O
Mercado de Arte, o MAP, sempre rende papos inspiradores nas tardes de sábado.
Não sei se a inspiração vem do burburinho de comerciantes e consumidores por
seus corredores, não sei se é da simetria das “colunas toscanas intocadas”, não
sei se há, simplesmente, uma energia densa, elétrica, que escorre por ali, fluida
reminiscência de incontáveis pessoas que já percorreram aquele espaço.
O
fato é que, em meio aos típicos papos animados da imprensa feirense, sempre
surge uma ideia nova, uma boa conclusão. Numa conversa com o jornalista Jânio
Rêgo, lembro que falamos do Recôncavo, mais especificamente do ânimo e da
alegria dos pobres que habitam o Recôncavo.
Nos
sertões, o pobre é sisudo, solene, silencioso. Não sei se por herança das
adversidades climáticas, do catolicismo tradicional ou das rígidas estruturas
sociais locais. O fato é que, costumeiramente, não há alegria na pobreza dos
sertanejos. Há estoicismo, há bravura, mas faltam sorrisos.
No
Recôncavo a pobreza também é endêmica, mas os pobres encaram a vida com outra
disposição. A luta diária pela sobrevivência é igualmente dura, mas, nos
momentos de ócio, as festas, os passeios, os encontros, tudo é banhado por uma
aura de alegria difícil de ver no semiárido espinhoso. Há sempre o sorriso, a
disposição para o contato físico, para o abraço.
Berço
de migrantes e geograficamente encravada na transição do litoral com o sertão,
a Feira de Santana é espaço privilegiado para essas observações. Nas festivas
tardes de sábado do Mercado de Arte Popular, é possível encontrar o povo
risonho, festeiro, afeito àquele baiano arquetípico cuja imagem se cultiva
Brasil afora.
Nas
manhãs de segunda-feira, descendo em direção ao Centro de Abastecimento, é
possível deparar-se com o sertanejo calado, sisudo, taciturno até. Ambas as
disposições de espírito – diria até formas distintas de viver a vida – convivem
no fervilhante centro da Feira de Santana a semana inteira.
Não
vai aqui, nessas observações alinhavadas com pressa, nenhuma pretensão
acadêmica, nenhuma imersão metódica na realidade, nenhuma ambição teórica. Só
os comentários livres, sem compromisso, de quem enxerga a vida sob a
perspectiva do jornalismo...