Para sexta-feira (14) está prevista a primeira greve geral no governo Jair Bolsonaro (PSL-RJ). O ato tem uma pauta específica, contra a draconiana reforma da Previdência em tramitação no Congresso Nacional. O noticiário informa que a mobilização vai alcançar, inclusive, os profissionais do transporte – o que nem sempre costuma acontecer –, certamente amplificando seus impactos. Diversos segmentos já indicaram, há dias, que vão aderir.
Há, porém, motivos adicionais para a população ir às ruas. Um deles é a situação econômica: projeções apontam para um ínfimo crescimento de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2019. O desemprego e a pobreza não param de crescer, mas, pelo que se percebe a redentora contrarreforma da Previdência e a liquidação do patrimônio público a preço de banana são as únicas medidas disponíveis no cardápio do novo regime.
No domingo (09) o descalabro galgou mais um degrau, com a divulgação de conversas nada edificantes do até anteontem todo-poderoso ministro da Justiça, Sérgio Moro, pelo site The Intercept. Começou a ruir o mito do baluarte da moral que alguns, apressados ou desatentos, vinham cultivando há tempos. Isso, seguramente, vai contribuir para a efervescência das ruas.
Por outro lado, os que pelejam pela revogação do direito à aposentadoria anotaram um gol de placa: encalistrados, governadores do Nordeste – aqueles que muita gente, sensível às primeiras impressões, classificava como de “esquerda” ou “oposição” – resolveram abraçar a contrarreforma da Previdência divulgando uma carta.
Para manter as aparências, supostamente impuseram quatro condições. Uma é não retirar da Constituição os itens que tratam da Previdência, o que facilitaria mexidas posteriores; outra é não impor o ruinoso regime de capitalização individual, que não deu certo em lugar nenhum; as demais são não mexer nas regras da aposentadoria rural e do Benefício de Prestação Continuada (BPC), como pretendiam os oráculos da economia.
As duas últimas medidas representam afagos a parcela importante do eleitorado desses políticos. Em comum, as quatro medidas têm um elemento essencial: nenhum delas impacta sobre os cofres estaduais. Logo, nossos generosos governadores se sentiram à vontade para propalar a disposição benemérita, ocultando que a dádiva será bancada pela União.
É claro que essas medidas são importantes e vão atenuar, sobre parcelas específicas da população, o impacto terrível dessas mudanças. Mas e os 40 anos de contribuição para ter direito ao valor integral da média dos 100%? E a desvinculação do auxílio-doença da Previdência? E o tratamento generoso às Forças Armadas? Nenhuma palavra. Sinal que apoiam. Ou, depois, vão dizer que não?
Vamos aguardar como vão se posicionar os deputados, nossos valorosos representantes, que não serão afetados pelas medidas, muito pelo contrário.