Ainda Estou Aqui, do cineasta brasileiro Walter Salles, conquistou o título de melhor filme internacional, na noite deste domingo (2), em Los Angeles, Estados Unidos, durante a 97ª edição do Oscar, maior premiação do cinema mundial. Foi a primeira vez que uma produção nacional alcançou este patamar.
O longa-metragem brasileiro, que conta a história de Eunice
Paiva, mulher do engenheiro e ex-deputado Rubens Paiva (1929-1971), sequestrado
e morto, sob tortura, pelo Regime Militar de 1964, superou os outros quatro
concorrentes: Emilia Pérez (França), A Semente do Fruto Sagrado (Alemanha),
A Garota da Agulha (Dinamarca) e Flow (Letônia).
Em seu discurso, o diretor Walter Salles dedicou a conquista a
Eunice Paiva, cuja busca pelo corpo do marido, jamais encontrado, norteou o
roteiro do filme. O cineasta brasileiro também destacou os trabalhos de
Fernanda Torres e de sua mãe, Fernanda Montenegro. Na trama, ambas
interpretaram a personagem principal, em tempos distintos. "Obrigado,
primeiramente, em nome do cinema brasileiro. Estou muito honrado de receber
isso, dentre um grupo de cineastas extraordinários. Isso vai para uma mulher
que, após uma perda sofrida, durante um regime autoritário, decidiu não se
dobrar, mas resistir. Esse prêmio é para ela, seu nome é Eunice Paiva. E também
vai para as duas mulheres extraordinárias que lhe deram a vida, Fernanda Torres
e Fernanda Montenegro. Tom, Bernard e Michael, vocês são os melhores. Muito
obrigado por isso, é algo extraordinário", disse.
Indicado também para concorrer ao prêmio de melhor filme, Ainda
Estou Aqui perdeu para Anora, maior vencedor da noite, com cinco
estatuetas conquistadas, no total.
Também indicada como melhor atriz, na categoria drama, Fernanda
Torres acabou não levando a estatueta. O prêmio foi concedido a Mikey Madison, protagonista
de Anora.
Ainda assim, Fernanda Torres entrou para a história do cinema,
repetindo o feito de sua mãe, Fernanda Montenegro, que foi indicada na edição
de 1999 do Oscar como melhor atriz, pelo papel em Central do Brasil, também de
Walter Salles. Na ocasião, a laureada foi a estadunidense Gwyneth Paltrow.
Clima de Copa – A coincidência das datas da maior premiação do cinema
com o carnaval brasileiro acabou em clima de torcida da Copa do Mundo. Máscaras
de Fernanda Torres e de Selton Mello, que interpreta Rubens Paiva no longa;
fantasias da estatueta do prêmio; boneco gigante de Olinda; dentre outras
referências ao Oscar marcaram presença em desfiles e blocos carnavalescos, pelo
país.
Pelas indicações, o filme de Salles sobre a saga de Eunice
Paiva (1929-2018) já chegou vitorioso à maior festa da indústria
cinematográfica. Especialistas apontam que, entre as qualidades da produção,
estão a capacidade de abordar o passado de uma forma diferente e a maneira como
a obra conseguiu dialogar com os tempos atuais.
De caráter autobiográfico, Ainda estou aqui foi inspirado no livro homônimo de Marcelo Rubens
Paiva, filho de Rubens e Eunice. A obra alcançou o topo das listas dos livros
mais vendidos, após sua história chegar às telonas.
Além disso, o próprio caso Rubens Paiva ganhou novos
desdobramentos, recentemente. Por determinação judicial, em janeiro de 2025, a
certidão de óbito do ex-deputado foi corrigida.
Na versão original do documento, o ex-parlamentar foi tido
como “desaparecido político”. Na nova redação, consta que sua morte foi
violenta e causada pelo Estado brasileiro.
O Supremo Tribunal Federal (STF) também decidiu analisar se a
Lei da Anistia, adotada com o fim do regime de exceção, se aplica ou não a
crimes de sequestro e cárcere privado cometidos durante a ditadura militar
brasileira.
Os
premiados nas 23 categorias do OScar foram:
Ator
coadjuvante –
Kieran Culkin, em A verdadeira dor;
Animação – Flow;
Curta-metragem
animado – In The Shadow of Cypress;
Figurino – Wicked;
Roteiro
original – Anora;
Roteiro
adaptado – Conclave;
Maquiagem
e penteado – A substância;
Edição – Anora;
Atriz
coadjuvante –
Zoe Saldaña, por Emília Pérez;
Design de
produção – Wicked;
Canção
original – El Mal, de Emilia Pérez;
Documentário
de curta-metragem –
A única mulher na orquestra;
Documentário – No
other land;
Som – Duna:
Parte 2;
Efeitos visuais: Duna:
Parte 2;
Curta-metragem
em live-action –
I’m not a robot;
Fotografia – O Brutalista;
Filme
internacional –
Ainda estou aqui;
Trilha
sonora –
O Brutalista;
Ator – Adrien Brody, em O Brutalista;
Direção – Sean Baker, de Anora;
Atriz – Mikey
Madison, em Anora;
Filme – Anora.
*Com informações da
Agência Brasil e do Uol.