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César Oliveira

As vacinas, a civilização e seu fazer no mundo

César Oliveira - 23 de Dezembro de 2020 | 15h 53
As vacinas, a civilização e seu fazer no mundo

O mundo, já exausto e espoliado pela prolongada pandemia, continua ferozmente acossado por uma segunda onda da doença, que sequer sabemos se será a última. Relatos de reinfecção, embora ainda pequenos – talvez subestimados –, instalaram uma preocupação extra, porque torna a imunidade de rebanho ainda mais distante e a segurança de quem já teve um muro derrubado.

Por outro lado, as mutações anunciadas, uma na Inglaterra, mais contagiosa, e outra na África do Sul, ainda em estudo, nos colocam, claramente, diante da necessidade da vacina como esperança de controle mais efetivo e, talvez, até total.

As vacinas, no entanto, tornaram-se um cavalo de batalha político, econômico e insano. Nenhum avanço da ciência poupou tantas vidas, dores e custos à saúde do que as vacinas. Os que hoje a recusam não viveram a varíola, o medo da sequela da poliomielite, a tuberculose cotidiana, a hepatite B, sexualmente transmissível, dentre tantas outras.

O movimento antivacina é uma insanidade – para ser gentil. É a supremacia do individual sobre o coletivo. O resultado claro disso foi o ressurgimento do sarampo, nos Estados Unidos (onde já estava extinto) e no Brasil, com vítimas. Entre os argumentos falíveis está o que diz que não precisamos vacinar porque a mortalidade da Covid-19 é baixa, como se quase 200 mil vidas já perdidas fossem só uma estatística. O que nos fez civilização foi exatamente a capacidade de não deixar ninguém para trás, de proteger os mais fracos. Menos que isso é selvageria.

Assim, a vacina é necessária para a absoluta maioria, porque toda vez que reduzimos a “imunidade coletiva” – com os nascimentos, por exemplo – vamos aumentando a chance de o vírus reaparecer. Não custa lembrar que mesmo na Suécia, sem medidas de contenção, a imunidade não chegou a 15%. Agora, o país está com as UTIs lotadas e o Rei pedindo desculpas pelas mortes.

Isso significa que não se deve exigir que os dados das vacinas sejam apresentados antes de seu uso? Claro que não. Embora esparsos, há relatos de problemas pontuais com outras vacinas. Por isso a necessidades dos testes de eficácia e segurança, ao menos de curto prazo.

Muitos questionam o tempo, mas a verdade é que nunca houve um esforço mundial da ciência desse tamanho e com informações compartilhadas, o que reduz o processo. Até agora, já foram vacinadas mais de um milhão de pessoas, com seis reações alérgicas, com uma das vacinas, o que é perfeitamente aceitável.

E a vacina chinesa? Bobagem ser chinesa. Não que a ditadura chinesa que controla todas as informações e não garante liberdade de expressão não mereça desconfiança, mas não custa lembrar que a China é, hoje, uma superpotência de produção de insumos farmacêuticos, ao lado da Índia. O mundo depende dela – em mais de 50%, em alguns setores –, de respiradores a luvas, de máscaras a insumos para remédios.

Recentemente, tivemos problemas com um anti-hipertensivo que veio de lá e tinha sinais de contaminação, tendo sido suspenso, mas isso, também, não invalida a produção chinesa. A vacina chinesa é da Sinovac, que tem sido denunciada, por corrupção, em alguns países, mas isso não invalida a produção geral do país. Aliás, como ficariam nossas obras de engenharia se seguíssemos esse modelo de análise?

O que quero dizer é que desde que a Anvisa inspecione, que os dados científicos sejam apresentados – e com o aval do Butantan, um renomado instituto brasileiro – e que eles confirmem eficácia e segurança, ela pode ser usada.

É certo que João Dória não passa confiança a ninguém desde os tempos em que foi expulso da Embratur. E é inaceitável que queira empurrar a vacina “na tora”, como diz a linguagem popular, mas interesse político não torna o produto ineficiente, per si. Do mesmo modo, a inaceitável, bisonha, medíocre posição de Bolsonaro, desestimulando a vacinação – e isso acaba repercutindo em outras – é um atraso, especialmente no Brasil, que tem um programa de vacinação mundialmente exemplar.

Bolsonaro é partidário, como já deixou claro, do morra quem tiver de morrer, “maricas” ou não, afinal todos vão morrer, um dia. Não se pode exigir compreensão humana e respeito pela ciência ao universo limitado e raso que lhe formou. O que ele deveria exigir e fazer era blindar a Anvisa, para que ela tivesse o máximo rigor científico, sem estar sujeita a influências políticas ou militares, para que, assim, tivéssemos confiança no seu parecer.

Então, continue mantendo o distanciamento social possível. Use máscara, álcool-gel e vacine-se com qualquer vacina que os testes mostrarem qualidade. É seu fazer pelo mundo.



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