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César Oliveira - Crônicas

O território sagrado de ser pai

César Oliveira - 10 de Agosto de 2019 | 14h 34
O território sagrado de ser pai

A mídia já começa a anunciar - nesse longo Agosto-, o Dia dos Pais, menor em marketing e importância do que o Dia das Mães, o que, nos dias atuais, é inaceitável, motivo pelo qual exijo ser tratado igual a uma...mãe, na falta de alguém mais bem tratado.

Vez por outra, com os filhos longe, me pergunto se fiz as escolhas certas, se dei os exemplos adequados, se fui capaz de defendê-los como deveria, e libertá-los, como necessário. É que os tempos andam tão estranhos e os educadores de miolo mole embaçaram a figura paterna por uma igualdade politicamente correta, como se para compor um filho fossem melhor duas mães, afinal, o vendido é que masculinidade é tóxica, autoridade é ditadura, valores são relativos, e família não é importante, porque é disfuncional.

Sou de poucas lições, que não passo de um besta diante desse mundo, que até me envergonho. Na escassez, sinalizei o que pude: não tenham o que não puderem, não devam nada a ninguém, nem gastem tudo que tem, nunca se deixem dominar, sejam do bem, façam o que tem de ser feito, guardem a quem amam, tenham cuidado com o que não pode ser desfeito. Não é verdade que manga com leite faz mal, mas é verdade que tirar a colher da boca e botar em uma comida com molho, faz azedar. E que há coisas monumentais e imutáveis: o ciclo do sol e da lua, o fluxo das marés, a estreia da primavera. E filhos.

Sei que descobrirão que aqui e ali, viver, dói- a vida, e o amor, aprontam surpresas-, mas o otimismo é sempre melhor que o pessimismo. Tenham fé na bondade e resistam. Resistam que a vida vale a pena. As alegrias são maiores que as dores, o bem dos amigos é maior que o mal dos inimigos, a beleza é maior que a feiura, as decepções são menores do que os deslumbramentos da existência. Não fiquem só. Cuidem dos amigos, e façam sim um mundo melhor, sem medo, porque o medo é a armadilha dos sonhos. Nunca se recusem a dizer algo de bom a alguém, que a gentileza é um bálsamo. Durmam oito horas por dia, estudem, leiam. Ler foi meu fio de Ariadne, me guiou, e me deu os melhores momentos de minha vida. Eu nada seria sem as palavras. Nem pai.

Tenham filhos, que ter filhos, apesar de imprevisível, é o único milagre genuíno. E sejam seus cúmplices, mas sem abrir mão do que lhes cabe nesse latifúndio. Conte-lhes histórias- quem sabe aquela do barquinho medroso-, ensine que o trabalho não cansa, e realiza, e, mais tarde, que nem todos os vinhos são iguais. Ensine-os, embora a vida seja sempre inaugural para cada um, e um dia eles dirão ao próprio filho: seu avô dizia isso. E será a senha para permanecermos juntos.

Faça com que aprendam que a primeira coisa que se diz na casa do pai- ou Hakuna Matata-, é bom dia. E contemplem a vida como se fosse iluminada por mil faróis. Ela é. Sejam seus mirantes.

Por fim, um pedido. Cuidem daqueles ipês e flamboyants que plantei em nome de vocês, lá na roça- ao fim, sou só mais uma árvore de lá-, e quando eu tiver partido-espero que não cedo demais-, se puderem vez ou outra vão por lá na minha morada derradeira. Sentem no banquinho que vou deixar. Filho se puder toque uma música que amo lhe ouvir. Filha se você não errar o caminho, chegar lá, e vier uma lágrima, não se importe. Ela servirá para aquecer seu coração.

E onde estiver eu saberei que vocês fizeram de ser pai o terreno sagrado em que vale a pena pisar.



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