Ano
de eleição municipal costuma eletrificar o eleitorado. Principalmente nas
pequenas cidades, onde não costuma haver grandes novidades. Nesses lugares, há
o engajamento político, militante, cidadão, mas, também, jogador. Tudo que
envolve o pleito é motivo para aposta: quem leva a prefeitura, quem se elege
vereador, qual a margem de votos, quem fica à frente numa determinada
comunidade.
Moeda
corriqueira em apostas do gênero é a cerveja. Quase sempre as apostas nascem
nos botequins, o comerciante que despacha a clientela e esfrega os cotovelos no
balcão é convocado como testemunha, fiel depositário – quando a aposta é em
dinheiro – e, quase sempre, é também o feliz fornecedor da bebida que vai
refrescar a garganta do vencedor.
Uma
caixa de cerveja, um carneiro, uma cabra ou meia-dúzia de galinhas são prêmios
corriqueiros. Despertam pouca atenção, comentários escassos. Sobretudo porque
costuma envolver quem reside nas periferias acanhadas das cidades minúsculas ou
na zona rural. Ninguém dá importância às polêmicas envolvendo cachaceiros.
A
coisa muda de figura quando quem aposta são fazendeiros, comerciantes bem
estabelecidos, gente influente enfronhada na política. É quando saem de cena os
botecos sórdidos das periferias e surgem pizzarias e restaurantes freqüentados
pelos maiorais do lugar. Às vezes, é na varanda elegante de um casarão
imponente que a aposta é sacramentada.
Nessas
ocasiões, ninguém aventura uma bicicleta, galinhas ou uma caixa de cerveja.
Milhares de reais – às vezes dezenas –, automóveis e até propriedades rurais figuram
entre os prêmios. Os boatos correm, o povo comenta nas igrejas, nas repartições
públicas, na feira-livre, nos próprios botecos da periferia.
-
Fulano apostou uma Hilux – Diz alguém, olhos abertos de espanto.
Espertos,
alguns desafiam para intimidar os adversários, firmar reputação de rico.
Afinal, nos lugarejos remotos, dispor de propriedades não é o suficiente. É
preciso arrotar riqueza, fingir-se de endinheirado para não ser confundido com a
legião de pobres, o que costuma ser a suprema infâmia.
Talvez
alguém observe que o mundo mudou e que, com as tais bets – as bancas de apostas – arriscar a sorte se tornou
corriqueiro. É verdade. Mas a aposta pelas mídias digitais é impessoal e não
envolve a realidade imediata. No interior é diferente, é olho no olho e é o
cenário local, palpável.
Imagino que o frenesi
permaneça por aí e ganhe intensidade com a aproximação das eleições.