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César Oliveira

O colapso de março e o fim do verão

César Oliveira - 03 de Março de 2021 | 17h 34
O colapso de março e o fim do verão
Ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio; não seremos nós, nem o rio, os mesmos. Lembrei da frase de Heráclito de Efeso enquanto dirigia para o trabalho pela rua cheia de sol, de uma luz quase brilhante, invasiva, saneadora. Subitamente, Março, havia chegado, e, em uma segunda-feira. Março, terceiro mês do ano no calendário gregoriano, é um mês diferente, não só pelas águas que fecham o verão, mas porque é tomado pela seriedade, sendo quase uma heresia manter o dolce far niente em período de tão absoluta dedicação laboriosa.
 
Habita em nós, de dezembro a fevereiro, um relaxamento, e perdão por tudo que fazemos – sim, olhar as moças cada vez mais lindas, beber toneladas, não ir trabalhar com desculpa esfarrapada, aplaudir aquele pôr do sol definitivo ou, pelo menos, definitivo, até o ano que vem.
 
Março, não. Março requer gravata, cartão de ponto, produtividade, e esquecimento do verão passado. Se no período anterior salvamos a alma do bolor do tédio, da indiferença amorosa, e do cotidiano igual, em março, fazemos a regeneração do corpo dos excessos cometidos e das contas estouradas. Não é à toa que na Roma Antiga ele era o primeiro mês do ano, chamava-se Martius, de Marte, deus romano da guerra, e marcava o início das campanhas militares.
 
Março é o colapso do verão, aquele em que as mulheres readquirem habitual compostura- pelo menos as que saem ilesas- e os homens contam no escritório ilusórias aventuras. Sempre foi assim, todo março, igual. Menos esse. Ele se apresentou com um mormaço ameaçador com o colapso nacional da saúde; uma ameaça que é um vírus e não um engano de amor; mortes que são um soco no meio da cara; com máscaras que não escondem de ninguém que o medo se instalou definitivamente nos olhares; e ruas vazias que sinalizam que há uma guerra para vencer.
 
Então é preciso manter a campanha contra o inimigo com estratégia, colaboração, ciência, e firmeza, sem deixar que a fadiga vença a resistência, como os veteranos fazem com suas missões. Porque assim nunca mais entraremos de novo nesse mês. De luto, não seremos os mesmos. Vacinados, nunca teremos outro março igual.


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