Namorar é, sobretudo, ter esperanças. Seja da satisfação temporária ou do encontro definitivo. Namorar é o triunfo do imaginário sobre o real, da confiança sobre as defesas, do recreio sobre os deveres, do tempo sobre o calendário. Namorar, de verdade, não é pintar-se de narciso, mas enfeiar-se, só para que o outro se sinta mais bonito. É ir ao confessionário e conceder ao namorado uma franquia de suas melhores intenções. Namorar o namorado ou namorada é ver em um só os sinais dos mil mirantes aos arredores. Namorar é pecar em dia santo pois namorado nada sabe de pecado, ainda que peque no varejo e atracado. É fazer rodilha com os desejos alinhavados e morrer em prantos diante do milagre do corpo desnudo. É como o criador que se deslumbra com o universo inaugurado e alfabetiza com os lábios e as mãos o silêncio da amada ou do amado. Como quem invade um cárcere e liberta o derradeiro grito encarcerado.
Namorar nem sempre é reto, nem sempre é límpido, nem sempre é sagrado, mas namorar é o único ponto de partida ao qual se deve, infinitamente, sem esquivas e sem aceiros, ser retornado