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Política

O líder liberal de 19 anos que incomoda o governo do PT

Glauco Wanderley - 14 de Junho de 2015 | 11h 42

Kim Kataguiri veio protestar no Congresso do PT

O líder liberal de 19 anos que incomoda o governo do PT
Kim ainda tem esperança de ver o mandato de Dilma interrompido e espera ver eleitos candidatos liberais

Quem ouvir uma gravação com a voz de Kim Kataguiri defendendo suas ideias verá que se trata de um liberal (no sentido econômico da palavra) convicto e ortodoxo, daqueles que acham que o Estado deve ser enxugado ao ponto de privatizar até os hospitais, que dirá a Petrobras. Só não vai imaginar que a voz é de um menino  franzino, de 19 anos, que ainda nem teve tempo de concluir uma universidade, mas virou uma pedra no sapato, eventualmente mais incômoda do que a maior parte dos ditos oposicionistas com mandato.

Kim lidera o Movimento Brasil Livre e após as grandes manifestações contra o PT e Dilma em março e abril, fez uma caminhada de São Paulo a Brasília, para entregar na Câmara um pedido de impeachment da presidente Dilma.

Assim como tem muitos seguidores, tem muita gente que o detesta. O deputado Jean Wyllys (Psol) o chamou de analfabeto político e o jornalista Paulo Nogueira, sempre empenhado em destratar quem não gosta do governo federal, acrescentou “mirim”.

Kim veio à Bahia, para protestar durante o Congresso Nacional do PT e esteve em Feira de Santana, trazido pelo médico Eduardo Leite, que no plano local é um dos notórios inimigos do PT. Durante a visita, deu entrevistas no rádio e esteve na Tribuna Feirense, para uma entrevista exclusiva.

 

Como é possível com tão pouca idade estar à frente de um movimento político?

Comecei a me interessar pela política no colégio técnico da Unicamp em Limeira, onde estudava informática, ensino médio. No terceiro ano meu professor de História começou a dar aula sobre Bolsa Família. Num primeiro momento achei o programa bom e pensei em pesquisar, para ver como funcionou, como poderia replicar. Aí eu vi que não era nada daquilo. Toda aquela história de milhões tirados da miséria era muito mais devido ao boom das commodities e ao crescimento do país como um todo que por causa de um programa social específico. Aí fiz meu primeiro vídeo para o You Tube baseado nisso. Era só para o pessoal da sala, professor e colegas. Só que acabou se espalhando pela internet e as pessoas pediram para eu fazer mais, sobre mais temas. Aí tomei gosto, comecei a estudar sozinho, de vez em quando até matava umas aulas pra estudar autores da escola austríaca de economia. O canal foi crescendo, fui chamado para palestras. No ano passado, em uma conferência da escola austríaca de economia, em São Paulo, conheci mais gente. No segundo turno das eleições a gente decidiu fazer alguma coisa pra tentar impedir que a Dilma Roussef vencesse. Por causa dos vídeos eu já tinha conhecido o Danilo Gentili [humorista] e a gente decidiu fazer um vídeo de humor, anti-Dilma. Foi um onde ele está com um jornal do futuro, mostrando o que aconteceu após quatro anos do governo dela. Não existia o Movimento Brasil Livre mas foi com essas pessoas que a gente constituiu, depois das eleições. A primeira manifestação foi em 1 de novembro, com cerca de 5 mil pessoas, no MASP, com as pautas de liberdade de imprensa, a investigação do petrolão e o fim do subsídio do governo brasileiro a ditaduras de outros países. Dos três movimentos principais das manifestações (MBL, Vem pra rua e  Revoltados on line), o que tem muitos jovens é o MBL. O coordenador estadual de Minas Gerais tem 17 anos.

 

Existe muito ódio e agressividade dos dois lados nos debates políticos na Internet. Você já foi ameaçado ou fisicamente agredido?

Fisicamente não. Ameaçado, sempre, todo dia. É comum. Dizem: ‘vou atrás de seus pais’, ‘vou arrancar seus órgãos’, não têm nenhum escrúpulo. Mas faz parte. Desde o começo eu sabia que a gente ia estar lidando com criminosos e militantes criminosos. É comum o ódio, e mentiras que espalham.

 

E quando os ataques vêm de jornalistas, que são mais articulados e ao invés de um xingamento escrevem um longo texto para lhe atacar?

A sorte até agora é que esses ataques só partiram de veículos de comunicação que não têm credibilidade e não alcançam muitas pessoas. Dependem única e exclusivamente de verbas estatais. Como não vivem de propaganda da iniciativa privada, não precisam ter público. E não tendo público jogam um monte de baboseira, de propaganda governista, inventando absurdos como que eu sou financiado pela CIA ou por bilionários americanos. Mas até agora é como se fosse o mesmo xingamento de Facebook, um pouco mais elaborado, com palavras um pouco mais bonitas e tanto embasamento quanto os xingamentos do Facebook.

 

E não te afeta?

Não. Se viesse de uma pessoa de fato que está ali criticamente preocupada em analisar a situação política do país e o Movimento, aí sim você leva em consideração. Quando uma pessoa está claramente fazendo propaganda para o governo e não analisando o movimento nem a situação, é irrelevante.

 

Digamos que a presidente Dilma deixasse o poder. Isso não mudaria o Brasil. O MBL propõe alguma coisa além do Fora PT?

