Dia de alternâncias no clima e de surpresas na política local
A
atmosfera feirense amanheceu cinza mais uma vez. Abril talvez seja o mês em que
essas alternâncias climáticas costumem ser mais constantes. Lembro de duas ou
três manhãs radiosas no começo do mês, de céu azul e luz puríssima. Depois,
vieram as chuvas - caudalosas, castigando as fachadas fustigadas pelo vento - e
houve espaço até para aquelas garoas típicas do inverno. Nelas, as minúsculas
partículas de água dançavam num ritmo ditado pela brisa.
Não
sei por quê, mas quando vejo o céu como o desta manhã - lâmina de aço
inteiriça, mas de múltiplos tons - vem uma convicção de que um silêncio solene
deveria se impor. Mas não é bem assim: lá fora, pardais e bem-te-vis sustentam
uma sinfonia incessante. Os motores dos carros roncam sobre os paralelepípedos
e vozes terminam de espantar a quietude em fragmentos de conversas que se dissolvem
nas esquinas.
Distraio-me
examinando o curto bosque de espigões aqui da Feira de Santana. Sem sol, são
monótonos, tristonhos. Depois, começam a se diluir em meio à poeira d’água que
anuncia mais um chuvisco. Por fim, apenas se insinuam através da cortina
diáfana da garoa. É quando o horizonte começa a ganhar uma tonalidade de
chumbo, cinza. Neste cenário, a recordação das manhãs ensolaradas de abril
parece miragem.
Nas
cercanias, a gente com sua rotina modesta, nos intervalos da chuva. Alguns
sentem frio ou querem se resguardar da garoa: envergam, então, antigos
agasalhos que passaram longos meses no fundo dos armários. Quem não se
resguarda aperta o passo quando o chuvisco cintilante encorpa. Outros, de
bermuda e sandália de dedo, exibem a contrariedade com a umidade, esboçando
cenhos franzidos.
Depois
o vento foi empurrando as nuvens para a orla do céu e um azul tímido começou a
se insinuar. Então, se viu até aquela luminosidade festiva que, no começo da
manhã, parecia miragem. Abril sempre vem assim, intenso em chuva, em sol, em
garoas, tempestades, nuvens claras ou manchadas de chumbo. "Quatro estações num
dia só", espantam-se alguns, enxergando aparente caos na natureza.
Caos
mesmo se vê é no cenário político da Feira de Santana. Na Câmara Municipal, 13
vereadores endossaram um pedido de CPI, a da Cesta Básica. Apontam supostas irregularidades
na distribuição do item ano passado, pela Secretaria de Desenvolvimento Social.
Será que, efetivamente, vai ser instalada? Ou haverá recuo, como tem sido
costumeiro no legislativo feirense?
É
necessário aguardar. Espantoso é que todo esse arranca-rabo acontece bem no
começo da gestão - Colbert Filho (MDB) foi reeleito prefeito ano passado -
quando tudo costuma ser mais calmo, mais estável. Não está sendo assim: em
alguns momentos, os governistas açoitam mais o governo do que a própria oposição.
Há quem enxergue tensão aí, no ar, como não se via há tempos.
Os
próximos dias dirão se há, de fato, toda essa beligerância por aí. Ou não.