É necessário ter paciência e aguardar. Afinal, os tempos estão imprevisíveis. Mas que a quarta-feira (2), dia do “tarifaço” anunciado por Donald Trump, está com cheiro de “Dia Histórico”, não há dúvida.
A rigor, tratou-se de um dia, de fato, marcante. Mas o
ensandecido presidente dos Estados Unidos pode, simplesmente, recuar, ordenar
marcha à ré, desistir de suas tresloucadas taxações. É difícil, mas pode
acontecer, não se pode duvidar.
O mais provável, porém, é que haja algum recuo calculado, que
o anúncio não passe de uma manobra para intimidar os demais países e, com isso,
obter ganhos. O problema aí não está nos resultados almejados, mas na
estratégia empregada: o simples anúncio já causou rebuliço nos mercados
financeiros e recessão e mais inflação já figuram como desdobramentos
possíveis.
Há, também, a questão da reação dos demais países. A China –
por exemplo – resolveu dobrar a aposta e aplicar retaliações equivalentes. Se a
Europa também se posicionar, até estabelecendo uma cunha geopolítica na relação
com os Estados Unidos? Muita coisa nem precisa acontecer para causar intensas
turbulências na atividade econômica.
Sobretaxando os parceiros comerciais – a lógica que moveu
Trump é primitiva –, os Estados Unidos não ficarão incólumes, é bom ressaltar.
Já se prevê desaceleração da atividade econômica por lá, até o final do ano.
Isso sem mencionar a inflação no médio prazo, advertem inúmeros economistas. Em
suma, o destrambelhado anúncio de Trump trará prejuízos a todos.
Como ficará o Brasil, nesta? O país poderá prospectar novos
parceiros comerciais, ampliar antigas relações. Haverá, portanto, um efeito
parcialmente positivo para a economia brasileira. Mas transações comerciais com
os norte-americanos ficarão abaladas, não restam dúvidas.
O diabo é que, no capitalismo dos dias atuais, tudo é muito
imbricado. Produtos sofisticados demandam matérias-primas e processos
produtivos que, muitas vezes, envolvem diversos países, implicando em cadeias
produtivas complexas, que são a marca deste capitalismo globalizado. Trump,
pelo jeito, pensa nos termos do século XIX, quando tudo era muito mais simples.
Hoje, os brasileiros já estão às voltas com uma inflação de
alimentos tão persistente, que já contaminou até a visão sobre o governo.
Apesar de relativos êxitos econômicos, a popularidade do presidente Lula sofre
com a carestia persistente. Virão pressões externas produzindo mais inflação? A
conferir.
Enfim, o 2 de abril teve tudo para constituir um chamado “Dia Histórico”. Desde já, pode ser considerado um marco destes tempos de pouca inteligência e muita truculência, sem dúvida. Mesmo que – estupidamente –, lá adiante, Donald Trump, pateticamente, torça o caminho de volta.