Todos os dias levava meus filhos ao colégio e durante o caminho íamos brincando, contando histórias. Há duas coisas das quais me lembro que eles gostavam: uma, era quando eu conversava comigo mesmo, fazendo duas ou três vozes diferentes e a outra era cantar o "ouviram".
Na primeira, uma voz discutia com a outra; uma falava de um filho e a outra voz respondia. Era muito divertido. Difícil era todo dia inventar algo.
A outra coisa da qual me recordo e que sempre fazíamos- e era sempre um pedido de minha filha, ao qual meu filho aderia, mas sem gostar da repetição- era cantarmos o " Ouviram".
Era o hino nacional. Como ela não sabia o nome, pedia: pai, vamos cantar o " Ouviram". Íamos os três, no carro, a plenos pulmões e desafinação, cantando o hino. Para não dar pane nos cantores improvisados colei uma cópia no guarda-sol e uma na parte do fundo do banco do carona. O mesmo hino de minha memória e que cantava no Colégio Pedro II, em Coração de Maria, onde fiz o primário.
Hoje, ao sair para o trabalho, por uma necessidade, fiz o mesmo caminho que os levava ao colégio, e, de repente, por essa saudade que vez por outra nos arrebenta quando os filhos partem, me peguei cantando sozinho no carro: " Ouviram do Ipiranga as margens plácidas...".