No depoimento em que confessou ser o autor do assassinato de Andrade, Geraldo Junior disse que o diretor médico Alan Floriano apareceu em um sonho premonitório, junto com outra pessoa, tramando contra ele e que isso o levou a matar o colega
O médico Alan da Silva Floriano, de 37 anos, compareceu, na tarde desta
quarta-feira (9), ao Complexo de Delegacias do bairro Sobradinho, em Feira de
Santana, a fim de prestar depoimento no caso da morte do amigo, o psiquiatra
Andrade Santana Lopes, assassinado brutalmente, conforme a polÃcia, pelo também
colega de profissão Geraldo Freitas Carvalho Júnior, no dia 24 de maio.
De acordo com o Acorda Cidade, Alan Floriano, que atua como
diretor de um hospital da capital baiana, onde reside, foi citado pelo suspeito
durante o depoimento em que o mesmo confessou a autoria do crime, motivada,
segundo ele, por um sonho premonitório, no qual, supostamente, o gestor de
saúde aparece. Após o relato do acusado, o delegado Roberto Leal, responsável pelo
caso, decidiu convocar o médico. Ele, então, se disponibilizou a esclarecer os
fatos.
Em entrevista ao portal de notÃcias, Alan Floriano contou que
era amigo próximo de Andrade e que se afastou de Geraldo por ele não ser uma
pessoa idônea e possuir temperamento conflituoso. "A terceira pessoa que ele
cita, no tal depoimento, sou eu. Fui chamado a depor, para entender o que
estava acontecendo. Durante o depoimento, fiquei sabendo o que realmente aconteceu;
que foi através de um sonho e que ele viu alguma postagem ou comentário sobre
alguma foto dele com Andrade e, a partir daÃ, imaginou que eu estivesse armando
algo para matá-lo", declarou.
O diretor médico disse que estudou com Andrade e que ambos
chegaram a morar na mesma casa. "Andrade era meu amigo e irmão. Eu o conheci em
São Paulo, estudando com ele. Viemos para Feira de Santana, moramos juntos em
uma casa e, quando fui para Salvador, dividimos aluguel. Ele era uma pessoa
muito próxima. Em relação a Geraldo Junior, eu o conhecia também, mas deixei de
ser amigo dele porque aprontou comigo e, infelizmente, a amizade acabou", revelou.
DESAVENÇA - Floriano detalhou que se distanciou do suspeito após ele não
honrar compromissos financeiros feitos em seu nome. "Ele me citou porque
tivemos uma desavença. Geraldo Junior sempre enrolado, metido com coisa errada,
conseguiu sujar o nome dele no Serasa. AÃ, ele me pediu um favor, que era
emprestar meu nome para financiar um carro, uma caminhonete Ranger. E eu dei,
com a promessa de que, em seis meses, ele passaria o carro para o nome dele. Era
o tempo que ele tinha para se limpar com o Serasa, mas isso não aconteceu. O
problema perdurou por dois anos, ele parou de pagar o carro e meu nome foi para
o Serasa também. Aà começaram os problemas. Ele sempre com um tom de
agressividade, sempre arrogante, prepotente, difÃcil de diálogo", relatou.
O médico enfatizou, ainda, que não mantinha contato com
Geraldo há mais de um ano. Ressaltou, também, que a última vez que encontrou
Andrade foi há seis meses, em salvador, e que ficou muito comovido com a
notÃcia de sua morte. "Eu fiquei bem chocado, muito abalado. Fiquei sete dias e
sete noites sem dormir e sem comer. Recebi a notÃcia de uma forma bem trágica",
lamentou.
ILEGAL - Outra revelação feita por Alan
Floriano tem a ver com a atuação médica do suposto assassino. Ele asseverou que
Geraldo Junior estava praticando a medicina ilegalmente, no paÃs. "Geraldo é
tipo os médicos cubanos, que são formados no exterior, mas não passam pela
prova, não fazem o processo de revalidação de diploma. Ele chegou a se formar
em medicina, porém lá em Santa Cruz, na BolÃvia. No Brasil, ele não conseguiu
revalidar o diploma e passou a trabalhar com o CRM de um colega, porque os
nomes são iguais, só muda o sobrenome. Ele passou a praticar o exercÃcio ilegal
da medicina, junto com falsidade ideológica", afirmou.
Também em entrevista ao Acorda Cidade, o advogado Joari
Wagner, que acompanhou o diretor médico durante o depoimento na delegacia, informou
que está atento às investigações e que poderá solicitar habilitação como
assistente de acusação, no decorrer do processo. "Ainda está na fase do
inquérito policial. A prisão temporária que foi decretada tem um prazo de 30
dias, podendo ser prorrogada para mais 30, com possibilidade de ser convertida em
prisão preventiva. Nessa fase, tudo fica a cargo do delegado responsável, que é
o doutor Roberto Leal, e também do doutor André Ribeiro, da Furtos e Roubos. A
partir daqui, outras oitivas serão feitas. Estamos aqui apenas acompanhando
essas oitivas, o desenrolar desse inquérito, para, na fase de execução penal,
verificar a habilitação como assistente de acusação. Aqui, o procedimento é
acompanhar, verificar toda a regularidade dos atos policiais e dar o andamento",
explicou o jurista.
O advogado salientou que seu cliente não teve qualquer tipo
de conversa com Geraldo Junior. E garantiu que Alan Floriano nunca planejou matar
o suspeito. "Ele alegou que não tem nada a ver. Informou que teve, sim, um
problema com o médico Geraldo Júnior, há um ou dois anos, e que esse problema
foi resolvido. Eles não se falavam, a partir daÃ. Ele falou, aqui, no seu
depoimento, que alertou alguns amigos, informando quem era o Geraldo, mas nada
além disso, nada referente a conversas com Andrade, marcando ou combinando
alguma coisa contra Geraldo. Nada disso aconteceu e ficou provado, aqui,
inclusive. Ele deixou aqui o aparelho celular para ser periciado também, para,
justamente, comprovar que nada disso aconteceu", observou.