Há mais mistérios entre a terra e o ar do que imaginamos. Pelo menos, no
Aeroporto de Feira. Vivemos de adiamentos, explicações sem consistência
para sua inviabilidade crônica. Na última delas, mais uma vez, o governador Rui
Costa disse que aeroportos a menos de 100 quilômetros não se viabilizam. O jornal
Tribuna Feirense, em 2018, publicou uma ampla matéria sobre o assunto.
A reportagem revelou que um estudo da Secretaria de Aviação Civil
(SAC), feito ainda no governo Dilma, deixou claro que transformar a aviação em
um transporte de massa era uma polÃtica de governo e que nenhum municÃpio
deveria estar a mais de 100 km de um terminal aéreo. Feira, é claro, é
referência para um mÃnimo de 2 milhões de habitantes. Afinal, 60% das mais de 500 indústrias aqui
instaladas tinham interesse em usar o aeroporto, como afirmou o Diretor do CIS,
em entrevista à época.
O mesmo estudo do governo mostrou que o municÃpio teria potencial
para 266 mil passageiros por ano. Os
dados oficiais atestam a viabilidade do
aeroporto, já que o mesmo estudo sugere que 60 mil passageiros anuais já seriam
suficientes para garantir os voos necessários. E não falou-se sequer sobre cargas,
outro quesito sobre o qual a Tribuna não
conseguiu obter dados, para avaliarmos o volume de cargas embarcadas em
Salvador, originários da nossa região. Faz parte dos mistérios insondáveis
desse terminal aéreo.
Quanto ao argumento dos 100 quilômetros, ele é sobejamente desmentido
pela realidade. Há, pelo menos, sete aeroportos no Brasil, com essa distância.
Para usar um bem próximo, citamos o terminal de Campina Grande, cidade que tem
uma população estimada em 403 mil habitantes e Produto Interno Bruto (PIB) de
R$ 7,5milhões (Feira tem PIB de R$12 milhões),com a mesma distância da capital
de seu estado que o nosso de Salvador e que movimentou 149 mil passageiros em
2017, 422 mil quilos de carga e faturamento de R$1,4 milhão só em serviços.
Para a implantação do IFR -pouso guiado por instrumentos- em
Feira, há, também, a necessidade de
ampliação das margens da pista. O Governo do Estado já fez o decreto de
desapropriação da área situada no entorno do equipamento. Falta, apenas, a
indenização dos proprietários. Não há informações sobre o investimento que
seria necessário para isso.
As matérias da Tribuna, publicadas em 2018, desmentem o argumento sobre
a distância e a viabilidade dos aeroportos. A verdade é que ninguém conhece os
termos da Concessão;o acordo de exclusividade da Azul (ela tem significativa
redução do ICMS do querosene, para manter voos regionais); o motivo do cancelamento do voo com maior taxa
de ocupação (98%) que a Azul operava (Feira - Campinas), de forma arrogante e
sem a menor satisfação aos feirenses, à época. Tampouco sabemos o porquê da retirada dos
equipamentos do terminal. Recentemente a Concessionária entrou com processo
contra o Estado para realizar obras pactuadas.
Precisamos saber qual seria o investimento em indenizações e em
ILS; qual o potencial de cargas; se há novos estudos de demanda de passageiros;
e se há outras empresas interessadas, além da Azul, que parece não gostar de
Feira. Essas questões têm sido tratadas de forma nebulosa, sem respeito ao
cidadão e ao eleitor de nossa Região Metropolitana (é bom lembrar),gerando
especulações desnecessárias. Não sabemos se há pressões da Concessionária do
Aeroporto de Salvador e de todos os que se beneficiam com ausência de
alternativas; se há problemas econômicos decorrentes das limitações das
construções no entorno; enfim, as verdadeiras razões que impedem que esse modal
seja implantado e cumpra a polÃtica traçada pelo governo federal.
A desculpa da viabilidade fere violentamente nosso senso, pois
sabemos que ninguém dos municÃpios localizados acima de Feira irá escolher ir a
Salvador para embarcar, tendo Feira no meio do caminho. O governo disse que
ouviu especialistas, então por respeito a nossa população deveria liberar uma
cópia do estudo para a imprensa, informar quem foi a empresa que fez o estudo
para que pudéssemos entrevista-los e esclarecer o assunto, parando de
subestimar a nossa inteligência.