (Uefs) e vereador pela Câmara Municipal de Salvador,
lembrou que a escravidão mental ainda precisa ser subjugada. "Nós, que falamos
que a liberdade religiosa é um valor importante para a democracia, não podemos
permitir atos de intolerância. Isto aqui é resistência, é olharmos para nós
mesmos e reafirmarmos o nosso compromisso com aqueles que já foram e ainda
clamam por justiça e igualdade. Livramos-nos das correntes da escravidão, mas
ainda existe a escravidão mental e precisamos vencê-la", destacou.
Negra Jhô e Gerusa Menezes, eleitas Deusas do Ébano, também usaram
a tribuna da Casa para salientar a importância de concursos e eventos que
valorizam a beleza e a cultura negras, como é o caso da eleição da rainha (Deusa
do Ébano) e das princesas do bloco afro Ilê Aiyê, realizada a cada Carnaval.
Segundo ela, iniciativas desta natureza promovem a valorização do pertencimento
de lugar, a afirmação da identidade, além de firmarem valores necessários para
o fortalecimento da comunidade.
Vereador eleito por Feira de Santana, Jhonatas Monteiro
chamou a atenção para a propagação de discursos que trabalham para a inversão
de conceitos, como o que tenta negar a influência da cultura e religião
africanas, ao afirmar que o Brasil é um paÃs judaico-cristão.
O parlamentar também falou sobre a impossibilidade de
solucionar os problemas do paÃs negando a real composição do povo brasileiro.
"É impossÃvel pensar qualquer questão pública sem entender que nós somos um
paÃs de maioria negra", ressaltou, ao destacar a importância do evento. "Este é
um momento de celebração, mas também de ocupação histórica", apontou.
O autor do Requerimento, por sua vez, destacou sua satisfação
em viabilizar a sessão. "Não poderia deixar de, como vereador, ser autor desse Requerimento
para homenagear a periferia e a comunidade negra. Sou evangélico e isso não
importa, porque Deus não veio ao mundo para fazer exceção de pessoa", afirmou
Petrônio Lima.
Outros parlamentares, a exemplo de Silvio Dias (PT), de Lu de
Ronny (MDB) e do ex-vereador Marialvo Barreto, autor do Projeto de Lei que
instituiu o Dia Municipal do Sacerdote e Sacerdotisa de Religião de Matriz
Africana, também fizeram uso da palavra, pedindo pela valorização de tudo o que
caracteriza a cultura e representa o povo negro.
Também presentes à sessão, o secretário Municipal de Cultura,
Esporte e Lazer, Jairo Carneiro Filho, e o ex-diretor de Eventos da pasta,
Naron Vasconcelos, destacaram as iniciativas de valorização da cultura negra.
A sessão solene homenageou sacerdotes e sacerdotisas do culto
afro, jornalistas, radialistas, músicos e outros profissionais que valorizam a
causa e a cultura afro-brasileira.