Feira sempre teve limitações na gastronomia mais elaborada. A memória chega ao Chez Louis, que mantinha filiação ao Chez Bernard, de Salvador. Com o fechamento, somente por volta do ano 2000, apareceu o Tomatte Secco, criação do visionário Henrique Almeida – recentemente falecido –, que marcou época.
Foi lá que, ao fim de uma tarde e uma cerveja escura,
decidimos criar o Clube Amigos do Vinho (CAV) de Feira de Santana, que fez
reuniões mensais de harmonizações maravilhosas e que muito contribuiu para o
hábito do consumo de vinho nessa cidade.
A culinária regional, churrascarias e mariscos não abordo, aqui. Após o Tomatte Secco, tivemos a experiência temporária do Vivas e o Faenza, do empresário Jairo Carneiro, mas que se converteu a eventos fechados.
A crise econômica se refletiu no setor, até que Arthur
Pendragon – participante do reality Mestre
do Sabor, da Rede Globo de Televisão, abriu a Casa do Chef, na Artêmia Pires, com um ambiente moderno, clean e culinária de autor. Já tivemos,
antes de ele abrir o restaurante, boas conversas sobre vinho e comida, lá em
casa.
Em seguida, surgiu outro grande empreendimento no setor, com
uma casa de decoração impecável, construída, especialmente, para abrigar o
restaurante Noz, da Chef Patrícia
Melo. Sem dúvida, o mais elaborado que a cidade já teve.
Os pratos são sempre corretos e confiáveis – inclusive o carpaccio ao grana padano e o filet au poivre com pappardelle. A cocada ao
forno com sorvete, uma ótima sobremesa. Há, ainda, uma ótima – e
bonita – adega.
Recentemente, surgiu o Seen, Restaurante&Bar, no 31º andar do edifício Charmant, com estonteante vista de Feira e bela decoração de Sidney Quintella. Acoplado ao hotel, mantém um clima mais efervescente, próximo da balada, diferente do tradicional sentar, comer, conversar. O filet mignon com molho olivier é correto e o pudim com caramelo, de sobremesa, muito fino e delicado, é uma opção.
Há o Anis Bistrô, do atencioso e gentil chef Pablo Sá, que mudou, recentemente, para o Pátio Artêmia. Ele faz um arroz socarrat sensacional. Vale a experiência! O prato tem origem valenciana. É aquela “rapinha” caramelizada de arroz que fica no fundo da panela. Temos o La Celestrina, filial de Salvador, com preços bem justos e o Vino, uma franquia que tem o bom chefe Vilas Boas, na cozinha
E o Grissini, da
Chef Carol Venas, em ambiente mais simples, na Avenida Noide Cerqueira, ao qual
só fui uma vez. No entanto, adorei a releitura de uma sobremesa premiada do Tragaluz – fantástico restaurante de
Tiradentes –, que é a goiabada envolta em crumble
de castanha, aquecida, sobre uma cama de queijo. Aqui, cheese; lá, catupiry. Uma
goiabada de Ponte Nova – patrimônio imaterial de Minas – menos doce seria um ganho.
Antes do fim, algumas observações. Risoto
é uma arte. Exige sofisticação, para ter a cremosidade ideal. Nem excessiva,
que vire caldo; nem tão escassa, que vire massa. Gosto do ponto do risoto de vieira, do Mistura, em Salvador, ou de mangalô, do colega Luís Carlos,
neurologista e chef.
Sobremesa é arte. Minha sobremesa (sou apaixonado por elas!), no momento, é o semifreddo de doce de leite, ganache de
chocolate, caramelo salgado e avelã, do sensacional Olivetto, em Campinas (SP).
E a assinatura final de um restaurante é o petit four, uma expressão francesa que
significa "pequeno forno". São pequenos doces ou aperitivos servidos
como acompanhamento ao chá ou café. O do La
Tambouille, em São Paulo, é imbatível. Nesse quesito, todos de Feira ainda
estão nos devendo!