Claro. O foco agora no impeachment é porque a gente acredita na gravidade do atentado direto à República que o partido dos trabalhadores propõe. A gente sabe que tanto no escândalo do mensalão quanto do petrolão eles utilizaram dinheiro público para submeter o Legislativo ao Executivo. Isso é um atentado, é um golpe de Estado. Acabar com um dos três Poderes é acabar com a legitimidade de representantes que foram eleitos pela população. O impeachment é o primeiro foco mas a gente sabe que o problema do país está longe de ser simplesmente o Partido dos Trabalhadores, Dilma Rousseff ou Lula. A gente combate com ideias. As nossas ideias são que mais dinheiro tem que ficar no bolso do cidadão, mais poder tem que ficar na mão do cidadão, que os estados têm que ser mais independentes, que o cidadão tem que ter o direito de se armar, por exemplo. Hoje pelo Estatuto do Desarmamento são inúmeras restrições, de modo que fica praticamente impossível ao cidadão comum obter o direito de posse de arma. A gente defende a privatização de estatais, como a Petrobras, redução drástica de ministérios, mais do que a metade, diferente do que o PSDB propôs, redução de cargos comissionados, que no Brasil são mais de 100 mil, que são utilizados para fins políticos, no aparelhamento da máquina pública. Enfim, redução de impostos e burocracia. A gente demora meses para abrir uma empresa e para fechar é custoso. Nossa ideia é que seja mais parecido com Cingapura, com o Chile, onde se abrem empresas sem custo, em dois, três dias, pela internet. A ideia é descriminalizar a atividade empresarial hoje. Quando um empresário vai sentar ali no banco dos réus na Justiça Trabalhista, é tratado perto do que seria um estuprador. Não é nem ouvido o lado dele. Automaticamente, mesmo quando há reivindicações absurdas, o empregado vence na Justiça Trabalhista e consegue quebrar a empresa que o contratou.

 

O empresário é mal tratado no Brasil?

Com certeza, tratado como criminoso. Quem trabalha e quem produz, além do discurso, de que é o malvadão, que é o cara que explora a ‘mais valia’, o trabalhador, ele de fato sofre processos. Já é difícil para empreender e ainda é criminalizado. A ideia do Movimento é justamente facilitar o empreendedorismo, manter mais dinheiro no bolso do cidadão, flexibilizar leis trabalhistas, fazer com que o país seja menos engessado, que mais poder fique nas mãos dos cidadãos, dos estados e municípios, e menos na esfera federal.

 

Os políticos na verdade não formam um único grupo, que defende os próprios privilégios e suga os recursos públicos, independente de estarem no governo ou oposição? Não foi o que vivemos sempre no país, antes do PT estar no poder?

Sim, pelo próprio modelo de Estado. Por isso que a gente defende, por exemplo, que os vereadores não recebam salários, que não haja esta quantidade de privilégios, que a máquina pública seja extremamente limitada. Uma vez que você tenha uma quantidade limitada de recursos para administrar, se vigora um sistema de livre concorrência sem influência do Estado, diminui muito o poder do político. Diminuindo este poder a política torna-se algo muito mais nobre porque as pessoas que vão ingressar vão ter muito menos razões de interesse pessoal para ingressar na política, porque ela se torna mais responsabilidade que privilégio. Hoje um parlamentar não precisa trabalhar, não precisa fazer um projeto de lei, e recebe ‘N’ benefícios, até 15º salário, o que se torna atrativo para pessoas que estão a fim de utilizar a política para interesse próprio. Por isso a nossa ideia é mudar o modelo em si e não substituir políticos. A gente sabe que não tem como pegar e dizer “vamos só colocar políticos honestos”. Não adianta, porque o modelo em si é falho.

A gente pretende criar um selo que vá certificar candidatos liberais. Eles vão assinar um contrato e se comprometer a não aumentar o próprio poder e o próprio salário, a votar favoravelmente a políticas que a gente defende. Queremos a criação de uma bancada liberal. O selo vai começar a partir da eleição do ano que vem. O MLB vai indicar o voto nestas pessoas.

 

A questão da corrupção perdeu importância entre os opositores do governo?

Continua sendo pauta, mas agora existe coisa mais grave que a corrupção, que é o autoritarismo do Partidos dos Trabalhadores. Eles têm pautas como regulação econômica da mídia. É controle da mídia, é censura. A corrupção deles é para acabar com o sistema republicano. Então é mais grave. Mas a corrupção continua sendo pauta. Principalmente porque como movimento liberal a gente acredita que diminuindo o campo de ação do estado, diminui a margem para corrupção.

 

As manifestações contra o governo perderam força. Na caminhada que teve de São Paulo a Brasília, quem foi do começo ao fim, além de você?

19 pessoas.

 

Pois é. A caminhada teve bastante mídia, mas não teve público. Por quê?

A ideia não era fazer uma manifestação de massa. Era mais pelo simbolismo, como um mito fundador do liberalismo no Brasil.

 

Grandes manifestações não duram para sempre em lugar nenhum. Mas o recuo não foi muito rápido e intenso no Brasil?

Houve um fenômeno de desesperança da população. O discurso governista é de que a indignação acabou ou diminuiu. Não creio que tenha sido bem isso. Os índices de aprovação da presidente caíram mais ainda, estão abaixo de 10%, o que mostra que as pessoas continuam indignadas mas têm pouca esperança de que isso mude. Por isso não estão tão mobilizadas e diminuiu a mobilização desde 15 de março. Mas o trabalho do Movimento Brasil Livre é justamente este, de manter a chama viva, de reanimar a população, de continuar mobilizando. A gente promove atos mais pontuais agora, para ir criando um momento político para uma nova manifestação, para novos grandes atos.

 

Vocês vão andar sempre na cola do PT, onde houver eventos do partido ou do governo?

Tem sido assim desde a Dilma indo discursar em Frutal, ou o casamento em que ela compareceu em São Paulo, em todos os pronunciamentos existem membros do MBL ou outros, espontaneamente. A sociedade tem organizado panelaços, vaias. E a ideia é essa. Cercar e mostrar que ninguém mais quer ouvir o que o governo quer falar.



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