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André Pomponet

Começa a febre das apostas eleitorais

André Pomponet - 19 de Março de 2024 | 06h 39
Começa a febre das apostas eleitorais

Ano de eleição municipal costuma eletrificar o eleitorado. Principalmente nas pequenas cidades, onde não costuma haver grandes novidades. Nesses lugares, há o engajamento político, militante, cidadão, mas, também, jogador. Tudo que envolve o pleito é motivo para aposta: quem leva a prefeitura, quem se elege vereador, qual a margem de votos, quem fica à frente numa determinada comunidade.

Moeda corriqueira em apostas do gênero é a cerveja. Quase sempre as apostas nascem nos botequins, o comerciante que despacha a clientela e esfrega os cotovelos no balcão é convocado como testemunha, fiel depositário – quando a aposta é em dinheiro – e, quase sempre, é também o feliz fornecedor da bebida que vai refrescar a garganta do vencedor.

Uma caixa de cerveja, um carneiro, uma cabra ou meia-dúzia de galinhas são prêmios corriqueiros. Despertam pouca atenção, comentários escassos. Sobretudo porque costuma envolver quem reside nas periferias acanhadas das cidades minúsculas ou na zona rural. Ninguém dá importância às polêmicas envolvendo cachaceiros.

A coisa muda de figura quando quem aposta são fazendeiros, comerciantes bem estabelecidos, gente influente enfronhada na política. É quando saem de cena os botecos sórdidos das periferias e surgem pizzarias e restaurantes freqüentados pelos maiorais do lugar. Às vezes, é na varanda elegante de um casarão imponente que a aposta é sacramentada.

Nessas ocasiões, ninguém aventura uma bicicleta, galinhas ou uma caixa de cerveja. Milhares de reais – às vezes dezenas –, automóveis e até propriedades rurais figuram entre os prêmios. Os boatos correm, o povo comenta nas igrejas, nas repartições públicas, na feira-livre, nos próprios botecos da periferia.

- Fulano apostou uma Hilux – Diz alguém, olhos abertos de espanto.

Espertos, alguns desafiam para intimidar os adversários, firmar reputação de rico. Afinal, nos lugarejos remotos, dispor de propriedades não é o suficiente. É preciso arrotar riqueza, fingir-se de endinheirado para não ser confundido com a legião de pobres, o que costuma ser a suprema infâmia.

Talvez alguém observe que o mundo mudou e que, com as tais bets – as bancas de apostas – arriscar a sorte se tornou corriqueiro. É verdade. Mas a aposta pelas mídias digitais é impessoal e não envolve a realidade imediata. No interior é diferente, é olho no olho e é o cenário local, palpável.

Imagino que o frenesi permaneça por aí e ganhe intensidade com a aproximação das eleições.



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