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André Pomponet

Barganha e conchavos garantiram mudanças na Previdência

André Pomponet - 11 de Julho de 2019 | 18h 34
Barganha e conchavos garantiram mudanças na Previdência

A aprovação da lesiva reforma da Previdência ontem (10) na Câmara dos Deputados mostrou o modus operandi da aclamada “nova política”: o mesmo dos regimes anteriores. Durante todo o processo houve muita barganha, muito conchavo de bastidor, muita liberação de emenda em troca de voto. Em síntese, o habitual toma lá dá cá que os timoneiros do novo regime tanto diziam que repeliam. O “mito” – Jair Bolsonaro –, espertamente, terceirizou a tarefa e manteve distância física do balcão. Certamente para conservar a aura de “mito” junto aos acólitos mais entusiasmados.

Só quem perdeu foram os trabalhadores, particularmente aqueles que ganham menos. O “combate aos privilégios” se mostrou um engodo: as corporações policiais, por exemplo, até ampliaram suas regalias: vão se aposentar com pouco mais de 50 anos e receber salário integral, benefício que até tinha sido revogado no mandato de Dilma Rousseff (PT), para quem ingressou depois de 2013.

Os militares das Forças Armadas também ampliarão seus privilégios, mas numa “reforma” posterior. Com certeza manterão salários integrais e o direito de se aposentar com menos de 50 anos. O próprio presidente da República é o retrato desse desconchavo: aposentou-se com 33 anos, migrando dali para a mamata parlamentar de quase três décadas. Mas são carreiras que preservam “especificidades”, novo sinônimo para mordomia.

Com determinadas castas mantendo seus privilégios, quem vai arcar com o custo? Quem labuta no dia-a-dia, ganha pouco e só vai desfrutar de alforria aos 65 anos, no caso dos homens e 62 anos, se mulher. O peso recai, principalmente, para quem milita na iniciativa privada e, obviamente, ganha menos. Nada que espante: é o retrato do Brasil desde que aqui aportou Cabral.

Tarefas pesadas e arriscadas na iniciativa privada não tem “especificidades”, como alegaram os áulicos do novo regime em defesa dos amigos. Operadores de máquinas, mecânicos, eletricistas, agricultores familiares e ambulantes, por exemplo, não desfrutam de “especificidades” e vão, portanto, labutar até os 65 anos. 

Caso se aposentem, enfrentarão uma redução nos benefícios que as castas privilegiadas não vão encarar. Afinal, figurarão no cálculo da aposentadoria todo o histórico de contribuições e não apenas as 80% maiores, como é hoje. Engambelados, muitos acreditaram na lorota de que os mais pobres não seriam afetados pelas mudanças.

De qualquer forma, os efeitos danosos só serão percebidos lá adiante. Na década que se aproxima, aliás, virão à tona os horrorosos desdobramentos de tudo que foi orquestrado nos últimos anos: teto de gastos, revogação da legislação trabalhista e, agora, reforma da Previdência.

Os donos do poder apostam no Estado policialesco que está se recompondo, sorrateiramente, como contraveneno para eventuais surtos de insatisfação da população no futuro. Pode não dar certo: o arrocho vai ser imenso e o discurso de que o paraíso liberal nos aguarda no horizonte próximo vai se desgastar.

Mas isso ainda está distante. O que há, por enquanto, é o êxtase vil, impudente, dos que ganham com a reforma.



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