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André Pomponet

O El Niño e as variações climáticas feirenses

André Pomponet - 19 de Julho de 2019 | 20h 36
O El Niño e as variações climáticas feirenses

2019 é ano de El Niño. O fenômeno implica em temperaturas mais elevadas e em escassez de chuvas. Foi o que se observou na primeira metade do ano na Feira de Santana. Entre janeiro e o início de junho o calor foi, habitualmente, abrasador. Nas manhãs e tardes escaldantes – mesmo à noite a trégua era precária, porque o calor costumava se estender madrugada afora – o feirense penava até numa caminhada curta. A partir do fim da manhã e até as 16 horas o trânsito de pedestres caía sensivelmente.

O calor sufocante foi intercalado por trovoadas intensas. Boa parte das ruas da cidade – principalmente na periferia esquecida – alagou e, em algumas delas, a água ficou empoçada durante vários dias. Automóveis avançavam devagar nessas piscinas enlameadas e pedestres recorriam a contorcionismos para não enfiar o pé na água suja.

Quem labuta no campo ficou desorientado: alguns apostaram no momento exato para o plantio do milho e do feijão. Deram sorte e colheram. Outros, atrapalhados pelas trajetórias erráticas do estio e da chuva, escolheram um momento infeliz e viram a plantação definhar, sem safra. E junho chegou sob um calor intenso, incomum:

- Parecendo início de verão – Comentou um feirense, espantado com as incertezas climáticas.

Dias depois a temperatura caiu e chuvas encorpadas, alternadas por garoas, se sucederam dias seguidos. Os feirenses foram forçados a recorrer aos agasalhos que repousavam, ociosos, no fundo dos armários. Na noite de São João a chuva persistente saiu apagando fogueiras em Conceição da Feira, em São Gonçalo dos Campos, na própria Feira de Santana.

Aqueles que apreciam a luminosidade do inverno desfrutaram, até aqui, de escassas oportunidades de exercer essa contemplação em 2019. Desde junho o céu se apresenta plúmbeo, quando não chove; quando chove, resta apreciar a garoa prateada que, melancolicamente, se desprende do céu; noutros momentos, gigantescas nuvens encardidas encobrem a amplidão, restringindo o azul a nesgas eventuais.

Muitos reclamam do frio: no início da manhã é possível ver gente trajando agasalho, andando rápido, incomodada com as temperaturas mais baixas. No fim da tarde as reações são parecidas, quando todo mundo retorna do trabalho, da escola, dos demais afazeres.

Talvez o desconforto maior decorra das oscilações muito bruscas: o sol cálido – faz até algum calor – é sucedido por ventos, chuva e frio à noite ou pela manhã. O fato é que a constatação de muitos é que o tempo anda mudado: o calor insano não era comum, nem se prolongava tanto no passado; o mesmo vale para as chuvas: eram, no passado, mais bem distribuídas; e a sensação de frio não era tão desconfortável.

Porém, os arautos do futuro, no Brasil, asseguram que aquecimento global – que acarreta bruscas variações de temperatura – é balela, coisa de “marxista cultural”. Logo, preocupação com o meio ambiente é besteira, devaneio de maconheiro ou de gente mal intencionada, que pretende rifar nossas riquezas. É o que prega a sabedoria encastelada no Planalto Central.

O clima, aqui e em todo lugar, desmente, o tempo todo, o tosco raciocínio desses trogloditas. 



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