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César Oliveira

Não existe dia fácil

23 de Outubro de 2015 | 13h 05
Não existe dia fácil

De volta a este futuro, Mcfly, descobriria que nos comunicamos muito mais e facilmente, embora de forma fria e menos afetiva. Constataria que a ira, a intolerância, os preconceitos, e as emoções humanas, foram despidas do silêncio protetor que a falta de exposição nos concedia.

Saímos da última caverna, acolhedora, e, sem pudor, nos lançamos ao espetáculo, feito tiranossauros vorazes a consumir a curtida e atenção alheia, levando ao extremo a busca da mais básica das necessidades humanas a ser satisfeita, que é a companhia, numa espécie de surto universal de carência.

Este despudor confessional não se consuma sem sequelas. Com as biografias sendo montadas em tempos reais e a memória implacável dos bytes, estamos nos (re)conhecendo muito mais e, o conhecer absoluto, vai desfazendo os mitos individuais e aluindo as admirações, fazendo com que se tornem mais frágeis porque a realidade costuma ser implacável com o humano, como, aliás, já observava  o genial Millor: como são admiráveis as pessoas que não conhecemos muito bem.

Esta conexão sem recusas, senso, ou aceiros, nos coloca diante de dois abismos.  Um, criado pelo engano da edição que faz a vida alheia ser um clip de virtudes e prazeres, um dolce far niente, vendido como cotidiano que cria a sensação de injustiça, inveja comparativa, gerando frustração e ansiedade, sem levar em conta que apenas cada um - e o tarja preta ! - sabem que nem tudo é a delícia de se ser o que é ou parece ser.

O outro, criado pela falta de editoria, e exposição exagerada, em desnudamento que vai demolindo imagens e referências - novamente Millor -,  limando cobiças, formatando um personagem a partir da leitura enviesada, já que sem a interação dos olhos e do tom, e alicerçada na variável interpretação do escrito, construída nas entrelinhas ou sobre revelações de nossas falhas, pecados, preconceitos, ideias, frases, simpatias, opiniões virtuais, que antes corriam desconhecidas e das quais nos depurávamos, nos editávamos, lambendo nossas feridas em anonimato reparador.

Não somos mais o que somos, quando nos contamos; nem somos mais o que somos quando nos contam. Assim, estamos em risco permanente. E não haverá mais dia fácil.



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