É muito grande o efetivo de aves na região da Feira de Santana. Só o município – um dos maiores produtores da Bahia – conta com 2,121 milhões de animais, de acordo com o Censo Agro 2017, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE. Mas não é só a Feira de Santana que conta com um efetivo expressivo: a vizinha Conceição da Feira tornou-se referência e, lá, o mesmo levantamento contabilizou 3,433 milhões.
Essa pujança, porém, não se esgota nesses dois municípios: há, pelo menos, mais um grande destaque, São Gonçalo dos Campos, com 2,036 milhões de aves, além de Irará – naquele município são 835 mil cabeças – e Coração de Maria, com mais 811 mil. No total, o Portal do Sertão – unidade de planejamento empregada pelo Governo do Estado composta por municípios do entorno – soma 10,478 milhões de aves, segundo o mesmo levantamento do IBGE.
Muito desse dinamismo decorre da implantação de grandes empresas do setor aqui na região, a partir de meados do século passado. Nem é preciso gastar saliva ressaltando a importância dessas organizações na geração de postos de trabalho na região, inclusive constituindo alternativa de geração de renda para pequenos produtores.
Não sei se a produção da região de Feira de Santana também é remetida para os mercados externos, mas o fato é que o Brasil é um dos grandes exportadores mundiais de frango. Entre esses clientes estão os países árabes que – por preceitos religiosos – não consomem carne suína, priorizando o frango como fonte de proteína animal. Constituem, portanto, um atraente mercado importador.
O anúncio de que o Brasil pretende reconhecer Jerusalém como capital de Israel – movido por uma risível motivação que enrosca o Estado em questões religiosas – pode levar os países árabes a suspender as importações, em retaliação à medida. Já houve, inclusive, um movimento inicial. Mas os impactos podem ser muito mais significativos.
Caso o governo Jair Bolsonaro (PSL) persista na excentricidade – mais uma entre tantas nesse início de mandato – o impacto sobre o segmento tende a ser enorme, com reflexos inclusive sobre a economia feirense. Afinal, o fechamento de mercados lá fora tende a ampliar a oferta interna, reduzindo preços, margens de lucro e conduzindo à redução da produção, penalizando os atores do segmento, inclusive afetando a própria economia da Feira de Santana.
Milhares de postos formais – o que há de melhor no mercado de trabalho – foram fechados na região a partir da crise econômica deflagrada pela desastrosa gestão de Dilma Rousseff (PT). A recuperação, até aqui, não passou de retórica. Caso o governo persista na decisão de inspiração religiosa, a tendência é que a situação da economia fique ainda pior por aqui, sobretudo porque atinge um dos segmentos mais estruturados da economia local.