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André Pomponet

Festejos juninos em tempos de pandemia

André Pomponet - 17 de Abril de 2020 | 21h 20
Festejos juninos em tempos de pandemia

Toda hora surgem diversas projeções sobre a pandemia do novo coronavírus. Muitos reclamam, julgam-se sufocados pelo noticiário. É verdade: nesses casos, é melhor desconectar-se, buscar ocupações alternativas para a cabeça. O suceder interminável de notícias sobre a doença, porém, apresenta uma virtude. Consultando, selecionando e refletindo, é possível ir mapeando atalhos, preparando-se para o que vem por aí. Afinal, a cada dia torna-se mais evidente que o futuro não será mais como no passado.

Pesquisadores norte-americanos estimam, por exemplo, que shows – com suas consequentes aglomerações de pessoas – só recomeçam em meados de 2021. Caso a projeção se confirme, festas como o São João e o Carnaval do ano que vem estarão comprometidas. Os festejos juninos de 2020, a propósito, já estão sendo cancelados Nordeste afora. É apenas o primeiro ato de um novo mundo que se descortina.

As celebrações juninas no Nordeste tornaram-se megaespetáculos com palcos, canhões de luzes e festejadas atrações musicais. Temperando tudo, grandes multidões. A fórmula – muito lucrativa para quem atua no segmento – alastrou-se região afora. Em junho, milhares de veículos deixam as capitais em direção às cidades que oferecem esses combos festivos, congestionando rodovias, num êxtase regado a licor.

O modelo se sofisticou. Alavancado pelas prefeituras, sepultou a tradição antiga de fogueiras na porta de casa e dos grupos seletos de familiares e amigos reunidos. Naqueles tempos havia o festivo colorido dos fogos, a algazarra infantil, os risos dos adultos. Tudo era mais familiar, mais fraterno, mais alegre. A festa era mais comunitária – a vizinhança se integrava e até organizava forrós – e nisso residia muito do seu encanto.

A mercantilização do São João mudou drasticamente a relação de boa parte dos nordestinos com a festa, que se afastou de suas raízes. Aproximou-se muito do consumismo corriqueiro, com seus combos de atrações, excessos e encenada felicidade. Nela, vê-se semelhanças com o Natal e sua farisaica fraternidade de mercado. O que ainda salva os festejos juninos é aquele autêntico espírito nordestino que sobrevive, apesar da mercantilização.

Pois a pandemia do novo coronavírus vai provocar uma ruptura na lógica do São João nas próximas temporadas. Nada daquelas estridentes superproduções, do estardalhaço visual dos outdoors rodovias afora, dos forrozeiros de ocasião. Haverá um retorno àquele passado idílico? Obviamente, não. Mas uma reaproximação não pode ser descartada.

O fato é que o entretenimento de massa foi um dos primeiros a sofrer solavancos com a pandemia. E, ao que tudo indica, sofrerá mudanças significativas a partir daqui. O que virá ninguém sabe. O que é certo, porém, é que nada será como foi no passado...



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