Quem viu a construção ficou logo imaginando que o equipamento estava fadado ao frenético ir e vir de passantes. Afinal, ligava o Terminal Central ao festejado Shopping Popular. Trata-se da passarela sobre a Rua Olímpio Vital, que interliga os dois espaços.
Pois quem imaginou se enganou: a feia construção acinzentada
vive deserta, parece que liga o nada a lugar algum, como se diz popularmente.
Quem sai do Shopping Popular se impressiona com o cinza que
prevalece ali. Cinza das fachadas das lojas fechadas, cinza das portas
metálicas cerradas, cinza da estrutura da passarela. Cinza até do céu feio,
encoberto, que anunciou uma chuva que não caiu.
Trafegando sobre o equipamento – no sentido Norte-Sul –, o
pedestre ouve, sob seus pés, o ronco dos motores, o grito estridente das
buzinas, imprecações de pedestres, motociclistas e motoristas; poder-se-ia
dizer que os mais sensíveis até “ouvem” a tensão do trânsito feirense, intenso e
caótico, por ali.
Examinando a paisagem, a Oeste, vê-se o cruzamento da Canal
com a Olímpio Vital, as rochas acinzentadas que revestem o canal, propriamente
dito; o casario de cores pardas da Rua Nova – há cinza também! –; e, mais à
frente, as famosas colinas que circundam a Feira de Santana, naquelas paragens.
São verdes, azuladas, mas, nas tardes sem sol, são, também, acinzentadas.
A Leste, o aclive lento conduz ao concreto acinzentado,
esbranquiçado, do centro da cidade. Na Olímpio Vital, porém, há árvores, o
verde, cujas copas encobrem o tom acinzentando que prevalece sobre os
funcionais edifícios comerciais.
No terço final do percurso sobre a passarela, o passante se
depara com os despojos de algum desafortunado que vive pela rua. Às vezes, ele
está por lá. Mas, na ocasião, só havia um encardido colchão de espuma, papelão,
roupas sujas, restos de uma fogueira, um capacete, um caderno escolar.
No trecho final – já na rampa –, a provação final de quem se
arrisca a enfrentar a solidão da passarela: vestígios de fezes e de muita urina,
capazes de embrulhar qualquer estômago. Fedem e deixam marcas, impregnando-se,
como manchas cinzas sobre o piso de concreto.
Depois de muito reter a respiração, o passante descobre que, finalmente, chegou ao Terminal Central...