Evangélico foi o terceiro mais votado na Bahia para deputado federal
A votação em outubro foi maior do que o senhor esperava?
Eu sabia que tinha possibilidade de ganhar, mas não imaginava que fosse uma coisa certa. Não estava naquele sentimento de que a vitória é certa. Carregava o sentimento de que era possível. Quando veio a votação foi um susto. Não imaginei que a aprovação popular ao meu desejo de começar a caminhar nas estradas da política fosse tão grande.
Como o senhor pretende atuar na condição de deputado federal? É um compromisso com evangélicos ou vai além disso?
Depois que você começa a conviver com o evangelho, ler a Bíblia, depois que começa um relacionamento com Jesus Cristo, toda a base de sua voda começa a ser cristã. Acredito que na política vou poder estar atuando pro bem de todos, sem precisar fugir das bases que a gente aprende se relacionando com Deus.
Em Brasília algo o surpreendeu negativamente e positivamente?
Uma das coisas que me surpreendeu negativamente é a maneira como os líderes se reúnem, tomam as decisões e depois de tomadas sentam com as bancadas dos partidos para informar a decisão que foi tomada, mas com aquele disfarce de que ainda não foi. A bancada discute, como se a decisão não tivesse sido tomada. Isso me surpreendeu negativamente porque vem a sensação de que você não resolve nada e que sua participação ali é só para dar uma satisfação ao público, às pessoas. Mas algo me surpreendeu positivamente. É que se você quiser e for determinado, pode procurar quem decide as coisas e tentar influenciar. Brasília não é um lugar onde as pessoas perguntam o que você acha. Você tem que procurar os lugares e as pessoas certas para colocar seus posicionamentos. Você tem que correr atrás, elaborar propostas. Não é como a gente pensa quando se candidata, que vai ficar sentado num local e as pessoas ficam esperando sua decisão, para que as leis sejam feitas. Se você não se articular, se não tiver propósito, bandeiras, corre o risco de ficar quatro anos inerte, sem fazer nada, sem influenciar. Eu sou mais determinado. Minha vida é muito ativa. Tenho 16 anos influenciando pessoas para o bem, pregando o evangelho, tentando ajudar pessoas a encontrar o caminho para a restauração familiar, para o ajuste social, econômico. Então não dá para pegar quatro anos da minha vida e colocar numa lixeira pelo falso prestígio de ter um bottom de deputado federal.
O senhor fez criticas numa entrevista a quem gasta muito dinheiro para se eleger. E dá para se eleger sem gastar muito, sem ser evangélico? Porque o político evangélico já conta com votos de certa forma garantidos [segundo a prestação de contas, Lázaro teve despesas de R$ 304.002,40].
Conta em parte com o voto evangélico. Porque quando chega a hora da campanha todos os candidatos procuram lideranças e a igreja é muito assediada. Às vezes as igrejas são muito pobres e infelizmente esse acaba sendo um momento que as pessoas usam para resolver suas carências, suas demandas. O Brasil vai passar por uma reforma política e estou lá tentando influenciar nisso também. Um assunto que tenho debatido é um teto de gasto eleitoral. A gente sabe que as pessoas usam o caixa dois normalmente, mas o caixa dois agora já é considerado crime e acredito que a corrupção vai ser considerada crime hediondo. A bancada do PSC e a bancada evangélica têm se mobilizado para que a eleição aos poucos permita o acesso do cidadão comum. Acredito que se pode ganhar uma eleição sim, sem ser evangélico, sem gastar muito dinheiro, mas antes de se candidatar precisa de tempo. Não dá pra ganhar uma eleição você se tornando candidato, anônimo, faltando três meses para as eleições, por mais boas intenções que tenha. Acho que para se envolver com política e ganhar uma eleição você precisa fazer política pelo menos quatro anos antes de se candidatar.
O senhor diz ter vontade de ser prefeito. Em que o prefeito Lázaro seria diferente?
Não sou o tipo de pessoa que acha que faria melhor que outras. Daria continuidade ao melhor que já foi feito por outros. Quando observo Feira de Santana vejo que só tem feito crescer. Podia ter crescido muito mais, mas não está regredindo. Não posso criticar o que está crescendo, melhorando, mesmo que de forma morosa, que não me satisfaz. Se a gente tem na cidade um prefeito corrupto, irresponsável, a gente pode se queixar, criticar e tentar colocar uma outra pessoa. Mas a gente mora numa cidade que tem tido prefeitos (e não quero atribuir este elogio só a José Ronaldo) que têm dado sua colaboração. A vontade de ser prefeito é mais uma motivação pelo meu senso de liderança, da vontade de dar opiniões mais definitivas, de querer assinar o documento que faz a coisa acontecer. Mas eu gosto muito do rumo que Feira tem tomado.
Mas na hora de convencer o eleitor, por que ele deverá votar em Lázaro e não em A, B, C ou D?
