Os 500 mil zeros das redações do ENEM me assustam, mas me aterroriza muito mais saber que apenas 250, ou seja, 4 em cada 100 mil, tiveram nota máxima. Ou que só 500 mil (menos que 10%) chegaram a 700 pontos.
Cartesianos que somos, temos mais facilidade de lidar com referências numéricas e quanto mais ela for grandiosa melhor a chance de nos impactar. Mas precisamos olhar outro foco. Assim, o que me assusta não é a multidão que teve um resultado ruim, mas a penúria, a escassez de gente que obteve bom desempenho.
Por quê? Porque é destas pessoas que depende o futuro do país, a mudança da realidade política, econômica, cultural e científica, ou continuaremos sendo um país dependente de commodities (trocamos café e ferro por soja e aço, como na minha infância), com uma classe política medíocre e padrões comportamentais e culturais um tanto primários, para ser gentil.
É lógico que esta mão de obra com desempenho limitado se torna menos qualificada, aumenta custo de seleção e treinamento, desestimula empresas e surgimento de empregos mais diferenciados, limita o avanço da pesquisa e a mudança de perfil econômico, nos mantendo presos ao passado. E temos apenas 4 por 100 mil, nesta linha superior. É apavorantemente pouco e o futuro desta geração já está comprometido.
Precisamos acabar com este reme-reme de “formar o cidadão na escola”, deixando a cargo dos pais esta tarefa, e trabalharmos duro, muito duro, para tornar nossos alunos capacitados em português, na vital matemática e ciências. Se dermos conta deste recado teremos feito um avanço majestoso e as gerações seguintes poderão se dedicar aos demais aspectos. Precisamos ter foco e concentrar toda força nele para que nos testes futuros a equação se inverta e 500 mil sejam os que tiram nota máxima, ou próximo dela. E o futuro nos pareça uma certeza...