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Política

Vaza Jato: PF gravou 22 telefonemas de Lula mesmo após ordem para interromper

09 de Setembro de 2019 | 09h 10
Vaza Jato: PF gravou 22 telefonemas de Lula mesmo após ordem para interromper
Foto: Agência Brasil

Os procuradores da Lava Jato sabiam que a divulgação do diálogo entre a então presidente da República, Dilma Rousseff, e Lula, foi ilegal, porque a captação ocorreu horas depois do fim da ordem judicial. Eles ainda demonstraram preocupação com as consequências que sobrevieram sobre o então juiz Sérgio Moro, responsável por permitir a divulgação do pacote de grampos de conversas entre Lula e pessoas próximas.

A revelação foi divulgada neste domingo (08) pela Folha de S.Paulo em parceria com o Intercept Brasil, site que recebeu de uma fonte anônima mais de 3.000 páginas de conversas de procuradores da força-tarefa da Lava Jato e que revelam que o então juiz Sérgio Moro e os procuradores, incluindo o coordenador do grupo no Paraná, Deltan Dallagnol, agiram à margem da lei discutindo processos e atuando em parceria.

Às 18h32 do dia 16 de março de 2016, a Globo News noticiava que a então presidente Dilma fora grampeada e uma cópia da transcrição do diálogo que ela tivera com Lula naquela tarde foi lida ao vivo. Em pouco tempo, em Brasília, vários manifestantes se aglomeraram em frente ao Palácio do Planalto para protestar contra o governo. Paralela à revolta popular, deputados da oposição pediam a renúncia de Dilma no plenário da Câmara, levando a um encerramento tumultuado da sessão naquele dia.

O áudio acelerou o processo de derrocada do governo Dilma. Alguns dias antes, a presidente negociava entregar o cargo de Ministro da Casa Civil para Lula. A estratégia era avaliada pela oposição e membros da Lava Jato como uma forma de o ex-presidente tentar escapar da Lava Jato. Obtendo foro privilegiado, as investigações contra Lula, caso se tornasse ministro, passariam a correr no Supremo Tribunal Federal, em Brasília, não mais sob a jurisdição de Moro.

Após a decisão da Justiça para que os grampos fossem suspensos, a PF ainda captou 22 telefonemas do ex-presidente Lula, isso porque as operadoras de telefonia demoraram para cumprir a ordem de Moro e o sistema usado pela PF continuou captando as ligações. Entre os diálogos grampeados estavam dois entre o então vice-presidente Michel Temer e Lula.

A maioria dos diálogos demonstrou que Lula não tinha interesse em assumir a pasta da Casa Civil, mas sim fazer conciliação com políticos e partidos para reverter a crise política.

 

Nas conversas analisadas na reportagem Folha-Intercept, Lula disse para algumas pessoas, incluindo seu advogado Cristiano Zanin Martins, o ex-ministro Franklin Martins e o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas, que não queria se tornar ministro e, ainda, que aceitava assumir o cargo por pressão das pessoas próximas.

“O tom foi outro nas conversas com políticos. As anotações da PF indicam que Lula expressou a todos entusiasmo com sua ida para o governo, apostando em sua capacidade de recompor a base de apoio a Dilma no Congresso e promover mudanças na política econômica”, prossegue a reportagem.

Na época, já se sabia que a gravação de conversa entre Dilma e Lula havia ocorrido depois da ordem judicial de interrupção das escutas telefônicas contra o petista. O fim da coleta de dados telefônico ocorreu às 11h12 do dia 16 de março de 2016, e a conversa em que Dilma liga para o celular de um dos seguranças de Lula foi às 13h32. A cópia do áudio foi anexada aos autos pela Polícia Federal às 15h37.

No diálogo, Dilma combinava a entrega do termo de posse de ministro a Lula “em caso de necessidade”. O ex-presidente concordou e acertou com Dilma que só tomaria posse na semana seguinte, no dia 22.

A reportagem Folha-Intercept ressalta que o impacto dessa última conversa foi imediato entre os procuradores da Lava Jato, ao contrário de outros telefonemas trocados entre Lula e políticos, incluindo com o então vice-presidente Michel Temer.

“Estao preocupados se vamos tentar prende-lo antes de publicarem no DOU [Diário Oficial da União] a nomeação do Lils [iniciais do nome completo de Lula]”, escreveu o agente da Polícia Federal Rodrigo Prado em um grupo com membros da força-tarefa da Lava Jato no Telegram.

 

O procurador Athayde Ribeiro da Costa respondeu concordando: “já é calro. mais isso demonstra ainda mais o desvio de finalidade da nomeação”. A transcrição das mensagens manteve a grafia original dos arquivos obtidos pelo The Intercept Brasil.

A hipótese de que Lula aceitava a nomeação como ministro para travar as investigações contra ele foi usada pelo então juiz da Lava jato para justificar o ato de tornar público o diálogo entre a então presidente

Dilma e o petista. Em despacho divulgado em 17 de março de 2016, Moro primeiro disse que “não havia reparado antes no ponto”, da conversa entre Dilma e Lula, mas também não via com “maior relevância” o diálogo.

“A circunstância do diálogo ter por interlocutor autoridade com foro privilegiado [Dilma] não altera o quadro, pois o interceptado era o investigado e não a autoridade, sendo a comunicação interceptada fortuitamente”, escreveu Moro.

“Nem mesmo o supremo mandatário da República tem um privilégio absoluto no resguardo de suas comunicações, aqui colhidas apenas fortuitamente, podendo ser citado o conhecido precedente da Suprema Corte norte-americana em US v. Nixon, 1974, ainda um exemplo a ser seguido”, continuou Moro que deixou a magistratura para assumir o Ministério da Justiça no governo Jair Bolsonaro (PSL).

Outras conversas mostravam, na verdade, que Lula estava empenhado em buscar uma reaproximação com Temer e o MDB. Em duas conversas captadas pela PF, os dois marcaram uma reunião e Lula disse a Temer que a rejeição enfrentada pelos políticos numa recente manifestação pró-impeachment mostrava que a Lava Jato colocava em risco todos os partidos, não apenas o PT.

 

“Embora os registros mostrem que os policiais prestaram atenção a todas as conversas do ex-presidente, o telefonema de Dilma foi o único que a PF anexou aos autos da investigação sobre Lula nesse dia antes que Moro determinasse o levantamento do sigilo do processo”, pontua a reportagem Folha-Intercept mostrando ainda que, logo quando obteve a conversa entre Lula e Dilma, o agente da Polícia Federal, Rodrigo Prada alertou os investigadores da Lava Jato.

Os procuradores registraram ainda preocupação com as consequências que Moro poderia sofrer por ter divulgado os grampos.

“Estou preocupado com moro! Com a fundamentação da decisão. Vai sobrar representação para ele”, disse o procurador Orlando Martello no Telegram.

“Vai sim. E contra nós. Sabíamos disso”, respondeu Carlos Fernando dos Santos Lima. Para a procuradora Laura Tessler, porém, a opinião pública iria garantir a proteção à força-tarefa da Lava Jato e Moro: “população está do nosso lado…qualquer tentativa de intimidação irá se voltar contra eles”, escreveu.

“Se acontecer algo com moro renúncia coletiva de MPF, pf e RF [Receita Federal]”, prosseguiu Orlando Martello. Mas Laura foi contra e sugeriu que a melhor resposta seria mover uma ação contra Lula e pedir sua prisão.

*Clique aqui para ler a reportagem da Folha-Intercept na íntegra.

FONTE: Jornal GGN



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