Quando juntar todos os candidatos para concorrer à eleição, se for o caso, se eu vier a colocar o meu nome, se confirmar, porque é uma coisa que como eu tenho dito em entrevistas, é um desejo, mas precisa amadurecer, a minha proposta vai ser essa proposta que provavelmente, talvez, não consiga atrair de imediato muitos eleitores. A minha proposta é melhorar o que já tem sido melhorado, o que não está tão ruim. Não faria uma campanha dizendo que vou fazer melhor, que vou fazer diferente porque está ruim. Minha proposta seria: “Olha, eu tenho propostas pra melhorar o que está sendo feito, que também não está ruim”. Se o eleitor acreditar que eu posso dar uma contribuição maior do que a que está sendo dada pelos outros candidatos, glória a Deus por isso. Senão, continuarei aberto para ajudar o candidato que foi eleito.
Em política ocorre muito a pessoa anunciar uma candidatura, mas na verdade não vai levar até o fim. Está apenas pensando em negociar um espaço maior no grupo político. Isso pode acontecer com o senhor?
Acho que não. Porque com José Ronaldo, pelo menos do que conheço dele, nunca é necessário este jogo. Se José Ronaldo quiser alguém como aliado ele tem como aliado. Se não quiser ter como aliado ele não tem. Não pretendo fazer esse jogo político. Estar me expondo, simplesmente para pensar em benefícios para mim mesmo. Não sei se nessa eleição, talvez sim, talvez não, mas um dia vou ser candidato a prefeito de Feira com certeza.
Logo que foi eleito o senhor recebeu visita de Rui Costa, então governador eleito e do deputado estadual. Mas sua ligação é maior com o grupo de José Ronaldo do que com o governo do estado.
É… Ainda tenho uma certa dificuldade. Porque com o José Ronaldo já construímos uma amizade. E com o governador Rui Costa a gente está construindo um caminho político. Me identifico mais como pessoa com José Ronaldo. Com o governador, tenho muita vontade de conhecer o que ele pensa.
A mudança da candidatura sua em outubro, de estadual para federal foi uma orientação partidária?
Não teve nada a ver com o PSC. Teve a ver comigo mesmo. Falei com o partido que queria ser estadual, lancei a candidatura, falei com Fernando Torres, falei pra José Ronaldo, para os políticos da cidade que já conhecia, só que não achei apoio. O PSC tinha cinco candidatos já eleitos, na época [como deputados estaduais]. Pessoas que tinham construído bases. E pra deputado federal, o único nome expressivo que havia no partido era de Erivelton Santana, que tinha apoio total da igreja Assembleia de Deus. Então ficou mais tranquilo. Vi que o número de candidatos era menor. As pessoas que eu estava procurando para ter apoio como estadual já tinham candidatos. Quando pensei, que fiz as contas, a coisa ficaria muito complexa. Federal era muito mais fácil. Conversei com Fernando Torres, infelizmente teve todo um dissabor momentâneo, mas graças a Deus que já foi resolvido.
Houve a interpretação de que a ideia era de José Ronaldo: “Vá para federal”, para prejudicar Fernando Torres.
Um dia desses tive uma reunião com José Ronaldo. Ele me falou que havia um projeto do governo do estado, para Feira ter muitos candidatos, para enfraquecer a eleição dele [em 2016] e que a minha candidatura era uma dessas. E eu disse para José Ronaldo de imediato. “É, prefeito, mas o senhor também sabe que muitas pessoas falaram pra Fernando Torres que foi o senhor que me indicou pra deputado federal, pra prejudicar Fernando Torres e o senhor sabe que isso é uma grande mentira. Então da mesma forma que é uma grande mentira o fato do senhor ter me influenciado para ser federal, é uma grande mentira eu estar me colocando à disposição pra te prejudicar.”
Quer dizer que ele está sugerindo que o senhor não saia candidato a prefeito?
O que ele me disse não foi isso, né? O que ele me falou é que o desejo político de qualquer pessoa é sempre crescer, que tenho que seguir me coração… José Ronaldo é uma pessoa muito experiente.
Quando se anuncia uma candidatura com muita antecedência isso atiça todos para virem contra. Não foi ruim estrategicamente?
As pessoas já tentam me prejudicar, mesmo eu sendo deputado. Se você entra na internet, tem gente que fala mal de mim, que diz que fiz coisas que eu não fiz. A política acende muito isso nas pessoas o tempo inteiro. Desde o dia em que falei que era candidato [na eleição para deputado] sempre tem alguém falando mal de mim. Mas eu tenho aprendido a lidar com isso com muita tolerância, com muita tranquilidade, é o jogo político. Aqui em Feira de Santana, um vereador ficava falando mal de mim na tribuna. Acho engraçado, porque na política as pessoas falam mal umas das outras, depois ficam amigas, né? Eu tô nesse caminho aí. Falaram mal de mim na Câmara, agora quero ser amigo dos vereadores.
Todo candidato evangélico parte de um patamar superior. Em compensação, têm um teto baixo, porque tem muito eleitor que não vota justamente pelo candidato ser evangélico. Como convencer esse eleitor numa disputa majoritária?
Nem todo evangélico vota em evangélico. Uma grande parte deles detesta política. Não gosta nem de ouvir falar. Quando um se candidata isso gera uma certa tempestade em algumas igrejas. As pessoas preferem que o evangélico continue sendo cantor, como eu sou cantor evangélico. Acho que as pessoas têm a sensação de que eu desistiria de cantar, de pregar. É um engano. Não precisa parar de cantar, de pregar. Então não é tão fácil assim conseguir o voto do povo de Deus. Em relação a quem não é evangélico, muitos acreditam na formação do caráter do homem evangélico. Uma das explicações para que eu tivesse 161 mil votos, é que grande parte dos nossos irmãos das igrejas votaram em mim e muita gente também que não é evangélica votou. No caso de uma eleição majoritária, a única coisa que eu teria para oferecer às pessoas é a minha vida. As pessoas acreditam que alguém que tenha essa mudança que aconteceu com a minha vida possa fazer coisas boas, possa fazer muitas coisas pela cidade de Feira de Santana. Eu não tenho ainda um plano de governo, se porventura vier a me candidatar à prefeitura. Mas é uma coisa que vou decidir no futuro, lá na frente. Eu tentaria convencer o eleitor simplesmente falando a verdade.
O senhor parece falar com mágoa dos que não lhe consideram feirense. O que fará para mostrar que é sim um representante de Feira de Santana no Congresso?
As pessoas que questionam o fato de eu não ter nascido em Feira [Lázaro é de Salvador] estão desrespeitando mais de 50% das pessoas que moram aqui. Porque você imagine, Feira é uma cidade acolhedora, que abraça pessoas que vêm de todos os cantos da Bahia e até do Brasil. Então quando uma pessoa diz que não sou de Feira, principalmente alguns políticos, deveriam tomar cuidado, porque estão maltratando uma grande parte das pessoas que moram aqui e fazem esta cidade acontecer. Foi um momento em que fiquei meio perturbado, mas depois desisti. A melhor maneira de se mostrar para estas pessoas que a coisa não funciona desta maneira é mostrar que José Ronaldo não é feirense, nem Colbert pai, que não nasceu em Feira, mas foi abraçado por esta cidade, e se entregou completamente a ela, como também me entreguei. Abri mão da minha vida em Salvador e vim pra cá e gosto daqui, do povo daqui, e pretendo ficar por aqui.
Durante muito tempo evangélicos pregaram a mudança do nome da cidade para Feira de Jesus. O que o senhor acha disso?
Eu não faria isso. São preocupações que eu não tenho. Houve uma época, em que os evangélicos achavam que quando o nome da cidade era o nome de um santo, era um desrespeito a Jesus, por causa da idolatria. Mas acredito que essa mentalidade hoje está muito mais madura. Católicos e evangélicos já conseguem dar as mãos em muitos momentos. Em relação ao aborto, católicos e evangélicos já conseguem dar as mãos. Estamos percebendo que existem coisas muito maiores do que os nomes das cidades, ou as doutrinas próprias das igrejas. A gente pode fazer tanta coisa aqui fora juntos, lutar contra o aborto, contra tanta criminalidade, contra leis terríveis que estão tentando aprovar em Brasília. Não me meteria nunca discussão dessa, de mudar nome de cidade. Os evangélicos hoje não estão mais com essas preocupações.
Uma deputada do PSC (Júlia Marinho, do Pará) apresentou projeto para proibir casais homossexuais de adotar crianças, o que hoje é permitido. O que o senhor pensa?
Cada caso é um caso. Pra duas pessoas adotarem uma criança é porque têm o desejo de dar uma família pra essa criança, de ensinar padrões morais. A lei tem que olhar se essa criança vai ser assistida moralmente, economicamente. Deve ser analisado o que vai vir para a criança. Sou totalmente contra pessoas promíscuas adotarem crianças. Não vou me referir a homossexuais diretamente. Sou totalmente contra casais que vivem brigando adotarem uma criança. Sou contra pessoas que não têm situação estável financeiramente, não têm um emprego que lhe garanta sobrevivência, adotar uma criança. O homossexual tem que entender o que está buscando, quero falar isso sem nenhum preconceito. A gente vive num país que é laico, mas que a base é cristã, onde a grande maioria das pessoas pensa que família é constituída por um homem e uma mulher, que geram um filho. Se dois homossexuais são irmãos e vivem juntos não são uma família? Se duas irmãs são homossexuais não é família? Agora daí a duas mulheres quererem entrar em uma igreja, para poder casar, acho que é meio complicado.
Mas o senhor está entrando em outra questão. Eu pergunto sobre um casal homossexual que queira adotar.
Eu acho que… eu acho que eu sou contra. Por enquanto. Nesse momento que o país tem vivido, com os ativistas da homossexualidade, com todos estes problemas que eles têm criado, acho que é um momento que a gente precisa observar com mais carinho. Um homossexual quer adotar uma criança? Tem que mostrar primeiro que existe a condição financeira, psicológica e moral. Se tem, cabe a um juiz decidir. Eu, particularmente acho que… Não é uma coisa que… Não acho que uma criança adotada por um casal homossexual vai virar gay. Não acho que o homossexual induziria a criança a ser gay. Mas acho que é uma coisa que deve ser melhor discutida, melhor pensada. A minha posição é que no momento sou contra. Mas é discutível.